Crescimento da violência assusta Londres

Total de homicídios em 2018 já supera 50; ataques a faca representam maioria das ocorrências

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De roupa branca, mulher carrega bolsas em sua mão esquerda e estende sua mão direita com uma rosa vermelha, apontando para um policial em área cercada por fita; de casaco amarelo fluorescente e papéis na mão, policial se aproxima
Mulher leva flor para homenagear adolescente de 18 anos que foi vítima de homicídio em Hackney, no leste de Londres - Stefan Rousseau/PA/Associated Press
Londres

Uma série de crimes registrados durante a última semana, especialmente na noite de quinta-feira (5), deixou ao menos dois mortos e sete pessoas feridas e acendeu um alerta sobre o crescimento da violência em Londres.

Em uma cidade que costuma se projetar como uma das metrópoles mais seguras do mundo, e onde quase não há incidentes com armas de fogo, a alta de crimes tem criado preocupação. A onda pressiona a polícia e gera críticas contra o governo da primeira-ministra Theresa May.

"Houve uma clara mudança no estado de espírito da cidade. Não diria que as pessoas estão com medo, não é nada parecido com o Brasil, mas todo mundo está mais em alerta", diz o consultor de política e direito Ben Sadek, 27.

Nascido no subúrbio de Londres, Sadek vive no norte da capital inglesa, mas passou duas temporadas na favela da Rocinha, no Rio (2013 e 2015), para fazer pesquisas.

Apesar de o governo inglês já estar atento a ataques a faca, em alta desde o ano passado e que ocorrem em média 15 vezes por dia em Londres, a quinta-feira chamou a atenção por causa do intervalo curto entre os episódios. Em 95 minutos, seis esfaqueamentos foram registrados.

A maior parte dos casos envolve ataques a faca, mas nesta semana a crise se agravou com tiroteios em que dois adolescentes morreram.

A piora do quadro levou a polícia a convocar para sexta (6) uma reunião de emergência com líderes comunitários.

Enquanto isso, 40 parlamentares trabalhistas acusaram May de ignorar o problema e exigiram que ela intervenha pessoalmente contra a violência.

Os políticos da oposição dizem que cortes no financiamento da polícia podem estar relacionados ao aumento da criminalidade.

Ainda assim, a chefe da polícia londrina, Cressida Dick, negou que as forças de segurança tenham perdido o controle da situação.

"Estamos fazendo um trabalho muito bom. Temos sido muito resistentes. Após cada um desses terríveis acontecimentos, a cidade tem conseguido continuar seus negócios por causa do bom policiamento", disse.

Segundo o consultor Sadek, o sentimento da população londrina em relação à violência lembra o gerado pelos ataques terroristas de 2017.

"Estamos todos nos sentindo um pouco menos seguros, mas não chegamos a nos sentir totalmente inseguros. Sabemos que há violência e que há risco, mas que ainda é muito pouco provável que sejamos vítimas de algo assim."

NY-LON

Com a alta nos índices de violência, a taxa de homicídios de Londres em fevereiro e março deste ano foi maior que a de Nova York pela primeira vez na história moderna.

As duas têm populações de tamanho semelhante, de cerca de 8,5 milhões de pessoas, excluindo outros municípios da região metropolitana.

Houve 15 assassinatos em Londres em fevereiro contra 14 em Nova York, segundo a Polícia Metropolitana de Londres e o Departamento de Polícia de Nova York.

Em março, 22 assassinatos foram investigados na capital inglesa, contra 21 na maior cidade americana.

Os assassinatos desta semana elevaram para 50 o total de mortos em ocorrências violentas na capital inglesa.

Apesar da comparação momentaneamente desfavorável, os crimes com armas de fogo ainda são um problema muito menor no Reino Unido, já que o país tem leis de controle de armas mais rígidas do que os EUA —e a maioria dos policiais britânicos não trabalha armada.

O Ministério do Interior do Reino Unido disse que estuda propor novas leis para restringir ainda mais as armas perigosas, incluindo na legislação a interdição de que lojas online entreguem facas a endereços residenciais, por exemplo.

CAUSAS

Por mais que não haja consenso a respeito do que está na raiz da atual onda de violência, analistas apontam para cortes em gastos com a polícia e no financiamento de programas assistenciais.

Segundo o criminologista Anthony Gunter, da Universidade de East London, o 'boom' da criminalidade em Londres está associado à política de austeridade do governo.

Em entrevista à BBC, ele disse que cortes no financiamento para programas educacionais voltados a comunidades pobres estão ligados ao aumento dos crimes.

"Em vez de considerar a violência entre jovens um problema exclusivamente de criminalidade, isso deveria ser tratado como um risco à saúde, como o uso de drogas, os atos de fumar e beber ou o sexo sem proteção", afirmou Gunter.

Em uma análise semelhante, Sir Peter Fahy, que chefiou a polícia de Manchester, criticou os cortes em gastos do governo britânico.

"Há uma forte ligação entre jovens excluídos da escola e os que acabam cometendo crimes violentos. Em áreas em que há um alto nível de criminalidade, há um alto nível de privação social", disse ele à BBC.

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