Assembleia em Cuba indica Miguel Díaz-Canel para suceder Raúl Castro

Dirigente, que deve ser confirmado quinta (19), será o primeiro nascido após Revolução de 1959

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Raúl Castro (esq.) e Miguel Díaz-Canel, que deve substituí-lo como presidente do Conselho de Estado em Cuba, durante sessão da Assembleia Nacional
Raúl Castro (esq.) e Miguel Díaz-Canel, que deve substituí-lo como presidente do Conselho de Estado em Cuba, durante sessão da Assembleia Nacional - AFP
Isabel Fleck
Havana

Míguel Díaz-Canel, primeiro vice-presidente do Conselho de Estado, foi oficialmente indicado pela Assembleia Nacional nesta quarta-feira (18) o sucessor de Raúl Castro no governo cubano.

Em sessão que começou às 9h (10h de Brasília), a Comissão de Candidaturas Nacional apresentou sua proposta para a composição do novo conselho, com Díaz-Canel na sua presidência —cargo que representa o chefe de Estado e de governo de Cuba. 

Os nomes ainda precisarão ser confirmados no principal órgão Legislativo nesta quinta-feira (19), mas há pouco espaço para surpresas.

Díaz-Canel foi aplaudido de pé pelos pelos colegas e recebeu um aperto de mão e um abraço de Raúl.

Após quase 60 anos dos Castro no poder, Raúl deixará o governo nesta quinta, mas seguirá à frente do Partido Comunista Cubano (até 2021) e das Forças Armadas —postos que de fato ditam a política na ilha. A expectativa, portanto, é que Díaz-Canel siga sob o comando do general.

O mandato do Conselho de Estado —que é formado pelo presidente, primeiro vice-presidente, outros cinco vice-presidentes, um secretário e mais 23 membros (na última legislatura havia 25)— é de cinco anos.

Para primeiro vice-presidente, foi indicado Salvador Valdés; para os cinco cargos de vice-presidente foram indicados Ramiro Valdés, Roberto Tomás Morales, Gladys María Bejerano, Inés María Chapman e Beatriz Jhonson.

Aos 57 anos, Díaz-Canel é parte de uma geração que nasceu depois da revolução. Na nova composição da Assembleia Nacional, 87,6% também não tinham nascido quando o poder foi tomado a partir de Sierra Maestra.

É engenheiro eletrônico de formação, mas, assim que se formou, aos 22 anos, ingressou nas Forças Armadas Revolucionárias. Serviu por três anos e voltou para a universidade, onde além de lecionar, ingressou na UJC (União de Jovens Comunistas) local. Pela UJC, foi para a Nicarágua, em 1987, durante a Revolução Sandinista. Nunca exerceu a engenharia.

Quando regressou, dois anos depois, já se tornaria o dirigente da União de Jovens Comunistas de Santa Clara. Do comitê jovem, seguiu sua trajetória para o Partido Comunista, que o levaria a Havana em 2009, já como ministro da Educação Superior.

Ao seu perfil discreto se credita, em grande parte, sua ascensão dentro do regime.

Antes de anunciar os nomes para o Conselho de Estado, a presidente da Comissão de Candidaturas Nacional, Gisela Duarte Vázquez, lembrou que a proposta atendia ao desejo expressado pelo próprio Raúl Castro de deixar a presidência do conselho neste ano.

“Para a confecção das propostas, partimos, em primeiro lugar, do respeito à vontade manifesta do general do Exército Raúl Castro Ruiz, no sexto congresso do Partido, celebrado em abril de 2011, e reiterado em abril de 2016, no sétimo congresso, de que sua responsabilidade à frente do Estado e do governo se concluiria na eleição do novo conselho de Estado”, disse.

Ao chegar à sessão, Raúl foi aplaudido por quase um minuto pelos outros membros da Assembleia. Ao seu lado, já estava sentado Díaz-Canel.

A cerimônia, realizada no Palácio das Convenções —já que o prédio da Assembleia Nacional não comporta, em seu plenário, mais de 500 deputados— foi transmitida pela TV cubana, mas havia pouca comoção nas ruas com a transição. 

Às vésperas da troca no Conselho, nem mesmo os meios de comunicação cubanos, todos estatais, mencionavam diretamente a saída de Raúl. Apenas noticiavam, de forma muito breve, que a Assembleia Nacional se reuniria para votar o novo Conselho de Estado.  

A visão de que a saída de Raúl não trará mudanças é partilhada pela grande maioria da população cubana, tanto por críticos do regime quanto por pessoas próximas a ele. A própria Assembleia Nacional tentava promover na terça (17), nas redes sociais, a hashtag #SomosContinuidad (somos continuidade).

ELEIÇÕES

Os nomes do Conselho de Estado foram anunciados após a posse dos membros da Assembleia Nacional confirmados nas eleições de março. Um por um, foram lidos todos os 605 nomes dos integrantes da Assembleia, a começar por Raúl Castro, seguido de Díaz-Canel.

Depois, foram propostos os nomes para ocupar os postos de presidente, vice-presidente e secretário da Assembleia — movimento seguido de uma votação secreta para confirmar a proposta. Desta vez, todos os deputados seguiram a um local de votação reservado para preencher uma cédula e depositá-la na urna. Só esse processo durou mais de uma hora. 

As eleições em Cuba —de sistema unipartidário— começaram em 2017, com a escolha dos membros das assembleias municipais, em eleição direta e secreta. Depois, a Comissão de Candidaturas indicou a essas assembleias uma lista pronta com nomes dos candidatos às assembleias provinciais e à Assembleia Nacional. 

Em março, os cubanos foram às urnas apenas para confirmar essa lista para as assembleias provinciais e a Assembleia Nacional. Nesta última, eram 605 candidatos para as 605 vagas. 

Durante toda a manhã, os representantes dos órgãos envolvidos nas eleições e a TV cubana destacavam a alta participação do povo no processo e seu “caráter democrático”. 

Em sua fala, a presidente da Comissão de Candidaturas Nacional, Gisela Duarte Vázquez, ressaltou a “consciência política que predomina no nosso povo” e a “expressão de patriotismo” visto nas eleições de março.

Na TV cubana, o especialista Fabio Fernández, um dos entrevistados no intervalo da sessão, por sua vez, frisou que “Cuba tem apostado num modelo diferente, onde a pluralidade da sociedade, a variedade de ideias não se representa mediante a afiliação a diferentes partidos políticos”.

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