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Coreia do Norte

Histórico não responde se Coreia do Norte pode confiar nos Estados Unidos

Por descumprimentos passados, Kim Jong-un pensará duas vezes em abrir mão de armas nucleares

Kim Jong-un aparece à esquerda de blazer preto e óculos escuros e Moon Jae-in usa terno preto, camisa branca e gravata azul royal; os dois aparecem na imagem da cintura para cima e um fundo com uma pintura emulando uma montanha em tons azulados
Os mandatários norte-coreano, Kim Jong-un, e sul-coreano, Moon Jae-in, sorriem ao trocar apertos de mão na Casa de Paz da vila de Panmunjom, na zona desmilitarizada entre os dois países - Associated Press
São Paulo

A promessa do líder norte-coreano Kim Jong-un de abandonar seu programa nuclear foi recebida com ceticismo por vários analistas. O próprio presidente dos EUA, Donald Trump, insinuou que o regime norte-coreano era pouco confiável.

"No passado, os Estados Unidos foram passados para trás, mas meu governo não será enganado", disse Trump.

"Pode ser que eu saia respeitosamente do encontro ou que a reunião nem ocorra", disse, aludindo à reunião que deve ter com Kim em junho.

Afinal, líderes da Coreia do Norte já garantiram em outras negociações que iriam acabar com o programa nuclear, e, por baixo do pano, continuaram enriquecendo urânio.

Mas e os Estados Unidos? São confiáveis? 

O governo americano também tem um longo histórico de descumprir promessas. Kim sabe disso e vai pensar duas vezes antes de abrir mão de suas armas nucleares, que funcionam como um seguro contra mudança de regime. 

O acordo nuclear de 1994, por exemplo, desmoronou por causa dos dois países. 

A Coreia do Norte burlou exigências do acordo costurado pelo ex-presidente Bill Clinton. Mas os EUA tampouco respeitaram sua parte.

Pelo acordo, Pyongyang concordava em paralisar seu programa nuclear.

Em troca, os EUA dariam ao país dois reatores para produção de energia nuclear para fins pacíficos e, enquanto não estivessem prontos, forneceria combustível. Além disso, Washington revogaria as sanções e retiraria a Coreia do Norte da lista de países patrocinadores de terrorismo. 

Os reatores nunca saíram do papel. As entregas de combustível atrasavam meses. Os EUA levantaram (parcialmente) as sanções só em 2000, e o país só foi retirado da lista de patrocinadores de terrorismo em 2008, 12 anos depois do prometido.

A Coreia do Norte, por sua vez, estava enriquecendo urânio para bombas nucleares.

Outro que se deu mal ao confiar nos americanos foi o ditador líbio Muammar Gadaffi. Em 2003, Gadaffi concordou em acabar com seus programas de armas nucleares e químicas, destruir mísseis e abrir o país para inspetores. 

Em troca, além do fim do isolamento internacional, Gadaffi recebeu garantias do então presidente americano, George W. Bush, de que os EUA não tentariam derrubá-lo.

Pois foi exatamente isso que aconteceu em 2011, quando, liderada pelos EUA, uma coalizão internacional interveio na Líbia e derrubou Gaddafi. 

Aliás, essa não foi a única promessa descumprida pelos EUA na ocasião. Ao convencer a Rússia a se abster na votação do Conselho de Segurança da ONU que autorizava o uso de força na Líbia, os americanos haviam garantido que o único propósito seria a proteção dos civis, e não a troca de regime. 

Por fim, as ameaças de Trump de rasgar o acordo nuclear assinado com o Irã e outras cinco partes em 2015, apesar de inspetores atestarem que o país está cumprindo os requisitos, é outro alerta. 

Quem garante que, caso Kim abra mão do programa nuclear, seu destino não será o mesmo de Gaddafi ou que o próximo presidente americano não irá jogar no lixo um acordo assinado por Trump?

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