Itália aguarda decisão sobre formação de um novo governo

Coalizão de centro-direita e 5 estrelas, crítico ao sistema, disputam o comando do país

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Roma

Depois de os eleitores italianos terem decidido seu voto no domingo (4), cabe agora ao presidente Sergio Mattarella fazer sua própria escolha: quem ele vai incumbir de formar o próximo governo.

Será um complicado arbítrio, acompanhado pelo país e também pelos vizinhos europeus, pois nenhum partido conquistou a maioria necessária de 40% das cadeiras para governar sozinho. O processo pode levar semanas.

Matteo Salvini, líder da Liga, ao votar em Milão
Matteo Salvini, líder da Liga, ao votar em Milão - Piero Cruciatti/AFP

Mattarella tem duas opções prováveis. A primeira delas é encomendar um governo à coalizão de centro-direita liderada por Silvio Berlusconi, que teve 37% dos votos à Câmara e 37,4% ao Senado, segundo os resultados preliminares, que ainda precisam ser confirmados durante a segunda-feira (5).


A vantagem desta escolha é que, somada, essa aliança teve a maior parte dos votos. Mas não necessariamente é uma saída estável. Os dois principais partidos da coalizão, a Força Itália de Berlusconi e a Liga de Matteo Salvini, disputam a hegemonia.

Como Salvini surpreendentemente superou Berlusconi (17% contra 14% na Câmara), não há garantias de que os dois manterão a aliança. Em tese, Salvini deveria ser o candidato a premiê, de acordo com as regras dessa coalizão, algo que pode desagradar Berlusconi, acostumado a estar no centro da política italiana.

Berlusconi foi condenado por fraude fiscal e, inelegível, sua indicação de premiê é o presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani.

Nesta segunda (5), Salvini disse que a coalizão "ganhou o direito e o dever de governar" a Itália, sem esclarecer quem deveria comandar o país. 

A segunda opção de Mattarella é incumbir o 5 Estrelas, um movimento contrário ao sistema, de formar o governo. Esse partido foi o mais votado individualmente, com 32% dos votos à Câmara e 37% ao Senado.

O problema deste caso é que o 5 Estrelas a princípio descarta alianças, e tanto Berlusconi quanto o governista Partido Democrático já disseram que não vão se unir a sigla de protesto.

O que sobra ao 5 Estrelas, salvo surpresas, é se aliar à Liga —um partido de direita ultranacionalista. Seria algo insólito, além de preocupante à Europa, já que ambos são céticos quanto à União Europeia e ao uso do euro como moeda comum do bloco.

Em seu discurso nesta segunda, Salvini, líder da Liga, afirmou que a entrada do país no na moeda ínica foi um erro, mas descartou realizar um plebiscito para sair do euro. 

Mattarella pode ainda convocar novas eleições se todas as alianças lhe parecerem improváveis, mas isso não resolveria o problema.

É provável que mais uma vez os italianos elegessem um Parlamento dividido, sem uma maioria clara. A Alemanha viveu esse mesmo dilema desde as eleições de 24 de setembro, e cumpre agora as últimas etapas para ter um governo.

A Câmara italiana tem 630 cadeiras, e o Senado, 315, ambas com o mesmo poder.

Há 46 milhões de eleitores na Itália e mais de 4 milhões puderam votar no exterior, incluindo cerca de 400 mil que moram no Brasil. A contagem de votos na circunscrição da América do Sul ainda está em seu início e não é possível afirmar com certeza qual será o vencedor na região. 

Renúncia

Também nesta segunda, o líder do Partido Democrático (PD) e ex-premiê Matteo Renzi renunciou ao comando do grupo, que teve uma votação abaixo da esperada, com 19% dos votos.  

A sigla, fundada em 2007 a partir da união de diversos partidos de centro-esquerda, comanda o país desde 2013 e teve o pior resultado de sua história. 

"É óbvio que vou deixar a liderança do PD", disse Renzi, que defendeu que a sigla não faça um acordo com o que classificou de partidos extremistas, em referência à Liga e ao 5 Estrelas. "O povo italiano nos pediu para sermos oposição e é isto que vamos fazer", afirmou. ​

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