Centenas de pessoas nos arredores de Washington já sabiam há semanas a programação para a noite da última sexta: uma festa do cartaz.
Foi o esquenta oficial para a manifestação pelo controle de armas nos Estados Unidos, que vai ocorrer neste sábado (24), a partir das 13h de Brasília.
Por toda a cidade, grupos de estudantes, pais e ativistas organizaram pequenas reuniões para desenhar e escrever em cartolinas a serem levadas ao protesto –que pretende reunir 500 mil pessoas na capital americana, e outras milhares em marchas paralelas pelo país.
O movimento é liderado por estudantes e sobreviventes do ataque numa escola da Flórida, em fevereiro, em que morreram 17 pessoas.
Entre as demandas do grupo, estão o banimento de fuzis automáticos para civis nos EUA (frequentemente usados em massacres pelo país); o aprimoramento da checagem de antecedentes para compradores de armas, inclusive em vendas online ou feiras de usados; e o fim das vendas de cartuchos de grande capacidade.
“Nós somos a geração que vai acabar com essa violência, porque não aguentamos mais”, disse à Folha o estudante Quincy DuBois, 15, que se reuniu com outras 15 pessoas em uma casa próxima a Washington.
Ao lado do pai e da mãe, que também irão ao protesto, ele desenhava com canetinha a frase que escolheu para seu cartaz: “Apenas parem de nos matar”. DuBois tinha cinco anos quando começou a receber os primeiros treinamentos contra ataques a tiros na escola.
Em inglês, o procedimento é chamado de “lockdown”, ou confinamento: trancam-se as portas das salas de aula, abaixam-se as cortinas e os alunos se recolhem embaixo das carteiras ou num canto o mais distante possível da porta. “Eles nos falavam que era para quando um ‘homem mau’ entrasse na escola”, lembra.
FUZIS
Na mesma festa, o estudante Colton Hoynoski, 17, desenhou um fuzil automático sob um sinal de proibido em sua cartolina –do mesmo tipo que foi usado no massacre na Flórida. “A principal medida é proibir esse tipo de arma”, afirmou. Morador da zona rural no interior da Virgínia, ele é um dos poucos que defende restrições à posse de armamentos em sua escola.
Quando perguntava aos colegas se iriam à marcha, respondiam: “Que marcha?”. A família de Hoynoski tem armas em casa. Seu pai é militar e sua mãe costumava caçar, além de se defender de ursos e outros animais –assim como outros moradores da região. “Eu acho que proibir totalmente as armas não funcionaria totalmente no nosso país”, diz o estudante. “Mas é preciso fazer algo.”
A mãe de Colton, Kelly Hoynoski, 54, é funcionária da escola –e consegue ver a porta de entrada do colégio de sua mesa. “Eu tenho medo todos os dias, e todos os dias eu penso onde me esconderia e como iria salvar os alunos se alguém armado entrasse por ali”, contou, às lágrimas.
“É apavorante, porque é uma possibilidade real.” Todos irão em família à marcha, que começa às 13h de Brasília. Em São Paulo, um grupo de americanos programou um protesto paralelo às 10h, em frente ao consulado dos EUA.
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