Em resposta a Trump e Macron, Irã diz que não aceita mudar acordo nuclear

Presidente Hassan Rowhani disse que Paris e Washington não têm direito de alterar o tratado

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Londres, Berlim, Bruxelas e Teerã | Reuters, AFP e Associated Press

O presidente iraniano, Hassan Rowhani, descartou nesta quarta-feira (25) fazer mudanças no acordo sobre o programa nuclear do país, em uma resposta às declarações feitas na terça (24) pelos presidentes dos Estados Unidos e da França pedindo alterações no tratado. 

A proposta de alteração feita por Paris e Washington também foi criticada pela União Europeia e pela Alemanha —um dos países que assinaram a resolução em julho de 2015, ao lado do próprio Irã, da China, do Reino Unido e da Rússia, além de França e EUA. 

O presidente do Irã, Hasan Rowhani, durante seu discurso nesta quarta (25)
O presidente do Irã, Hasan Rowhani, durante seu discurso nesta quarta (25) com críticas a proposta de EUA e França - Atta Kenare/AFP

"Junto com um líder de um país europeu, eles afirmam: 'Nós queremos decidir sobre um acordo alcançado entre sete partes'. Para que? Com que direito?", questionou Rowhani em um discurso em Tabriz, norte do Irã, em referência a Donald Trump e Emmanuel Macron.

"Querem decidir sobre o futuro [do acordo]? Então terão de nos explicar o que fizeram até agora para aplicá-lo", afirmou Rowhani.

Durante a visita oficial do francês a Washington na terça, a dupla disse que esperava alcançar um novo acordo com Teerã sobre o programa nuclear. A posição de Macron foi recebida com surpresa, porque ele já tinha defendido o atual tratado em ocasiões anteriores. 

"Eu falei com Macron diversas vezes por telefone e uma vez pessoalmente. Eu disse a ele claramente que nós não vamos nem incluir nem retirar nada, nem mesmo uma frase. O acordo nuclear é o acordo nuclear", disse Rowhani. 

"Enquanto nossos interesses estiverem garantidos, vamos continuar no acordo, esteja os EUA nele ou não", afirmou. "Mas se nossos benefícios não forem garantidos, nós não continuaremos no acordo, não importa as circunstâncias".

Desde que chegou à Casa Branca em janeiro de 2017, Trump critica o acordo concluído durante o mandato de seu antecessor Barack Obama. Ele deu um ultimato aos sócios europeus até 12 de maio para endurecer o texto, que contempla limitações ao programa nuclear iraniano em troca de um alívio às sanções financeira contra Teerã.

Ao lado de Macron, o presidente americano classificou o tratado como terrível, insano e ridículo na terça. 

Rowhani criticou diretamente Trump por estas declarações. "Você não tem conhecimento em política. Não tem conhecimento de lei. Não tem conhecimento de tratados internacionais. Como pode um negociante, um comerciante, um construtor de torres fazer julgamentos sobre assuntos internacionais", disse o iraniano. 

Apoio

Também nesta terça, diversos líderes expressaram apoio ao atual acordo, com a Alemanha afirmando que ele não pode ser renegociado, mas por ser ampliado.

"O acordo nuclear foi negociado por sete países e a União Europeia e não pode ser refeito. Mas é claro que além do acordo nuclear, nós queremos garantir que o programa nuclear iraniano sirva exclusivamente a propósitos pacíficos", disse um porta-voz do Ministério de Relações Exteriores do país.

Ele disse que Berlim está analisando as propostas feitas por Macron e que elas poderão ser implementadas caso Teerã concorde. 

A primeira-ministra britânica, Theresa May, também expressou apoio as ideias do francês e afirmou que elas poderão resolver questões que não são cobertas pelo acordo atual. 

Já a chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, disse que a prioridade é manter o atual tratado e que ainda é cedo para debater mudanças. "Sobre o que pode acontecer no futuro, veremos no futuro. Mas há um acordo que existe, que está funcionando e precisa ser preservado", disse Mogherini.

A Rússia também expressou o desejo de preservar o acordo, para o qual "não há alternativa", nas palavras do porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov.

"O acordo em seu estado atual é fruto dos esforços diplomáticos de muitos Estados", disse o porta-voz, antes de completar que a pergunta é se "é possível na situação atual refazer um trabalho que tenha tanto êxito".

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