Cubanos querem gastos de turistas americanos de volta

Em 2016, 284,6 mil americanos visitaram a ilha, número três vezes maior do que em 2014

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Isabel Fleck
Havana

Da loja de suvenires em que trabalha, em Habana Vieja, a cubana que se identifica como Tania, 46, acompanha os navios de cruzeiro que atracam no porto da cidade. Sabe de cor os dias que chegam os americanos: às terças e quintas. 

A frequência é menor do que a do ano passado, quando dia sim, dia não chegavam cruzeiros vindos dos EUA abarrotados de turistas. Os que vêm agora nem chegam com sua total capacidade.

“É uma pena, a gente sentiu muito o impacto”, disse a cubana, nesta segunda (16). “Esse [navio] que está aí hoje é europeu, e europeu não compra como o americano.”

Turista passa por pôster com imagens de Raúl Castro e de Barack Obama, em Havana, em 2016 - Yamil Lage - 17.mar.2016/AFP

O sentimento é generalizado entre quem trabalha no setor em Havana: os turistas americanos, que tomaram a cidade depois do acordo de aproximação firmado entre os dois governos em 2014, fazem falta.

Os últimos dados oficiais divulgados pelo governo cubano são de 2016, quando 284,6 mil americanos visitaram a ilha — número três vezes maior do que em 2014. Ainda não há um registro oficial sobre a visível queda dos americanos nos últimos seis meses.

Em 2016, os EUA subiram para a terceira posição no volume de turistas, ultrapassando a Alemanha e ficando atrás apenas do Canadá e da comunidade cubana no exterior. Uma estimativa não oficial coloca o número de turistas americanos em 2017 em 620 mil.

Após o anúncio do presidente Donald Trump de que cancelaria o acordo com Cuba, em junho, o que se viu foi uma volta das restrições para os americanos que viajavam a turismo para a ilha. 

A partir de novembro, apenas americanos que viajarem com uma organização patrocinando ou em grupos, como de universidades, com objetivo de intercâmbio cultural ou educacional com cubanos —o que significa incluir no itinerário programações assim— podem visitar o país.

“O impacto foi muito forte para quem trabalha com turismo”, lamenta o taxista Martín Pérez, que gostava das gorjetas dos americanos.

Especialistas destacam que a queda no número de americanos afeta mais os cubanos que têm e trabalham em pequenos negócios. Uma das reformas implementadas por Raúl Castro permitiu a abertura de negócios próprios no setor de turismo, como restaurantes e táxis. 

“O declínio dos turistas americanos prejudicou as pequenas empresas privadas porque os americanos eram mais propensos a entrar em pequenos grupos e ficar nas cidades, em vez de nos balneários [como Varadero]”, afirma William LeoGrande, especialista em Cuba da American University, em Washington. 

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