Regime norte-coreano fechará instalações nucleares em maio, diz Seul

Em contrapartida, Kim quer promessa de Trump de que não invadirá seu país

O ditador da Coreia do Norte Kim Jong-un cumprimenta o presidente sul-coreano Moon Jae-in, no prédio da Casa da Paz, em Seul - KCNA - 27.abr.2018/AFP
Seul | AFP
Foto noturna mostra os líderes das duas Coreias segurando nos braços um do outro, sorrindo e se encarando, observados pela primeira-dama da Coreia do Norte atrás, em um tapete vermelho, cercados de jornalistas e assessores
Kim Jong-un (à esq.) e Moon Jae-in se despedem após cúpula no vilareho de Panmunjom observados pela mulher de Kim, Ri Sol-ju - KCNA/AFP

O governo da Coreia do Sul declarou neste domingo (29) que o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, prometeu fechar as instalações de teste nuclear de seu país em maio e que ele convidará especialistas sul-coreanos e americanos para verificar o processo. 

Mas Kim pede, em contrapartida, que os EUA se comprometam a não invadir seu país e encerrem formalmente a Guerra das Coreias, suspensa com um armistício em 1953 após três anos de confronto.

O anúncio feito por Seul é até agora o resultado mais concreto da cúpula entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul realizada na última sexta (27), o primeiro encontro do tipo entre os líderes dos dois países em 11 anos e ápice da reviravolta diplomática na península Coreana. 

No evento, Seul e Pyongyang falaram da desnuclearização da península e da negociação do acordo de paz.

O pedido foi recebido com cautela pelos EUA, que pretendem apresentar um plano para o desmanche completo do programa nuclear norte-coreano em um prazo a negociar —aventa-se dois anos, diz o New York Times.

O assessor de segurança nacional de Donald Trump, John Bolton, diz que o plano precisa incluir a revelação total de tudo que é relacionado ao programa nuclear de Pyongyang e ser acompanhado de verificação internacional.

O programa nuclear da Coreia do Norte e seus sucessivos testes de mísseis e de bombas é uma das principais causas de tensão geopolítica hoje e razão para uma série de sanções internacionais que estrangulam a já frágil economia do país asiático.

Segundo a Presidência sul-coreana, Kim assumiu o compromisso no encontro com o presidente Moon Jae-in e disse que pretende manter a comunidade internacional informada do processo.

“Kim disse: ‘Os EUA nos consideram repugnantes, mas, enquanto dialogamos, eles se deram conta de que não sou alguém que vá lançar uma arma nuclear contra a Coreia do Sul ou mesmo contra eles’”, afirmou o porta-voz da presidência, Yoon Young-chan. 

As declarações atribuídas do ditador, cujo cacife político nos últimos anos cresceu sustentado pelo temor de seu programa nuclear, mostram uma mudança de atitude que o próprio Kim atribui ao desejo de ver melhorias na economia de seu país.

Elas também preparam o caminho para a aguardada cúpula entre Kim e Trump, prevista para o fim de maio ou junho. O local que a sediará ainda não foi anunciado —duas possibilidades aventadas são Mongólia e Cingapura.

No passado, promessas semelhantes foram descumpridas por Pyongyang, e o programa nuclear continuou avançando, daí o ceticismo com a repentina mudança. 

Mesmo o fechamento do local de testes nucleares não serve como lastro para a promessa, já que, segundo relatório chinês, a montanha usada para as explosões controladas já não tem mais a capacidade de absorver o impacto de uma bomba.

Em evento no Michigan no sábado (28), Trump confirmou que a cúpula ocorreria e disse que faria um “grande favor ao planeta” ao obter um acordo com Pyongyang. 

Ele voltou a atribuir a mudança diplomática do regime à sua campanha de pressão, com discursos duros, sanções e isolamento diplomático, com pressão sobre a China para forçar o aliado a recuar. 

Mas insistiu que a questão não está ainda resolvida: “O que tiver que ser, será. Posso ir até lá e pode não funcionar. Neste caso, vou embora”. 

O novo secretário de Estado americano, Mike Pompeo, afirmou em entrevista à rede ABC que manteve uma “boa conversa” com Kim durante sua recente visita a Pyongyang, na Páscoa, e que o líder norte-coreano está disposto a apresentar um plano para a desnuclearização.
 

Kim também indicou disposição de iniciar um diálogo com o Japão, outro alvo de seu programa nuclear. Segundo o porta-voz de Seul, o premiê japonês, Shinzo Abe, informou a Moon que pode conversar com Pyongyang.

Mídia norte-coreana exalta cúpula

Mesmo sem ainda resultar em medidas efetivas, o encontro funcionou para cacifar todos aqueles ligados a ele com seus públicos domésticos.

A mídia oficial norte-coreana, sob rígido controle e dois dias após o encontro de Kim e Moon, relatou a cúpula como um “feito imortal” de seu líder.

A Agência Central de Notícias da Coreia do Norte, estatal, descreveu o encontro como uma “conversa honesta e sincera”, em uma cúpula que foi “uma realização de amor do líder supremo para a nação”.

“A conquista imortal de Kim ficará gravada brilhantemente na história da unificação da nação coreana”, afirmou o braço de propaganda estatal.  

O discurso de reunificação das Coreias é repetido pelos dois lados com alguma frequência, embora pouco se tenha feito para sua concretização. As imagens carregadas de simbolismo dos dois líderes sorrindo e se abraçando, porém, parecem ter revigorado as expectativas. 
 

Kim também atingiu seu objetivo de ser tratado como interlocutor respeitável. Diante da parede de câmeras que transmitiam seu discurso ao mundo, declarou que as Coreias são ligadas por sangue e não podem viver separadas. 
 

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