Descrição de chapéu U2

Investigação aponta má conduta em organização humanitária de Bono

ONG ONE Campaign recebe denúncias de sexismo e abuso de poder

O cantor Bono, da banda irlandesa U2. - AFP
Juliete Linderman
AP

A instituição humanitária ONE Campaign, que tem como cofundador e porta-voz o roqueiro Bono, da banda U2, reconheceu seu "fracasso institucional" após a realização de uma investigação interna que revelou um padrão de abuso e má conduta entre lideranças em seu escritório de Joanesburgo, na África do Sul, entre 2011 e 2015.

Criada em 2004, a organização não governamental, cujo slogan é "Ações. Falam. Alto", tem como principais lutas a erradicação da pobreza e prevenção de doenças, majoritariamente no continente africano. 

Em carta aberta divulgada em seu website na sexta-feira (9), o CEO Gayle Smith afirmou que funcionários do escritório sul-africano sofreram bullying e foram intimidados por seus gerentes. Os depoimentos feitos pelos colaboradores durante a investigação afiram que um supervisor os obrigava a trabalhar como recepcionistas em festas aos fins de semana em sua casa.

A carta ainda diz que uma funcionária alega que um gerente fez comentários sexistas e de teor sexual sobre ela a um oficial do governo. Ela teria sido rebaixada depois de se recusar a fazer sexo com o dignitário.

Smith, que se juntou a instituição em março de 2017, disse que os responsáveis pela ONE Campaign ficaram sabendo dos testemunhos no momento em que ex-colaboradores compartilharam queixas nas mídias sociais, em novembro do ano passado. Foi com base nisso que a organização deu início a uma investigação interna.

As acusações de assédio sexual até agora não foram confirmadas, escreveu Smith. Mas enfatizou que a organização não "descarta nenhuma alegação".

Os investigadores montaram uma lista de reivindicações de bullying e assédio apontando para um gerente de Joanesburgo, que se referia a integrantes de sua equipe como "idiota", "estúpida" e "sem valor". 

O relatório também descobriu que os gerentes executivos foram informados sobre os abusos através de e-mails e queixas arquivadas pelo departamento de recursos humanos, mas não conseguiram detê-los.

"Nossa investigação coletou evidências suficientes para eu concluir que precisávamos dessa falha institucional para garantir que nossa organização estabelecesse os sistemas, políticas e práticas necessárias para que isso nunca mais aconteça", escreveu Smith.

Smith aproveitou a entrevista para dizer que ambos funcionários que alegaram o abuso e toda liderança e gerenciamento executivo envolvidos não estão mais com a instituição. 

A carta aberta da ONE Campaign surgiu após outras revelações de má conduta dentro de organizações sem fins lucrativos baseadas no Reino Unido. A instituição de caridade anti-pobreza Oxfam recentemente foi acusada de ter alguns funcionários saindo com prostitutas no Haiati, onde estavam desde o terremoto de 2010. 

O vice-diretor executivo da UNICEF, uma fundação de ajuda para crianças, renunciou recentemente depois de ter sido acusado de atuar indevidamente contra sua equipe feminina, enquanto trabalhava em uma instituição de caridade diferente, a Save the Children. Mais de 1.000 mulheres assinaram recentemente uma carta aberta pedindo maior responsabilidade em torno do assédio sexual no setor humanitário.

O CEO disse que implementou novos sistemas para ajudar a garantir a prestação de contas, incluindo a contratação de um novo diretor executivo para a África e planejando colocar um gerente de recursos humanos para cuidar da África do Sul. "Temos a obrigação de descobrir uma maneira de executar nossos serviços melhor", disse Smith. 

A assessoria da ONE Campaign disse que Bono foi alertado da investigação em novembro de 2017, pouco depois que alguns colaboradores acusaram a ONG em comentários nas redes sociais. 

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.