Descrição de chapéu Itália

Ex-militante de esquerda, ultranacionalista pode ser novo premiê da Itália

Matteo Salvini tem plataforma anti-imigração e é contrário à permanência do país no euro

O líder da Força Itália, Silvio Berlusconi, à esq., enxuga a testa do líder na Liga, Matteo Salvini, durante entrevista coletiva em Roma
O líder da Força Itália, Silvio Berlusconi, à esq., enxuga a testa do líder na Liga, Matteo Salvini, durante entrevista coletiva em Roma - Alberto Pizzoli/AFP
 
Diogo Bercito
Madri

Eis uma pista para quem quiser saber o que Matteo Salvini pensa sobre política: buscar respostas em seu torso.

O líder ultranacionalista de 44 anos, que pode ser o próximo premiê da Itália, passou a campanha vestindo camisetas estampadas com os slogans de seu partido, a Liga.

A sigla integra a aliança de centro-direita que recebeu a maior parte dos votos nas eleições de domingo (4), razão pela qual se espera que ele tente formar um governo nas próximas semanas.

Uma das camisetas de Salvini, por exemplo, estampava a frase "interrompa a invasão". Era um repúdio explícito à onda migratória de que o país é um dos focos desde 2015. Há hoje ali 180 mil pedidos de asilo e refúgio aguardando apreciação. O fenômeno monopolizou o debate eleitoral.

Em outra camiseta, o populista exibiu os dizeres "não às sanções à Rússia", outra de suas plataformas. Assim como o Movimento 5 Estrelas (legenda mais votada individualmente no domingo), a Liga defende uma reaproximação entre Roma e Moscou.

Uma terceira vestimenta de Salvini trazia a mensagem "chega de euro", moeda que ele já descreveu como "crime contra a humanidade".

Essa seleta do figurino dele explica, em parte, por que o resto da União Europeia observa com temor sua ascensão. Se virar primeiro-ministro, ele deve reforçar o discurso nacionalista e protecionista nesta que é a quarta maior economia do continente.

Salvini nasceu em Milão, no norte italiano, onde militou em movimentos de esquerda antes de se filiar à ala jovem da Liga. Sua guinada à direita é explicada pelas crises econômicas e pela crescente importância do tema da migração no debate político.

Em 2004, elegeu-se para o Parlamento Europeu, feito que repetiu em 2009. Nas fileiras da Casa, Salvini se aproximou de outros movimentos populistas de direita, como a Frente Nacional francesa, de Marine Le Pen, e reforçou seu próprio status dentro da Liga.

SECESSÃO

A agremiação foi criada nos anos 1990 como Liga Norte, um movimento nacionalista pela secessão do norte. Por décadas, seus líderes descreveram as demais regiões como terras tomadas pela pobreza e pela máfia. O próprio Salvini disse em um vídeo, certa vez, que napolitanos cheiravam mal.

Mas a chegada dele à liderança do partido em 2013 levou a uma drástica mudança de imagem: o movimento se espraiou até o sul do país e abandonou o discurso separatista. O mote escolhido para essa operação em escala nacional foi a aversão aos migrantes e à União Europeia.

Salvini conquistou eleitores com a mensagem populista, emotiva e direta que os outros partidos não ofereceram. Foi assim que conseguiu desbancar inclusive o ex-premiê Silvio Berlusconium dos ícones da política italiana das últimas duas décadas— como principal voz conservadora.

Salvini e Berlusconi integram a coalizão de centro-direita que arrebanhou 260 das 630 cadeiras da Câmara. Dessas, a Liga de Salvini garantiu 124, 20 a mais do que o Força Itália do companheiro.

Como o acordo entre eles era de que o mais votado lideraria as negociações para formar um governo, a tarefa caber a Salvinina quarta (7), Berlusconi reafirmou seu compromisso com o trato.

PRESIDENTE DEFINE

O processo deve começar após a inauguração do Parlamento, em 23 de março, e depende da nomeação de Salvini pelo presidente Sergio Mattarella, que também pode optar por Luigi Di Maio, líder do campeão das urnas 5 Estrelas (229 cadeiras na Câmara, 112 no Senado).

Um dos desafios do chefe da Liga, caso tente formar um governo, será encontrar aliados que não se incomodem com seu discurso extremo.

Ele já sugeriu, no passado, haver aspectos positivos no fascismo. Também disse que a presença de migrantes instigava a violência e ameaçou retirar a Itália da Otan (aliança militar ocidental).

Enquanto aguarda essa definição, Salvini comemora a vitória. Na terça-feira, ele publicou uma foto sua com uma taça de vinho e dedicou o brinde a seus inimigos.

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