A Rússia expulsou nesta quinta-feira (29) 60 diplomatas americanos e fechou o Consulado dos EUA em São Petersburgo, no oeste do país, em retaliação a medidas idênticas anunciadas pela Casa Branca na segunda (26).

A saída dos representantes de Washington abre um novo capítulo na crise diplomática decorrente do envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal e de sua filha, Iulia, no último dia 4, em Salisbury, na Inglaterra.

O Kremlin foi acusado pelo governo britânico de ser o mandante da ação, que Londres considera uma tentativa de homicídio com arma química (Novitchok) criada pelos soviéticos nos anos 1970.

O governo de Vladimir Putin nega e atribui as acusações a uma campanha anti-Rússia do Reino Unido, dos EUA e de seus aliados.

Na semana passada, Londres mandara embora 23 diplomatas russos, desatando réplica idêntica do Kremlin.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores russo informou que seu titular, Serguei Lavrov, notificou o embaixador americano, Jon Huntsman, de que os diplomatas terão de sair até 5 de abril e que o consulado deverá ser fechado no sábado (31).

"Convidamos as autoridades dos EUA que incentivam uma campanha mentirosa contra nosso país a voltar à racionalidade e pôr fim a ações impensadas que destroem relações bilaterais", diz o texto.

Segundo os russos, a escolha do consulado a ser fechado se deu por votação na internet, como havia sido prometido por Moscou após o anúncio do fim da representação russa em Seattle.

O Kremlin promete novas retaliações se o governo de Donald Trump continuar adotando "ações hostis".

Também adotará medidas idênticas em relação aos outros 25 países que expulsaram diplomatas russos em apoio aos britânicos.

Em resposta, a porta-voz do Departamento de Estado americano, Heather Nauert, criticou a retaliação e disse que Moscou não deveria agir como se fosse vítima. 

"As únicas vítimas são as que estão no hospital agora", afirmou."A Rússia se isola ainda mais com esse ataque químico descarado."

Sobre as acusações do Kremlin de se tratar de uma campanha anti-Rússia, Nauert chamou o país de mestre da propaganda. "A Rússia é conhecida por suas campanhas de desinformação, e acho que esta é mais uma."

DEBANDADA

Além de EUA e Reino Unido, o Canadá, a Austrália e países da Europa aliados de Londres e críticos a Moscou aderiram à retaliação. Foram 146 diplomatas expulsos. Outros sete foram retirados da representação da Otan, a aliança militar do Ocidente.

No Reino Unido, o governo também é pressionado a aumentar as sanções financeiras contra aliados de Putin e milionários russos que têm contas em bancos locais.

A primeira-ministra Theresa May prometeu ainda investigar 700 pessoas que receberam vistos de investimento, mas especialistas e opositores de Putin são céticos em relação ao avanço da medida, dada a magnitude do patrimônio dos russos no reino.

CRONOLOGIA Envenenamento de Serguei Skripal, em Salisbury, na Inglaterra, é o estopim para crise entre Rússia e outras nações

4.mar 
Serguei Skripal, ex-espião russo, e sua filha, Yulia Skripal, são envenenados com agente neurológico tóxico em Salisbury, na Inglaterra

14.mar 
Theresa May, primeira-ministra britânica, acusa a Rússia de envenenamento, expulsa 23 diplomatas e congela contatos diplomáticos de alto nível 

17.mar 
Como resposta, 23 diplomatas britânicos têm de deixar a Rússia. Moscou também cancela a abertura de um consulado britânico em São Petersburgo

26.mar 
Governos de 23 países, entre eles EUA, Canadá, Austrália e Noruega, expulsam diplomatas russos em retaliação ao envenenamento de Skripal

27.mar
Em apoio ao Reino Unido, a Otan (Organização para o Tratado do Atlântico Norte) expulsa sete diplomatas russos e diminui a delegação do país 

29.mar 
Consulado dos EUA em São Petersburgo é fechado e Moscou expulsa o número equivalente de diplomatas russos que tiveram de deixar outros países