Descrição de chapéu israel Binyamin Netanyahu

Netanyahu ensaia antecipar eleição em Israel para frear inquéritos

Acuado por processos e diante de delações de aliados, premiê busca tirar foco de investigações

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, fala com a imprensa após abertura de exposição na sede da ONU em Nova York
O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, fala com a imprensa após abertura de exposição na sede da ONU em Nova York - Brendan McDermid/Reuters
Daniela Kresch
Tel Aviv

Acuado por investigações de corrupção e diante da debandada de aliados, alguns dos quais convertidos em delatores, o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, pode antecipar as eleições gerais previstas para novembro de 2019, afirmam analistas.

O pretexto para isso seria o atrito entre dois partidos que formam a base de governo a respeito de uma lei que trata do alistamento militar de judeus ultraortodoxos.

"É uma falsa crise. Se Netanyahu quiser, resolve isso [o atrito] em dez minutos", disse o ministro da Educação, Naftali Bennet, do partido Casa Judaica (ultradireita).

O pontapé mais doloroso no premiê foi o acordo de delação premiada firmado na segunda (5) pelo braço-direito e confidente Nir Chefetz, considerado a "sombra" de Netanyahu e sua família.

Chefetz foi detido em meados de fevereiro sob acusação de envolvimento em um dos quatro em casos de corrupção de que o primeiro-ministro é acusado, apelidados pela mídia local de "1.000", "2.000", "3.000" e "4.000".

Após dias detido, Chefetz passou a colaborar com a investigação e a relatar o que sabe sobre o premiê —incluindo a influência da primeira-dama, Sara, e do filho mais velho, Yair, em decisões de importância nacional.

DECISÕES FAMILIARES

Em dois dos casos citados por Chefetz, ambos em julho de 2017, Netanyahu teria tomado decisões contrárias ao que à cúpula de segurança do país depois de consultá-los.

O primeiro foi a colocação de detectores de metal no Monte do Templo, sagrado para as três grandes religiões monoteístas, após um atentado promovido por palestinos. Após críticas de governos árabes, Israel recuou.

O segundo caso a decisão de divulgar de uma foto em que Netanyahu abraçava o oficial de segurança da Embaixada de Israel na Jordânia que matou dois cidadãos jordanianos após um deles atacá-lo. A divulgação piorou a crise diplomática com Amã.

"Netanyahu mostrou falta de responsabilidade nacional e tomou decisões que prejudicaram os interesses de Israel e a segurança nacional", disse Chefetz à polícia, segundo o jornal Yedioth Aharonot.

Chfetz foi assessor de imprensa de Netanyahu, e, nos últimos anos, se tornou um dos principais membros da círculo pessoal da família Netanyahu. Jornalista, chefiou as redações de veículos importantes no país como o Yedioth Aharonoth e o Maariv.

O depoimento também teria trazido detalhes que complicam a situação de Netanyahu em três investigações.

Além de Chefetz, outros dois aliados do premiê assinaram delações premiadas.

O ex-chefe de gabinete Ari Harow deu informações dos casos 1.000 e 2.000 em troca de ser condenado apenas por violação de confiança, e Shlomo Filber, ex-confidente e responsável pelo Ministério das Comunicações, contribuiu com relatos do envolvimento de Netanyahu no caso 4.000, tendo sua pena trocada por ação disciplinar.

O caso 1.000 investiga o recebimento pelo casal Netanyahu de itens de luxo, inclusive joias, do produtor de cinema israelense radicado nos EUA Arnon Milchan e do magnata australiano James Packer.

Já O 2.000 apura a suposta negociação com o dono do Yedioth Aharonoth, Arnon Mozes, de uma cobertura jornalística positiva em troca do cerceamento a uma publicação concorrente.

O caso 3.000 se refere a um contrato de US$ 2 bilhões para a compra de três submarinos do grupo alemão Thyssen Krupp.

Por fim, o 4.000 investiga uma segunda troca de favores com um veículo de comunicação, o site Walla, que faria uma cobertura positiva a fim de que o premiê interviesse para facilitar a aprovação de uma lei que beneficiaria outra empresa do mesmo grupo.

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