Itália usa várias frentes para atacar onda de 'fake news' na eleição

Escolas fazem cursos de alfabetização digital e governo abre serviço para denunciar desinformação

Com painel com nome de diversos meios de comunicação, o candidato da Liga Norte Matteo Salvini responde às perguntas em entrevista na Associação da Imprensa Estrangeira em Roma
Com painel com nome de diversos meios de comunicação, o candidato da Liga Norte Matteo Salvini responde às perguntas em entrevista na Associação da Imprensa Estrangeira em Roma - Alberto Pizzoli - 22.fev.2018/AFP
Diogo Bercito
Roma

Mais um país europeu realiza eleições nos próximos dias sob a sombra das notícias falsas e da possibilidade de uma interferência russa.

Como foi o caso na França e na Alemanha, no ano passado, a Itália teme que as "fake news" e as campanhas de Moscou influenciem o pleito de 4 de março, favorecendo partidos como o 5 Estrelas, que defende a remoção das sanções à Rússia.

O país tem implementado uma série de medidas, incluindo cursos de alfabetização digital em escolas para que alunos aprendam a diferenciar as notícias reais das falsas que hoje circulam nas redes sociais.

Também criou um serviço online para recolher denúncias de notícias falsas. Em um mês, a polícia recebeu 600 notificações; 130 peças de "fake news" são investigadas.

Parte dos esforços vem das próprias empresas que controlam as redes sociais, como o Facebook e o Twitter.

A companhia americana criou uma equipe para comprovar a veracidade das informações disseminadas às vésperas das eleições.

O cuidado, no entanto, não dissolveu o temor. O governo italiano publicou neste mês seu relatório anual sobre a segurança nacional, concluindo que as campanhas de desinformação são uma das maiores ameaças à democracia.

LAÇOS

Apesar dos alertas, a interferência russa é difícil de monitorar, medir e provar. O Laboratório de Pesquisa Forense Digital, ligado ao instituto americano Atlantic Council, enviou equipe a Roma para acompanhar e expor em tempo real a desinformação.

"Não vimos, por enquanto, esforços coordenados como em outras eleições", afirma o vice-diretor, Graham Brookie.

Uma das razões para isso talvez seja o fato de que a Itália tem laços históricos e econômicos com a Rússia mais estreitos do que outros países do oeste europeu. Nenhum dos partidos que disputam o governo tem uma postura agressiva a Moscou.

"O que temos visto nos últimos anos são laços fortes entre a Rússia e os partidos Liga e 5 Estrelas", afirma a analista Giovanna de Maio, que se dedica ao tema no centro de estudos German Marshall Fund.

As duas siglas são bastante críticas à integração dentro da União Europeia, no que favorecem a estratégia de Moscou. Beneficiam-se, por sua vez, do apoio político e da projeção internacional recebidos.

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