Descrição de chapéu

De início à vontade, Mark Zuckerberg tropeça em 'monopólio' do Facebook

Senadores se perdem em falta de conhecimento, mas tiram que site é 'responsável por conteúdo'

São Paulo

​​Ao vivo por canais de notícias, sites de jornais e de tecnologia, o depoimento de Mark Zuckerberg em Washington agradou Wall Street desde logo.

"Senadores 'fritam' [grill, no original] Zuckerberg", anunciava a barra de informações da CNN desde o início. Porém, o que se via e ouvia era diferente.

As ações do Facebook dispararam em Nova York, fechando com alta de 4,5%, para desagrado da repórter do Observer que revelou o escândalo da Cambridge Analytica e que tuitou com ironia, sobre a Bolsa: "Muito bem, senadores...".

As "perguntas leves", quando não "idiotas", exasperaram também Kara Swisher, a jornalista de referência do Vale do Silício, hoje no site Recode.

Naquelas primeiras horas, os senadores se voltaram para questões de informação, que abriam caminho para Zuckerberg dar longas respostas, com segurança e até condescendência.

Chegou a elogiar perguntas. E, num dos momentos ilustrativos da baixa pressão ambiente, o presidente da comissão sugeriu chamar intervalo, mas o empresário recusou, satisfeito com a própria performance.

Zuckerberg nos primeiros minutos aparentou tensão, com o semblante acuado e juvenil, mas logo se firmou, tratado com deferência. Não precisou fazer o juramento —e no depoimento, quando dizia não saber e prometia a resposta para depois, os senadores aceitavam e mudavam de assunto.

Também ele se mostrou reverente ao Senado. O figurino foi padrão, terno azul, camisa branca, gravata azul, contrastando com os "hoodies", moletons com capuz que usa como marca.

E Zuckerberg estava bem treinado e escudado, com o vice-presidente Joel Kaplan e a diretora Myriah Jordan imediatamente atrás.

Os senadores, além de desconhecimento e complacência, se perdiam em partidarismo, com os republicanos obcecados com a suposta perseguição política pelo Facebook, e os democratas, mais com a Rússia.

Mas aos poucos começaram a extrair do empresário frases como "Concordo que somos responsáveis pelo conteúdo" —ou seja, o Facebook aceita, enfim, que pode responder legalmente por aquilo que publica, como todo "publisher".

Logo depois, ele acordou para o que havia falado e acrescentou que ter responsabilidade pelo conteúdo não torna a plataforma um veículo jornalístico.

A entrada em cena de senadores como o republicano Dan Sullivan e a democrata Kamala Harris, familiarizados com o Vale do Silício, elevou cada vez mais o peso das perguntas e críticas.

Zuckerberg chegou a estar tão à vontade que se permitiu fazer piadas ou quase. Mas o momento em que conseguiu mais reação foi na resposta inadvertidamente cômica, ao ser questionado pelo republicano Lindsey Graham se o Facebook não é um monopólio.

"Com certeza não parece ser assim, para mim", declarou o fundador e presidente da plataforma, para risadas incontidas da plateia.

Sullivan, posteriormente, partiu do tropeço de Zuckerberg sobre a questão para ameaçá-lo implicitamente com a divisão da empresa em pedaços, por ter se tornado "grande demais".

 
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