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estados unidos kim jong un

Encontro com Trump é vitória estratégica de ditador norte-coreano

Se aceitar ditador numa negociação, americano está dizendo ao mundo que aceita seus termos

O presidente dos EUA, Donald Trump, e o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, acenam em eventos em seus respectivos países
O presidente dos EUA, Donald Trump, e o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, acenam em eventos em seus respectivos países - Jim Watson - 8.jan.2018/KCNA - 13.jan.2018/AFP
Igor Gielow
São Paulo

Se tudo não acabar em uma grande farsa, um encontro entre Donald Trump e Kim Jong-un será uma vitória estratégica do ditador norte-coreano.

Obviamente Trump poderá dizer que dobrou Kim com sua retórica belicista exercida ao extremo ao longo de 2017, quando ameaçou ir às vias de fato com a ditadura comunista asiática.

Mas o fato é que, caso seja confirmado o encontro entre os dois líderes, como anunciaram os sul-coreanos nesta quinta (8), os EUA terão passado o recibo definitivo à estratégia engendrada por Kim.

A lógica da dinastia da família Kim, à frente da Coreia do Norte desde o armistício da guerra com o Sul em 1953, sempre foi da autopreservação.

Foi assim quando namorou Washington em 1994, prometendo um acordo pacífico de suspensão de produção de mísseis e armas nucleares em troca de petróleo.

Com isso, foi garantido o poder interno da dinastia Kim em um momento de transição.

O fundador da pátria, Kim Il-sung, morreu naquele ano, e seu herdeiro político, Kim Jong-il, assumiu e logrou ludibriar os americanos até 2002, quando deixou o acordo já fortalecido.

Em 2006, explodiu a primeira bomba atômica do país. Seu filho, o atual ditador Kim Jong-un, passou por um processo de consolidação de poder semelhante desde que assumiu, em 2011.

A gestão Trump, que assumiu em 2017 e prometeu "fogo e fúria" contra Kim, encontrou como resposta um aumento da qualidade e da intensidade do preparo nuclear da ditadura.

O resultado é, como tudo que envolve ambos os personagens, algo burlesco.

Os EUA sabem que a Coreia do Norte está no mínimo perto de ser a potência nuclear que diz ser —isto é, poder destruir uma cidade americana ao menos, ou muitas cidades de seus aliados próximos (Coreia do Sul e Japão).

Se realmente aceitar Kim numa negociação, que teoricamente teria de ocorrer na China para agradar a todos, Trump está dizendo ao mundo que aceita os termos do ditador e que o considera um déspota respeitável.

Isso dito, o presidente americano sempre poderá dizer a seu público que dobrou o militarismo do tigre de papel norte-coreano sem precisar devastar o país numa guerra imprevisível.

Resta agora saber se as aparências traem algo da realidade, e entender o papel do chinês Xi Jinping, patrono de Kim, no enredo.

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