Sob chuva, mulheres protestam contra intervenção e discriminação no Rio 

Militantes se reuniram na Candelária; em Curitiba, grupo feminista criticou o juiz Sergio Moro

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Soldado faz patrulha em rua da Vila Kennedy, na zona oeste do Rio; intervenção é criticada pelas manifestantes no centro da cidade
Soldado faz patrulha em rua da Vila Kennedy, na zona oeste do Rio; intervenção é criticada pelas manifestantes no centro da cidade - Pilar Olivares/Reuters
Rio de Janeiro

Apesar de uma chuva forte e persistente no Rio na tarde desta quinta-feira (8), a marcha das mulheres reuniu diversas pessoas no centro da cidade. 

A Polícia Militar não faz estimativa de público, mas informalmente um policial relatou à reportagem que havia, às 18h, quase mil pessoas na praça da Candelária, no Centro. As organizadoras não deram também una estimativa. A área da praça estava quase toda tomada por participantes, que usam capas de chuva e guarda-chuvas para se proteger do mau tempo. 

Grupos de militantes, centrais sindicais, movimentos estudantis, partidos de esquerda e ativistas independentes ocuparam praça com pautas pela igualdade de tratamento entre gêneros e contra assédio e discriminação contra as mulheres. 

Foram ditas palavras de ordem contra a discrepância entre salários e oportunidades entre mulheres e homens, pela legalização do aborto e pela valorização da mulher negra.

Também houve manifestações de repúdio à intervenção federal no Rio, o governo do presidente Michel Temer e o impeachment de Dilma Rousseff e de oposição ao governo do Estado e da Prefeitura do Rio. 

A pauta da valorização e pelo fim do preconceito contra as mulheres negras era a bandeira do grupo Unegro, que tem representações por todo o país. 

Segundo a integrante Claudia Vitalino, 50, a mulher negra é duplamente oprimida na sociedade atual. Além dos dramas inerentes às mulheres em geral, explica ela, as negras ainda têm de lidar contra o racismo.

Vitalino defende que a luta unificada e importante para dar visibilidade às mulheres negras das periferias do país. 

"Enquanto as mulheres brancas lutavam, no século passado, pelo voto e por trabalho, as negras estavam lutando para existir", disse. 

Segundo ela, defender a mulher negra é também lutar pela juventude da periferia. Nesse aspecto, o Rio é tido como ponto importante, já que concentra população grande de negros em periferias onde a violência é via de regra.

Não raro, disse ela, o negro pobre é vítima do modelo atual de guerra às drogas, que dá prioridade ao combate ao tráfico de drogas no varejo em favelas.

"Lutar pelas mulheres pretas é ir contra o extermínio do povo negro nas cidades brasileiras. O feminismo, então, é também inclusão. As pautas são convergentes", disse. 

INTERPRETAÇÃO

A artista Marcela Fauth, 32, partilha de posição semelhante. Segundo ela, há uma compreensão equivocada da sociedade a respeito do feminismo. O principal erro de interpretação, explicou, é confundir feminismo como o equivalente feminino ao machismo. 

"Ao contrário, o feminismo prega a liberdade e a igualdade entre gêneros e, principalmente, o respeito às mulheres. Ninguém aqui quer impor aos homens os abusos que sofremos. Queremos essas atitudes machistas deixem de existir. O feminismo, então, é também o combate à desigualdade e toda a forma de discriminação".

Fauth distribuia cartazes às pessoas presentes. O que fez mais sucesso na marcha era o que dizia "feminismo é revolução". Outros cartazes distribuídos tinham mensagens como "vem pra luta amada" e "meu corpo, minhas regras". 

A artista disse ser a favor da legalização do aborto justamente por acreditar na autonomia do corpo feminino e pela liberdade de escolha. Ela argumenta que o aborto ilegal penaliza mulheres carentes que não têm acesso a clínicas que apesar de clandestinas são caras e de alta qualidade. 

"As mulheres que têm dinheiro abortam, enquanto as mais pobres não têm acesso ao procedimento e muitas morrem por conta de abortos mal feitos", disse. 

Sob chuva, a marcha saiu e ocupou a avenida Rio Branco, uma das principais do centro do Rio, às 18h20. 

Do carro de som, mulheres se revezaram nos discursos. Uma delas fez questão de repudiar ações de empresas que supostamente propagam a igualdade mas que não capturam as ideias defendidas pelo movimento feminino. 

Uma ativista puxou um coro de repúdio a rede de lanchonetes Mc Donald's, que nesta quarta colocou somente mulheres para atender aos clientes. A crítica era que até no dia das mulheres, elas foram colocadas para trabalhar no lugar dos homens.

A marcha terminou às 20h, na praça 15, sem incidentes.  

CURITIBA

Em Curitiba, a manifestação conta com o apoio de grupos como a CUT (Central Única de Trabalhadores), o MST (Movimento Sem Terra) e a Secretaria de Mulheres do PT-PR.

O grupo se concentrou no final da tarde na praça 19 de dezembro e agora segue até a rua 15 de novembro, acompanhado pela Polícia Militar. O trânsito foi fechado para a passagem do ato.

Os manifestantes entoam cantos como "Eu na rua é pra lutar por um projeto feminista e popular" e "Se cuida seu machista a América Latina vai ser toda socialista".

Do carro de som, as organizadoras criticam a proibição do aborto, a baixa representatividade das mulheres na política e as reformas trabalhista e da Previdência.

Na capital onde nasceu a Operação Lava Jato, mulheres da Secretaria de Mulheres do PT-PR escreveram em um cartaz um recado para o juiz Sergio Moro: "Moro seu ódio só faz crescer nossa luta".

Também levaram outro cartaz com os dizeres "Marisa Letícia: ela nos representa". Marisa, mulher do ex-presidente Lula (PT), morreu em fevereiro de 2017.

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