Grupo separatista basco ETA pede desculpas por violência

Próximo de anunciar sua dissolução, organização pediu perdão às suas vítimas

Madri | Reuters e AFP

O grupo separatista basco ETA pediu desculpas nesta sexta-feira (20) pelo mal causado a suas vítimas e seus familiares durante uma campanha violenta de meio século para criar um Estado independente no norte da Espanha e no sudoeste da França.

"Estamos cientes de que, durante este longo período de luta armada, provocamos muito sofrimento, inclusive muitos danos para os quais não há solução. Queremos mostrar respeito pelos mortos, pelos feridos e pelas vítimas que foram provocados pelas ações do ETA", disse o grupo, em um comunicado publicado no jornal basco Gara.

"Pedimos desculpas de verdade", afirma a organização, que executou atentados com bomba e assassinatos que deixaram 829 mortos, tanto no País Basco como no resto da Espanha e na França. 

Manifestação em 2011 em Bilbao, na Espanha, após o ETA anunciar o fim da luta armada pede uma resolução pacífica para o conflito
Manifestação em 2011 em Bilbao, na Espanha, após o ETA anunciar o fim da luta armada pede uma resolução pacífica para o conflito - Rafa Rivas - 22.out.2011/AFP

O pedido de desculpas chega no momento em que se espera que o grupo anuncie sua dissolução definitiva no início do próximo mês, pouco mais de um ano depois de encerrar sua campanha separatista armada entregando suas armas e explosivos.

"Olhando para frente, a reconciliação é uma das tarefas que precisam ser realizadas no País Basco, algo que já está acontecendo entre os cidadãos. É um exercício necessário para reconhecer a verdade de maneira construtiva, curar feridas e oferecer garantias para que este sofrimento não volte a acontecer", diz a nota.  

A organização, que também realizou em nome da luta armada sequestros e extorsões, pediu perdão especificamente para as vítimas "que não tinha uma participação direta no conflito, nem responsabilidade alguma". "A estas pessoas e seus parentes pedimos perdão", afirma o texto com data de 8 de abril, exatamente um ano depois de quando entregou as armas.

Criado em 1959 durante a ditadura de Francisco Franco, o ETA (Euskadi Ta Askatasuna, ou País Basco e Liberdade) lutava pela independência da região, que tem língua e cultura próprios. Com a chegada da democracia, nos anos 1970, o grupo foi aos poucos perdendo apoio e em 2011 renunciou em definitivo à luta armada.

Associações de vítimas do terrorismo, que exigiam há vários anos um pedido de desculpas do ETA, criticaram o comunicado, que consideraram insuficiente.

"Parece vergonhoso e imoral que façam esta distinção entre os que mereciam o tiro na nuca, a bomba no carro e os que foram vítimas por acaso, porque não mereciam", afirmou ao canal público espanhol TVE a presidente da Associação das Vítimas do Terrorismo, María del Mar Blanco.

O governo espanhol comentou o pedido de desculpas e disse que o grupo foi derrotado "com as armas da democracia". "As vítimas, sua memória e sua dignidade foram decisivas para derrotar o ETA. O ETA deveria ter se desculpado pelos danos causados de maneira sincera e incondicional muito tempo atrás", disse o gabinete do primeiro-ministro Mariano Rajoy.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.