Facebook faz esforço para mudar imagem

Em contatos com imprensa durante a semana, seu fundador, Mark Zuckerberg, usa a palavra 'responsabilidade' 14 vezes

Em combinação de fotos, o executivo-chefe do Facebook, Mark Zuckerberg (esq.), e a diretora de operações da empresa, Sheryl Sandberg
Em combinação de fotos, o executivo-chefe do Facebook, Mark Zuckerberg, e a diretora de operações da empresa, Sheryl Sandberg - Getty Images/AFP
Hannah Kuchler
Do Financial Times, em São Francisco

A sede do Facebook em Menlo Park, na Califórnia, está coberta de cartazes que mostram uma empresa em busca de uma nova direção: "Nada no Facebook é problema do outro", "Escute duas vezes mais do que você fala" e, citando Martin Luther King, "só na escuridão você consegue ver as estrelas".

A maior rede social do mundo está mergulhada na escuridão, lutando para abafar temores sobre privacidade dos dados pessoais, disseminação de fake news e manipulação eleitoral. 

Seus líderes estão tentando convencer os usuários, investidores e reguladores de que querem projetar mais luz sobre o modo como opera.

O executivo-chefe, Mark Zuckerberg, e a diretora de operações, Sheryl Sandberg, tentam desesperadamente projetar uma nova imagem, de humildade e transparência. Sandberg disse ao Financial Times na quinta (5) que foi um "erro" dela e de Zuckerberg não terem falado logo após a revelação, no mês passado, de que a Cambridge Analytica, uma polêmica empresa de análises de dados do Reino Unido, pode ter obtido de maneira imprópria dados de até 87 milhões de usuários do Facebook. "Agora vamos ser transparentes e falar tudo lá fora", disse. 

Sandberg, que antes trabalhou na Google e no Tesouro dos EUA, é chefe de operações há dez anos. Ela supervisiona o setor de publicidade e as operações de políticas e comunicações e foi trazida como uma líder mais madura para trabalhar ao lado de Zuckerberg. 

Os dois executivos falaram nesta semana publicamente sobre um plano para aumentar a privacidade e atacar a desinformação divulgada na plataforma, reagindo a uma intensa pressão política, sondagens regulatórias e a possibilidade de perder usuários e anunciantes. 

Suas ações começaram a se recuperar nesta semana, mas ainda desvalorizaram 15% desde que as revelações sobre a Cambridge Analytica começaram a ser publicadas. 

Esta semana também foi um importante ensaio geral do muito esperado depoimento de Zuckerberg no Congresso, quando ele se apresentará pela primeira vez ao Legislativo dos EUA.

Sandberg falou a diversos canais de mídia na última quinta, manifestando arrependimento e prometendo sanar os erros da companhia. "Estaremos examinando amplamente como os dados do Facebook serão usados", disse ela ao FT.

Suas declarações públicas ocorreram um dia depois que Zuckerberg teve uma ligação telefônica com repórteres --acontecimento raro numa empresa em que os jornalistas não são autorizados a fazer perguntas sobre os rendimentos trimestrais ou a participar da reunião anual com os investidores.

"Nós não tínhamos uma visão suficientemente ampla de nossa responsabilidade, e isso foi um enorme erro. Foi meu erro", disse ele, usando a palavra "responsabilidade" por 14 vezes.

Zuckerberg anunciou que a empresa faria mudanças quando falou pela primeira vez sobre o vazamento, cinco dias depois das primeiras reportagens. Ele prometeu restringir a quantidade de dados que os aplicativos externos que usam a plataforma podem acessar, assim como eliminar apps que não forem utilizados em três meses. 

Mas talvez seja difícil convencer os reguladores e os consumidores a aceitar essas promessas com facilidade. Vera Jourová, a comissária da União Europeia encarregada de proteção de dados, disse que o Facebook está tentando ser mais "transparente", mas algumas de suas explicações foram insuficientes.
"A internet não é um espaço livre da lei", disse. "As companhias [tecnológicas] têm um grande poder; quero que elas também tenham grande responsabilidade."

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David Kirkpatrick, autor do livro "The Facebook Effect", disse que Zuckerberg começou a semana fazendo "enorme progresso" ao demonstrar sua "humildade" pelo "antigo desrespeito [da companhia] pela privacidade e os controles de segurança". 

Mas disse que Zuckerberg pode ter aberto uma lata de minhocas ao afirmar que conectar o mundo sempre foi mais importante que a publicidade para o Facebook. 

Tanto ele como sua chefe de operações estão decididos de que uma coisa não precisa mudar: um modelo de negócios baseado em publicidade dirigida que gerou US$ 16 bilhões de renda líquida no ano passado. 

Sandberg disse que manter o Facebook grátis é importante para seus 2 bilhões de usuários e que a publicidade dirigida permite que 7 milhões de pequenas empresas comprem anúncios quando não podem pagar por mídia tradicional como a televisão. 

A empresa também não reagiu às preocupações dos investidores sobre Zuckerberg ser o presidente, executivo-chefe e acionista majoritário. Quando o FT lhe perguntou no telefonema se o conselho administrativo tinha discutido se ele deveria deixar a presidência, Zuckerberg fez uma pausa antes de responder: "Não que eu saiba".

Enquanto o Facebook pressionava para assumir o controle da crise, porém, admitiu que manter a plataforma segura é uma "corrida armamentista" sem fim contra agentes malignos. "Seria um erro pensar que isso vai acabar. Nunca vamos acabar com isso", disse Sandberg. 

Nesta semana, os dois executivos aceitaram a responsabilidade, mas também tentaram salientar os aspectos positivos.

Zuckerberg falou sobre o poder do Facebook de reconectar famílias, ajudar a unir casais, organizar movimentos sociais e manifestações.

Mesmo na escuridão, Zuckerberg disse que o Facebook é "uma empresa idealista e otimista". 

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