Israel quer pacto de segurança para elevar cooperação científica com Brasil

Estado judaico quer garantias de que ganhos tecnológicos não parem nas mãos de seus inimigos

Ministro israelense Ofir Anakis (ao centro) é recenbido em São José dos Campos, no Centro Nacional de Monitoramento de Alertas e Desastres, pelo coordenador Marcelo Seluchi (à esq.), com o cônsul Dori Goren e o embaixador Yossi Shelley (à dir.)
Ministro israelense Ofir Anakis (ao centro) é recenbido em São José dos Campos, no Centro Nacional de Monitoramento de Alertas e Desastres, pelo coordenador Marcelo Seluchi (à esq.), com o cônsul Dori Goren e o embaixador Yossi Shelley (à dir.) - Claudio Vieira / PMSJC
Carolina Vila-Nova
São Paulo

Israel quer expandir a cooperação em matéria de ciência e tecnologia com o Brasil, incluindo a possibilidade de transferência de tecnologia de defesa, e afirma estar nos últimos passos de negociação de um acordo de segurança com o governo brasileiro.

Mas quer garantias de que eventuais ganhos tecnológicos brasileiros, como armas e equipamentos militares, não vão parar nas mãos de países inimigos de Israel.

Deseja ainda um apoio político mais claro do país em âmbitos multilaterais.

O titular da pasta de Ciência e Tecnologia, Ofir Akunis, esteve no Brasil nesta semana na primeira visita oficial de um ministro israelense.

Em Brasília, assinou com o ministro Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia) o que disse ser o primeiro acordo bilateral de ciência, tecnologia e inovação. A meta é ampliar o trabalho conjunto em áreas como tecnologia limpa, água, espaço e satélites.

"A presença é boa, mas queremos que o futuro seja excelente", afirmou à Folha. Akunis esteve acompanhado do diretor de relações exteriores da Agência Espacial Israelense, Leo Vinovezky. Juntos, visitaram a Embraer, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) do Parque Tecnológico, em São José dos Campos (SP).

O Brasil é o quinto maior importador de armas israelenses, segundo o Instituto Internacional de Estocolmo para a Pesquisa da Paz. Tem presença no país, por meio de subsidiárias, a agência aeroespacial, a autoridade para o desenvolvimento de armamentos, empresas de tecnologia de segurança e outros.

"A cooperação em tecnologia de defesa já existe. E queremos muito mais", disse. "Estamos entre os 'top 10' em matéria de tecnologia espacial e de satélite. E sabemos que há muito interesse do Brasil nessa área", citou.

O acordo de segurança desenvolvido com o Ministério da Defesa sob Raul Jungmann (agora na Segurança Pública) está prestes a ser assinado, disse o embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley.

Há conversas ainda sobre um acordo de salvaguardas para uso do Centro Nacional de Alcântara (MA) para o lançamento de satélites.

A questão da transferência de tecnologia é algo sensível. Armamentos brasileiros já foram encontrados no Iêmen —país árabe sob embargo de armas da ONU que vive uma "guerra por procuração" entre Arábia Saudita e Irã, dois países que são considerados inimigos de Israel.

Segundo Akunis, o governo israelense vai analisar a cooperação caso a caso para impedir tais problemas.

"Vender armas para países que declaram que querem destruir Israel é ruim. Por exemplo, o Irã é hoje a força mais poderosa contra o mundo livre. Não são apenas contra Israel, mas contra todas as democracias, e o Brasil também é uma democracia."

NEGOCIAÇÕES

Akunis vê um novo momento nas relações entre Brasil e Israel. "Sou muito otimista. Não apenas pelo acordo de ciência e tecnologia; acho que algo aconteceu entre Brasil e Israel", diz. "A atmosfera melhorou muito, e acredito que isso vai incentivar empresas a fazerem negócios."

O presidente Michel Temer se reuniu com o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, às margens da última Assembleia-Geral da ONU, em Nova York. Quatro ministros brasileiros estiveram em Israel, entre eles o chanceler Aloysio Nunes, recebido pelo premiê em Jerusalém nesta semana.

Está em negociação uma visita de Netanyahu ao Brasil, provavelmente em junho.

"Espero que, por causa da melhora nas relações bilaterais e em nome desse futuro melhor que antevejo o Brasil também vote com a gente, por exemplo, na ONU, quando os palestinos pedem decisões contra Israel", disse Akunis.

"Esperamos que Brasil se alie a nós na defesa da verdade, e a verdade é que Jerusalém é nossa capital há 3.000 anos. Não é algo da nossa imaginação, mas um fato. Fico feliz de saber que nas últimas quatro votações o Brasil se absteve. É uma melhora. Está no caminho certo, mas queremos que o governo brasileiro vote conosco."

A posição histórica do governo brasileiro é o apoio à solução de dois Estados, reconhecendo a reivindicação tanto de israelenses quanto de palestinos por Jerusalém.

A respeito da sugestão do presidente palestino, Mahmoud Abbas, de que o Brasil integre as negociações de paz, Akunis disse preferir conversas diretas, sem mediador. "Mas a primeira coisa é que eles [palestinos] venham para a mesa de negociações."

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*O nome do embaixador de Israel no Brasil é Yossi Shelley, e não Shellen, como informado incorretamente na legenda da foto que acompanha este texto 

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