Quando concorreu às eleições italianas de 2013, a Liga Norte teve 4,1% dos votos. Neste domingo (4), esse partido ultranacionalista deve obter 14,8% e, em uma coalizão, pode governar o país.
Uma das explicações para a expansão é ter cortado o nome: a sigla hoje se apresenta como Liga, sem "norte". Assim, pode deslizar para o sul da bota e seduzir um eleitor que até então desprezava.
A Liga foi formada em 1991, afinal, como movimento separatista do norte, retratando o restante da Itália como uma terra de ninguém tomada pela pobreza e pela máfia.
A mudança é creditada à chegada de Matteo Salvini, 44, à liderança em 2013. Pego em uma gravação de 2009 dizendo que o cheiro dos napolitanos faz com que os cães fujam, Salvini teve de pedir desculpas pelas ofensas.
"O mundo mudou", disse à Folha Gianluca Cantalamessa, 50, candidato pela Liga em Herculano, cidade aos pés do Vesúvio, no sul. "Antes não tínhamos refugiados, atentados ou o euro", afirma.
"Já não existe mais o problema de distribuição de riqueza entre o norte e o sul da Itália. Hoje o problema é entre o norte e o sul da Europa."
Assim, em vez de sua demanda tradicional de separar o norte, a Liga agora enxerga um país só —um país afastado da União Europeia.
Esse discurso crítico ao bloco econômico convence o público. A coalizão de centro-direita de que a Liga integra deve ter 37,5% dos votos, segundo a pesquisa Termômetro Político de 17 de fevereiro.
Já o movimento 5 Estrelas, de esquerda, deve chegar a 26,3%, e o Partido Democrático, de centro-esquerda, a 21,3%. A sondagem foi feita com 4.500 pessoas de 12 a 16 de fevereiro. A margem de erro não foi divulgada.
RAIVA
Em seu escritório em Herculano, de 50 mil habitantes, o corretor de seguros Cantalamessa diz que decidiu concorrer neste ano porque tem raiva. "Os políticos do sul da Itália não estão preocupados com o bem da população, e isso arrasou a região", alega.
"Temos que defender nossa história cristã. Quero Jesus na classe dos meus filhos. Para mim, a família é homem e mulher", diz, listando os pontos de sua plataforma. Para a economia, quer privilegiar o "made in Italy" (tanto os produtos quanto as pessoas).
"Não sou racista", diz, ladeado por cartazes de campanha em que rejeita a entrada em massa de refugiados.
"Não acredito que a diferença entre as pessoas esteja na cor da pele. Só não é justo que um migrante custe mais ao Estado do que um aposentado italiano, e não é justo que o país empregue refugiados quando o desemprego entre menores de 25 anos nesta região chega a 50%."
Cantalamessa tem 20 pessoas na equipe e, nos últimos dias, não tem planos de fazer comício. "Prefiro coisas menores, apertar a mão das pessoas no mercado, olhar nos olhos", diz. Enquanto fala com a reportagem, eleitores entram no escritório para lhe desejar boa sorte.
Ele deve ser eleito deputado (é o único candidato da centro-direita em sua circunscrição) e ir para o Parlamento, mas é impossível prever em que governo vai legislar.
Nenhum partido deve alcançar a maioria necessária para governar sozinho, e as alianças são inescrutáveis.
A Liga poderia se unir ao 5 Estrelas, por exemplo, mas para isso seus líderes teriam de romper tabus e arriscariam alienar seu eleitorado.
"Temos um programa político claro", afirma Cantalamessa". "Quem estiver de acordo com nossas plataformas poderá se unir a nós."
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