Marito teve de omitir discurso a favor de ditador para chegar à Presidência

Família do colorado Mario Abdo Benítez é amiga da do ditador Alfredo Stroessner, morto há 12 anos

O presidente eleito do Paraguai, Mario Abdo, comemora vitória, em Assunção - Jorge Saenz/Associated Press
Diego Zerbato
Assunção

Mario Abdo Benítez assumirá a Presidência do Paraguai em 15 de agosto, véspera do aniversário de 12 anos da morte do ditador Alfredo Stroessner, cujo caixão carregou no enterro em Brasília.

À época vice-presidente do Partido Colorado, pregava a renovação da sigla para estancar a perda de eleitores, como ocorreria dois anos depois com a vitória do opositor Fernando Lugo.

Para chegar ao Palácio de López, porém, precisou omitir o discurso a favor do autocrata, de cuja família é amigo até hoje, e ceder a caciques colorados como o presidente Horacio Cartes.

Na infância, Marito seguia o pai, homônimo e braço direito de Stroessner, nas reuniões no partido. Foi aí que, afirma, pegou gosto pela política, embora só tenha entrado oficialmente em 2005.

“Conheço sua luta porque fui criado com eles. Meu pai abençoa este projeto”, disse em um evento em 2015, na campanha fracassada pela presidência do partido.

Em 2 de fevereiro de 1989, dia do golpe que deu fim ao regime, estava nos EUA. Preso, Mario Abdo Benítez pai decidiu que o filho deixaria a carreira militar e ficaria em território americano.

Marito viria ao Paraguai dez meses depois. “Me sugeriram, para não dizer que me proibiram, e tive de fazer o último ano de colégio nos EUA”, disse ao jornal Ultima Hora em 2009.

No exterior ele se tornaria amigo dos netos do ditador. Com o mais velho deles, Alfredo “Goli” dividiria o peso do caixão do mandatário e espaço no Senado a partir de 2013.

Nos anos 1990, ele voltaria ao Paraguai para continuar a carreira militar, chegando à patente de subtenente paraquedista antes de ir à reserva. A partir daí, tornou-se empresário do setor asfáltico e teve também uma empresa de eletrônicos.

Ele continuou administrando os negócios até se tornar senador, mas já era uma liderança colorada influente. E com elevado tom crítico contra a ala mais antiga, e moderada, do partido.

“Queremos mandar uma mensagem para aqueles que há muito tempo vêm usando o povo como pano de chão para chegar ao poder e logo se esquecerem daqueles que votaram neles”, afirmou em 2012, quando disputava as primárias ao Senado.

Também continuou a defesa da ditadura. Em 2015, corrigiu-se após dizer que um candidato a prefeito seria o primeiro colorado eleito na cidade de Itá na democracia. “Porque tínhamos democracia antes de 1989 com um Partido Colorado forte.”

Apesar da retórica, conquistou mais espaço na sigla, incluindo colorados vítimas do regime. “Essas são coisas que eu pude separar muito bem da pessoa de Marito”, disse a ex-candidata presidencial Blanca Ovelar, que teve os pais perseguidos na ditadura.

Foi na mesma toada que começou sua campanha à Presidência, contra Santiago Peña, 38, ex-ministro de Cartes. Levou a candidatura colorada criticando o presidente, para semanas depois se unir a ele em prol do partido e das eleições.

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