Descrição de chapéu Governo Trump

Voto e armas automáticas viram alvo de marcha em Washington

Liderada por sobreviventes de ataque a escola na Flórida, marcha pediu engajamento pelo voto

Estelita Hass Carazzai
Washington

O adolescente Jaime Martinez, 15, só conhece as manifestações da década de 1960 pelos livros de história. Mas ele tem a certeza de que elas se parecem muito com o que viveu neste sábado (24), em Washington —quando milhares de pessoas se reuniram para pedir o controle de armas nos EUA. 

“Nós estamos fazendo história hoje”, disse à Folha, comparando o evento às passeatas que lutaram por direitos civis e pelo fim da Guerra do Vietnã. 

Liderada por estudantes que sobreviveram ao tiroteio numa escola da Flórida, em fevereiro, a marcha elegeu como alvo principal o banimento dos fuzis automáticos —e pediu o engajamento dos jovens pelo voto. 

“Nós temos, sim, uma voz, e vamos tomar posição em relação às armas”, disse o universitário Brennen Amonett, 20, morador do Kentucky. 

Em seu cartaz, um punho fechado se seguia à frase: “Nós iremos votar”. Voluntários ao longo da passeata promoviam o registro de estudantes para a eleição do fim do ano, quando serão eleitos novos congressistas. 

Horas antes do início oficial do evento, marcado para as 13h de Brasília, a avenida Pennsylvania, a poucas quadras da Casa Branca, já estava lotada de manifestantes. 

O presidente Donald Trump —criticado pela sugestão de armar professores, mas elogiado por propor o banimento, na véspera, dos “bumpstocks”, que aceleram o disparo de tiros em uma arma comum —não estava em Washington: viajara para sua propriedade na Flórida. 

Estudantes formavam a maioria do público, mas havia entre os manifestantes até mesmo republicanos, donos de armas ou habituais caçadores, prática tradicional em alguns estados americanos. 

“Eu cresci atirando em latinhas no sítio do meu avô”, contou Don Street, 66, nascido no estado do Wisconsin. O cartaz que carregava pedia o fim da venda de cartuchos de alta capacidade —uma das principais demandas dos manifestantes. “Caçadores de verdade não precisam de carregadores com 30 cartuchos”, dizia. 

Muitos adolescentes participavam pela primeira vez de um protesto, e falavam dos treinamentos contra tiroteios que são obrigados a fazer desde crianças nas escolas. 

“Eu nunca me posicionei por nada antes, mas isso me pareceu simplesmente a coisa certa a fazer”, disse Sarah Holloway, 22, moradora do Kentucky. 

Muitas crianças também marchavam junto com os pais, como as irmãs Maggie Perry-Moffit, 4, e Ally, 7. A primeira escolheu o desenho de um cocô para criticar as armas. A segunda dizia em seu cartaz: “Eu gosto de unicórnios, não armas”.

Os alunos da escola Marjory Stoneman Douglas, onde ocorreu o ataque de fevereiro, eram identificados por moletons de cor vinho e pelo símbolo da águia em suas camisetas. Recebiam abraços frequentes de outros manifestantes, que os elogiavam pela coragem. 

“Isso se tornou muito maior que nós”, disse à Folha a estudante Karen Villancio, 15, sobrevivente do massacre na Flórida. “Eu só espero que nunca mais aconteça.”

Erramos: o texto foi alterado

A tradução do cartaz do caçador Don Street estava incorreta ao trocar "carregador com 30 cartuchos" por "cartucho de 30 rodadas". O texto foi corrigido.  

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