Com as escolas como alvos, florescem os esquemas de segurança nos EUA

Após ataque a tiros na Flórida, empresas de blindagem e tecnologia reforçam propaganda

Um abrigo balístico concebido para proteger alunos de um tornado agora serve também de refúgio em caso de ataque a tiros em uma escola de Healdton, Oklahoma
Um abrigo balístico concebido para proteger alunos de um tornado agora serve também de refúgio em caso de ataque a tiros em uma escola de Healdton, Oklahoma - Nick Oxford/The New York Times
Tiffany Hsu
Nova York | The New York Times

A melhor maneira de proteger uma escola de um atirador é ter um detector de metal. Ou portas que possam ser trancadas por controle remoto. Ou robôs que rastreiem o Twitter em busca de ameaças. Ou pranchetas, quadros e mochilas à prova de balas.

É o que diz o grupo de empresas, em rápido crescimento, que vendem equipamento de segurança para escolas. Elas intensificaram seu marketing para autoridades de segurança nas escolas depois do ataque a tiros no mês passado em um colégio em Parkland, na Flórida. 

Mas enquanto os distritos escolares repensam sua segurança e tentam aumentar seus orçamentos, eles têm pouca orientação de órgãos do governo ou grupos de consumidores independentes sobre que equipamento realmente protegeria seus alunos.

Lawrence Leon, o chefe da polícia escolar no distrito escolar do condado de Palm Beach, na Flórida, disse que recebeu milhares de ofertas por email desde o tiroteio em Parkland. “Vi de tudo, de trancas para portas a aplicativos, análises e detectores de metal, e ainda não revi todos.”

As escolas eram geralmente consideradas um porto seguro do mundo exterior até 1999, quando dois estudantes da escola secundária de Columbine, no Colorado, massacraram uma dúzia de estudantes e um professor. 

No final de 2012, um atirador matou 20 crianças da primeira série e seis adultos na Escola de Ensino Fundamental Sandy Hook, em Connecticut. Desde então, mais de 400 pessoas foram alvejadas em escolas de todo o país. 

A segurança nos campi se tornou um mercado em crescimento. No ano passado, as vendas de equipamento e serviços de segurança ao setor de educação chegaram a US$ 2,7 bilhões, contra US$ 2,5 bilhões em 2015, segundo dados da IHS Markit. Depois do tiroteio em Parkland, a demanda está crescendo.

“Hoje haverá muitos dólares de verbas enviados aos distritos escolares sem muita supervisão”, disse Curtis Lavarello, diretor-executivo do Conselho de Defensoria da Segurança nas Escolas, um provedor de treinamento. “Não há padrões nacionais em termos de produtos para segurança nas escolas.”

Todo mês de julho, o grupo realiza uma conferência e exposição sobre o assunto que normalmente atrai cerca de 80 expositores e 700 convidados. Neste ano, depois de Parkland, as inscrições quase superaram 120 empresas e mil visitantes.

A conferência anual de segurança escolar realizada pela Associação Nacional de Policiais de Recursos Escolares atraiu 622 participantes em 2011, 733 em 2014 e 923 no ano passado. 

Imagens de câmeras de segurança em sala de controle de escola fundamental em Healdton, no estado de Oklahoma
Imagens de câmeras de segurança em sala de controle de escola fundamental em Healdton, no estado de Oklahoma - Nick Oxford/The New York Times

APARATOS

As opções de segurança são muitas: leitores de mãos, barricadas móveis, detectores de calor, rádios de comunicação, kits antitrauma, treinamento de resistência a atiradores ativos e outros. 

No outono, a Escola Cristã da Flórida, em Miami, começou a vender painéis balísticos de US$ 120 para os estudantes colocarem em suas mochilas. Em uma exposição de armas em Tampa, na Flórida, no fim de semana passado, administradores e pais rodearam um estande que vendia painéis semelhantes por quase US$ 200 cada. 

O mercado de armaduras corporais civis foi avaliado em US$ 72,2 milhões em 2016 e deverá mais que duplicar até 2024, segundo a Grand View Research. Richard Soloway, executivo-chefe da Napco Security Technologies, que fabrica sistemas de software de segurança, disse em um chamado a investidores em 5 de fevereiro que a segurança nos campus é uma “oportunidade significativa”.

Mas Heather Schwartz, que estudou tecnologia de segurança para a Rand Corp., disse que a pesquisa sobre o que realmente funciona é “realmente fraca”.

“Não há muitas evidências que ajudem os distritos a avaliar as opções antes de investir em sistemas caros”, disse ela. “Há muita fome para que alguma fonte autorizada de terceiros reveja essas opções.”

