Descrição de chapéu

Traição de Trump não é crime, mas pagamento por silêncio pode ser ilegal

Vários políticos americanos se complicaram ao tentar encobrir casos extraconjugais

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
São Paulo

Muitos políticos americanos acabaram em maus lençóis não por traírem suas mulheres, mas por tentarem encobrir a traição.

Foi assim com Bill Clinton, John Edwards e, agora, pode acontecer com Donald Trump.

Atriz pornô Stormy Daniels e presidente dos EUA, Donald Trump
Atriz pornô Stormy Daniels e presidente dos EUA, Donald Trump - AFP

O presidente dos EUA não infringiu nenhuma lei ao manter uma relação extraconjugal com a atriz pornô Stephanie Clifford, mais conhecida como Stormy Daniels, em 2006.

Mas Trump pode ter violado a legislação eleitoral quando seu advogado, Michael Cohen, pagou US$ 130 mil a Clifford para que ela não revelasse o relacionamento com o presidente. O pagamento foi feito 11 dias antes da eleição de 2016.

A organização anticorrupção Common Cause protocolou uma denúncia junto à Comissão Federal Eleitoral afirmando que o pagamento para silenciar Clifford configura uma doação ilegal, o que pode levar a multas e prisão. 

Segundo a entidade, o dinheiro deveria ter sido contabilizado como doação de campanha porque "tinha o objetivo de influenciar a eleição de 2016".

Se o pagamento tivesse sido feito por Cohen em nome das organizações Trump, seria ilegal, porque empresas não podem doar para candidatos. No entanto, Cohen afirmou que "nem as organizações Trump, nem a campanha de Trump participaram".

Mesmo se fosse pessoal, a doação também seria irregular, porque cada indivíduo tem um teto de doação de US$ 2.700.

Caso Trump tenha reembolsado Cohen, também teria sido irregular, porque, apesar de o candidato poder fazer doações ilimitadas a sua própria campanha, ele é obrigado a declará-las.

De qualquer maneira, Cohen disse que não foi reembolsado. 

Na eleição de 2008, o senador democrata John Edwards teve um problema semelhante. Edwards disputou a primária do partido e era cotado para ser vice na chapa de Barack Obama.

O chefe da campanha de Edwards e um doador fizeram pagamentos a uma mulher que havia tido um filho com Edwards.

Edwards era casado e sua mulher passava por tratamento de câncer.

Ele foi indiciado por usar dinheiro da campanha para silenciar a amante e podia ter sido condenado a 25 anos de prisão e multa de US$ 1,25 milhão, mas acabou absolvido.

No caso de ex-presidente Bill Clinton, ele não se enrolou por ter feito sexo oral com a estagiária Monica Lewinski, mas por ter mentido. Em depoimento sob juramento no processo de assédio movido por Paula Jones, Clinton negou que tivesse mantido relações sexuais com Lewinsky.

Isso gerou acusações de perjúrio e obstrução de justiça, que levaram a Câmara a aprovar o pedido de impeachment contra Clinton em dezembro de 1998. Ele só não foi afastado, porque o Senado não aprovou o impeachment.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.