Conflitos no clã Fujimori cativam peruanos

Irmãos Keiko e Kenji protagonizam novo capítulo da novela, disputando a liderança do movimento antes chefiado pelo pai, o ex-presidente Alberto Fujimori

O completo clã Fujimori, em 1990: de pé, Hiro e Sashi; Kenji, sentado à esquerda do pai, Alberto, e Keiko, sentada à direita da então primeira-dama Susana Higuchi, em Lima
O completo clã Fujimori, em 1990: de pé, Hiro e Sashi; Kenji, sentado à esquerda do pai, Alberto, e Keiko, sentada à direita da então primeira-dama Susana Higuchi, em Lima - Palácio do Governo - 30.jun.90/AFP
Buenos Aires

No meio da crise que atravessa o Peru nos últimos meses e que causou a renúncia de Pedro Pablo Kuczynski (o PPK) no último dia 21, uma novela familiar segue cativando a sociedade desde os anos 1990, com impactos na política. Trata-se dos enfrentamentos entre os membros do clã Fujimori.

No próximo dia 16, esta novela terá um novo capítulo, quando o caçula do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), Kenji, 37, terá de se apresentar ao Ministério Público para prestar depoimento no processo que o promotor José Domingo Pérez move contra a irmã mais velha do clã, Keiko, 42.

Ela é acusada de ter recebido caixa 2 da empreiteira brasileira Odebrecht no valor de mais de US$ 1 milhão (R$ 3,4 milhões) em sua campanha presidencial de 2011.

Até hoje, Kenji vinha defendendo a irmã na esfera jurídica, embora os dois estejam afastados politicamente desde 2016. Porém, desde que Keiko revelou os chamados "kenjivídeos", que mostram o irmão tentando comprar votos de congressistas para tentar reverter a moção de vacância que iria ser votada contra PPK e cuja divulgação causou sua renúncia, Kenji se declarou em guerra contra a irmã.

Ele diz, por auxiliares e pelas redes sociais, que tem informação valiosa para a acusação contra Keiko.
Os Fujimoris são prato cheio para os numerosos tabloides consumidos com avidez no Peru, e as brigas internas do clã são assunto corrente nas ruas e redes sociais.

Nos anos 1990, o primeiro "barraco" familiar a causar comoção foi a relação entre Alberto Fujimori e Susana Higuchi, mãe de seus filhos. Em 1992, ela acusou o marido de haver desviado doações feitas pelo governo do Japão para a população mais pobre do país. Depois, disse que seu marido a torturava e que ela queria se candidatar a presidente.

Fujimori, então, mudou a Constituição para que cônjuges não pudessem fazê-lo. O divórcio veio em 1994, pouco antes de Fujimori ser reeleito.

Higuchi acabou sendo eleita congressista em 2001 e reaparecendo para apoiar a filha, ainda que discretamente, em suas campanhas.

Divorciado, Fujimori ungiu Keiko como seu delfim político. Ela assumiu o posto de primeira-dama e sempre foi a preferida do pai para liderar o fujimorismo depois da prisão do pai, em 2009, condenado a 25 anos por corrupção e crimes contra os direitos humanos.

Keiko passou a liderar os irmãos nas marchas pedindo o indulto ao pai. Também tomou as rédeas do partido fujimorista, o Força Popular, que dirige até hoje.

Sua derrota em 2011 para Ollanta Humala, porém, começou a distanciá-la da liderança do clã. Começou a haver uma disputa entre ela e Kenji, que queria ter sido o candidato nas eleições de 2016. Keiko deixou de pedir o indulto, por sabê-lo impopular para parte da sociedade peruana, e se lançou novamente à campanha, perdendo por pouco para PPK.

A então candidata a presidente Keiko Fujimori abraça o irmão, Kenji, em um comício em junho de 2016; os dois romperiam politicamente mais tarde
A então candidata a presidente Keiko Fujimori abraça o irmão, Kenji, em um comício em junho de 2016; os dois romperiam politicamente mais tarde - Mariana Bazo - 2.jun.16/Reuters


Um dos votos que não tiveram foi justamente o do irmão. Dias depois, da cadeia, Alberto Fujimori lançou uma reprimenda a Keiko, por ter sido derrotada duas vezes nas urnas.

Desde então, começaram a se formar dois grupos dentro do Força Popular, que tinha então mais de 70 deputados —o dos aliados deKeiko e o dos aliados de Kenji, um dos deputados com mais votos do partido, e que passou a ter a bênção do pai.

A cisão de verdade veio no dia da votação pela moção de remoção do cargo de PPK, impulsada por Keiko, em dezembro. Em segredo, Kenji já havia começado a ter conversas com o então presidente, prometendo-lhe apoio em troca do indulto ao pai. Foi o que ocorreu. 

PRÉ-CANDIDATOS

A disputa continua, uma vez que os dois irmãos já se declararam pré-candidatos para as eleições de 2021.
Em uma de suas poucas aparições públicas recentes, Alberto Fujimori diz que torce para a reconciliação de seus filhos e a "continuidade do movimento". Para ele, porém, o preferido para liderar a força já não é Keiko, e sim o líder dos "Avengers".

A disputa favorece o novo presidente, Martín Vizcarra, que já não vê no fujimorismo uma força monolítica.

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