A troca de comando no Departamento de Estado não é encarada com muita preocupação pelo governo brasileiro, porque existe a percepção de que o órgão continuará a ter pouco poder no governo Trump, ainda que o novo secretário seja mais próximo do presidente americano.
O fato de o novo secretário de Estado, Mike Pompeo, ser um "falcão", mais agressivo em questões de defesa e segurança, desperta o temor de que a pauta americana para a América Latina seja dominada pela agenda negativa de tráfico de drogas, imigração ilegal e crime transnacional.
Mas, ao mesmo tempo, integrantes do governo brasileiro apontam que o Departamento de Estado sob Rex Tillerson estava tão esvaziado que o fato de Pompeo ser mais respeitado por Trump ao menos dará um pouco mais de força ao órgão supostamente encarregado de conduzir a política externa.
No âmbito multilateral, o novo secretário diverge da maioria dos pontos defendidos pela diplomacia brasileira e por Tillerson.
O ex-diretor da CIA é um cético em relação ao aquecimento global, enquanto Tillerson defendia a permanência dos EUA no Acordo do Clima de Paris. Pompeo quer sanções mais duras contra o Irã, ao passo que o em breve ex-secretário advogava pela manutenção do acordo nuclear com Teerã.
O novo secretário pode aumentar o alcance de sanções contra a Venezuela. O medo é Pompeo reforçar uma visão americana ainda mais condescendente em relação à região, de que a América Latina é o quintal dos EUA e deve se alinhar automaticamente com o vizinho do norte nos temas de defesa e segurança.
Os EUA continuarão encarando o governo do presidente Michel Temer como transitório e evitando contatos mais estreitos. Donald Trump irá a Lima em abril para a Cúpula das Américas e, de lá, seguirá para a Colômbia.
O vice Mike Pence e Tillerson estiveram na região, com escalas em Colômbia, Argentina, Peru e México, e também evitaram o Brasil.
O tema de maior interesse do Brasil no momento, as tarifas que os EUA vão impor sobre o aço e o alumínio, não está sob a jurisdição do Departamento de Estado —fica sob o guarda-chuva da Casa Branca, do Escritório do Representante de Comércio e do Departamento de Comércio.
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