Com frequência, as escolas reagem de modo reflexivo depois de tiroteios em escolas, adotando tecnologias e serviços como um gesto simbólico, disse Lavarello.

“Neste momento, você sente pena das crianças que perderam a vida e procura algo rápido, qualquer coisa”, disse ele. “O diretor quer dizer aos pais: ‘Vejam, eu coloquei detectores de metal e guardas armados’.”

Mas produtos como um escudo dobrável com tiras, chamado Bodyguard Blanket, e um spray de pimenta com controle remoto são longe de infalíveis, disse Lavarello.

Ele disse que sua equipe realizou recentemente uma avaliação de segurança em uma escola perto de Denver que gastou US$ 600 mil para colocar filme à prova de balas em todas as janelas do campus. 

Os administradores não perceberam que o filme impediria que os estudantes presos lá dentro quebrassem o vidro para escapar em uma emergência. 

Grupos de defensoria concentrados em segurança escolar, muitos deles fundados por parentes de vítimas de ataques a tiros, tentam oferecer orientação a administradores de escolas na forma de listas de checagem e atualizações de programas locais. 

O Instituto Nacional de Justiça, uma agência do governo, administra um programa que testa a eficácia de armaduras corporais oferecidas no comércio. 

Erroll Southers, um professor de políticas públicas e diretor do Instituto de Comunidades Seguras na Universidade do Sul da Califórnia, disse que todas as escolas devem no mínimo ter seus campi avaliados para riscos de segurança. 

Ele até propôs que as companhias de seguros recompensem as escolas que fizerem avaliações de segurança com um prêmio mínimo. “As escolas devem ser tratadas como estruturas críticas”, disse ele. 

Alguns campi começam a depender de ajuda externa, como doações de famílias, empresas do bairro e clubes de cidadãos. Uma empresa prometeu doar a receita de suas mochilas à prova de balas para as vítimas de Parkland e suas famílias. 

 

PROJETOS DE LEI

Vários projetos de lei que buscam financiar os esforços de segurança nas escolas estão tramitando no Congresso.

Sandy Hook foi reconstruída em 2016 usando uma doação de US$ 50 milhões do estado de Connecticut. Ela tem janelas à prova de balas ao lado das portas das classes, paredes interiores reforçadas e paisagismo que serve como barreira fora do prédio. 

Outras escolas levantaram dinheiro emitindo títulos e, no caso de Terry Shaw, o superintendente da escola de Healdton, em Oklahoma, correndo uma maratona para ganhar patrocínios de empresas. 

O distrito de Shaw, no centro da região de tornados, gastou inicialmente mais de US$ 100 mil para instalar sete abrigos na escola elementar para proteger os alunos de tempestades com ventos.

No ano passado, dois outros abrigos foram acrescentados à escola média, onde devem servir de esconderijos em caso de tiroteio. O site do distrito tem um link para um vídeo em que Shaw testa um abrigo sentado lá dentro enquanto o exterior é atacado com armas semiautomáticas e explosivos. 

“Estamos tomando decisões críticas sobre a melhor maneira de protegermos nossos alunos”, disse ele. “Cada distrito escolar é diferente, e há tantas questões que você começa a ver que é difícil ter um único conjunto de diretrizes.”

Alguns dias depois do tiroteio em Parkland, autoridades escolares de um condado vizinho, Miami-Dade, organizaram uma longa lista de medidas de segurança para o campus.

O distrito escolar, o quarto maior dos EUA, atualmente recebe US$ 9,5 milhões da Flórida para manter seus campi seguros. Mas agora o superintendente, a presidente do conselho escolar, o prefeito e outros líderes estão pedindo mais US$ 30 milhões para “recursos humanos qualificados, inteligência artificial e estratégias baseadas em tecnologia”, segundo uma carta enviada a legisladores estaduais no mês passado. 

O plano de Miami-Dade inclui redes de vigilância com vídeo, portas com travamento automático, planos de pisos digitais, amplos sistemas de comunicação em massa e janelas resistentes a balística. O condado também quer mais policiais de recursos escolares e serviços de saúde mental.

Na terça-feira (27), o governador da Flórida, Rick Scott, um republicano, falou à imprensa sobre a necessidade de financiar os programas de segurança nas escolas.

“Temos de investir em detectores de metal, (...) em vidros à prova de balas, (...) em portas de aço, (...) em travas mais modernas”, disse ele. “Temos de fazer o possível para ter certeza de que alguém que queira prejudicar algum de nossos estudantes nunca mais consiga fazer isso.”

Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

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