Descrição de chapéu Rússia

Sanções dos EUA e da União Europeia forçaram mudanças na economia da Rússia

Putin reagiu a punições com impulso à agricultura e redução da dependência de petróleo e gás

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, visita o Centro Nacional de Grãos de Krasnodar, no sudoeste do país, na segunda-feira (12)
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, visita o Centro Nacional de Grãos de Krasnodar, no sudoeste do país, na segunda-feira (12) - Alexey Nikolsky - 12.mar.2018/Sputnik/AFP
Igor Gielow
São Paulo

Quando serve uma entrada incrivelmente aromática de peixes do mar Negro temperados com frutinhas silvestres e bastante endro, o garçom Sasha sorri e faz questão de dizer: "100% russo!".

Ele trabalha no restaurante LavkaLavka, surgido de uma cooperativa de produtores orgânicos da região de Moscou em 2009. Desde 2014, a procura pelo lugar explodiu, e o orgulho patriótico de Sasha embute um paradoxo russo.

As sanções ocidentais, impostas ao país após a reabsorção da Crimeia em 2014, foram respondidas com veto à importação de alimentos.

Assim, uma cena de restaurantes se consolidou nas grandes cidades, baseada numa rediviva procura por produtos locais —que substituíram importados nos mercados chiques. Neles, queijo brie francês agora é brie da região do Volga, e a Crimeia estrela latas de peixes defumados, roubando a vaga do produto italiano ­que custava o dobro.

O White Rabbit, do chef-celebridade Vladimir Mukhin (23º na prestigiosa lista mundial 50 Best), é o exemplo mais famoso, com um cardápio sazonal ligado às regiões russas.

"Sem as sanções, o governo teria reagido de forma diferente para enfrentar a queda no preço do petróleo. Teria emprestado para custear o déficit e defender o rublo, o que seria desastroso", diz Chris Weafer, consultor-chefe da Macro-Advisory, especialista em mercado russo.

Com elas, o governo revidou em 2015 deixando o rublo flutuar e banindo importação de alimentos de países que puniram a Rússia. A agricultura ganhou impulso, cuja face simbólica é a gastronômica, e levou o país a se tornar o maior exportador de trigo e açúcar do mundo em 2017.

A âncora verde ajudou a puxar o PIB, que caíra 2,8% em 2015, para o 1,5% de 2017. "Mas não é suficiente, porque a tendência é de crescimento baixo até 2020. Então Putin terá trabalho", afirma Weafer sobre o presidente que deverá se reeleger no domingo (18).

A diversificação da economia, antes apoiada na produção de petróleo e gás, é outro subproduto das punições. Putin rearmou o país surfando em um barril a US$ 100 em vários momentos, mas desde o fim de 2014 o preço despencou a até US$ 40.

Em 2013, hidrocarbonetos representavam 52% do orçamento, que se equilibrava projetando o barril a US$ 115. Em 2017, a fatia caiu a 40%, e para este ano as contas fecham com o barril a US$ 58 —a meta é chegar a US$ 40 em 2021.

Por outro lado, as sanções dificultaram a tomada de empréstimos e o ambiente de negócios. Cerca de 50 bancos devem fechar neste ano.

"Isso se reflete no crescimento baixo, que atinge o estilo de vida", diz Weafer. Por ora, o desemprego está sob controle, na casa dos 5%, e a inflação foi amansada a civilizados 2,5% em 2017.

Na mesa de Putin há dois planos antagônicos para revitalizar a economia: um, do ex-ministro da Fazenda Alexei Kudrin, prevê maior rigor fiscal; outro, do conselheiro presidencial e candidato ao Kremlin Boris Titov, vai na linha desenvolvimentista de aumento do gasto público.

"Putin é alinhado ao pensamento de Kudrin, mas terá de ver se haverá novas sanções e não pode descartar Titov por questões políticas", diz Weafer.

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