Negligência do governo contribuiu para série de incêndios em Portugal

Relatório expõe falhas de prevenção e combate às chamas; fogo matou mais de 100 pessoas

Bombeiro aparece sombreado entre chamas e fumaça de incêndio em Portugal
Bombeiro observa as chamas enquanto sua equipe tenta apagar o fogo em Cabanões, no centro-norte de Portugal, durante a segunda onda de incêndios no país de 2017, em outubro - Francisco Leong - 16.out.2017/AFP
Lisboa

Após mais de cinco meses de investigação, o Parlamento de Portugal recebeu o relatório da comissão independente de especialistas que analisou os incêndios florestais de outubro de 2017, que deixaram 49 mortos e um rastro de prejuízos milionários no centro e no norte do país.

O documento traz duras críticas à atuação dos responsáveis por prevenção e combate aos incêndios e crava algo que já se suspeitava: tratou-se da maior série de incidentes do tipo já registrada na Europa.

O relatório aponta uma combinação de adversidades meteorológicas com negligência das autoridades.

"O panorama vivido nestes dias, sobretudo no dia 15 de outubro, traduziu-se numa situação de dramático abandono, com escassez de meios, ficando as populações entregues a si próprias", diz o texto, assinado por 12 peritos em diferentes especialidades.

A comissão independente indica que muita coisa saiu errado no lado da prevenção. O grupo também afirma que não havia meios de combate suficientes, sobretudo aviões.

A tragédia de outubro aconteceu dias depois de peritos terem divulgado um relatório sobre um outro grande incêndio que atingiu Portugal em 2017, em Pedrógão Grande, em junho, quando 66 pessoas morreram.

Muitas conclusões sobre os dois incêndios são semelhantes. Em ambos, o crescimento desordenado de plantações de eucalipto e pinheiro, árvores que queimam com facilidade, foi um dos principais problemas apontados, assim como a falta de fiscalização da limpeza dos terrenos antes da estação quente e seca.

Os incêndios florestais de 2017 e suas mais de cem mortes diretas abalaram Portugal e criaram o primeiro problema sério para o governo do socialista António Costa, que foi cobrado a melhorar a legislação florestal e os meios de combate ao fogo.

A exploração política dos fogos ressurgiu com a apresentação do relatório sobre os fogos de outubro. Deputados do governo e da oposição trocaram farpas por causa do teor do documento.

O parlamentar de centro-direita Telmo Correia (CDS) acusou o governo de "erros que não podiam ter sido cometidos", especialmente depois dos incêndios de Pedrógão Grande.

De seu lado, deputados socialistas não se intimidaram: rebateram alegações de negligência vindas dos adversários afirmando que eles estavam fazendo uso político da tragédia.

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