Tem cartilha de moda para tudo, de dicas de “look” para pedir emprego até uma para assistir à missa do domingo. Mas, como inexistem códigos específicos para explicar um ataque militar, um escândalo de traição ou mesmo a tentativa de apaziguar a relação desgastada entre dois países, a geopolítica deu seu jeito: passar borracha branca para ver se cola.
A moda agora é descolorir a imagem em situações que mexem com a opinião pública. O exemplo mais recente do modelito santificado foi o conjunto de tailleur e chapéu, brancos, usado pela primeira-dama Melania Trump para a primeira visita do casal Macron aos Estados Unidos.
Ficaram para trás os desentendimentos dos maridos sobre o tratado do clima e as alfinetadas do presidente francês ao nacionalismo de Trump. Melania e primeira-dama francesa, Brigitte, afinaram o visual pacificado na foto que circulou pelo mundo.
Se o acessório de cabeça vinculado aos mocinhos das lutas de bangue-bangue do faroeste soa como ferramenta semiótica no jogo maniqueísta do presidente, o branco parece um “está tudo bem” direcionado à audiência após o escândalo das escapadas de Trump com uma dançarina.
Melania estende a bandeira branca desde janeiro. Na primeira aparição após a traição vir à tona, ela usou um conjunto de alfaiataria que, embora rígido, conserva a aura de limpeza moral da cor, símbolo de pureza, paz e inocência.
Ainda neste mês, a turma da paz ganhou uma aliada. A primeira-ministra britânica, Theresa May, esclareceu, e clareou, o bombardeio na Síria. No Parlamento, seu blazer reluzia como ilustração da tese de que o ataque foi uma ação para manter a paz e impedir o uso de armas químicas.
Nada que a chilena Michelle Bachelet não tenha feito antes. A ex-presidente é uma das maiores adeptas do branco básico abaixo da linha do Equador.
Uma semana depois de May, foi a vez de a chanceler alemã vestir a mesma alfaiataria branca. Angela Merkel encontrou o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, para comemorar o acordo de modernizar o tratado de livre-comércio entre o país latino e a UE.
Mas ainda que os países ricos tenham assumido a tática, ninguém tira o pioneirismo brasileiro nesse campo. Desde o início do século, a política nacional vive em clima de “white party”. A cor foi escolha dos ex-presidentes petistas Lula e Dilma nas campanhas para presidente das quais ele saiu vencedor e na primeira posse dela.
O branco também tingiu as camisas do tucano Geraldo Alckmin na corrida de 2006 e a do mineiro Aécio Neves em 2014. Com a proximidade das eleições, não será surpresa se os candidatos decidirem colocar o Brasil de volta na dianteira do estilo gente inocente.
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