Descrição de chapéu Em 1968

Mundo em 1968: ativista negro Martin Luther King é assassinado nos EUA

Em discurso na véspera, em Memphis, pastor citou ameaças; polícia busca atirador

Martin Luther King Jr. carrega papéis nas mãos enquanto sobe primeiro degrau da escadaria que leva ao segundo andar do hotel Lorraine; assessores o acompanham: um à frente e outro atrás
Martin Luther King Jr. (ao centro) chega ao motel Lorraine em 3 de abril de 1968; ele seria morto no dia seguinte - Barney Sellers - 3.abr.68/The Commercial Appeal/Associated Press

Principal liderança da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos e vencedor do prêmio Nobel da Paz, o pastor batista Martin Luther King Jr.1, 39, foi assassinado nesta quinta-feira (4).


1 Se estivesse vivo, teria 89 anos. Em 1983, o presidente Ronald Reagan transformou a terceira segunda-feira de janeiro, data próxima do dia de nascimento de King (15.jan.1929), em feriado nacional. Alguns estados resistiram por anos a aceitar a data, em alguns casos comemorando-a junto ao aniversário de Robert E. Lee, general do Sul escravocrata na Guerra Civil Americana (1861-1865)


A polícia suspeita que o autor do crime seja um homem branco que deixou às pressas, logo após o tiro, um prédio em frente ao hotel em que o líder negro estava hospedado, em Memphis, no Tennessee. Um rifle e binóculos foram encontrados no local. A polícia ainda está à procura do atirador, que não teve identidade divulgada2.


2 Em abril, a polícia identificou o assassino James Earl Ray, um defensor da segregação racial obcecado por King. Foi capturado dois meses após o crime, em Londres. Confessou e foi condenado a 99 anos de prisão. Morreu na cadeia em 1998, aos 70, por complicações causadas por hepatite


King foi baleado logo após as 18h, na varanda do hotel Lorraine, quando saía para jantar com amigos. Seu braço direito, o também pastor Ralph Abernathy3, tentou conter o sangramento com uma toalha. A bala atingiu o rosto e o pescoço de King.


3Assumiu o comando da Conferência da Liderança Cristã do Sul, mas a entidade, que lutava pelo direito dos negros, perdeu influência sem seu principal líder. Morreu em 1990


"Ao ser ferido, ele não pôde dizer uma palavra sequer, nem esboçar qualquer gesto", relatou o pastor Andrew Young4, que acompanhava King na hora do ataque.


5 Após a morte do amigo, foi deputado, embaixador na ONU e prefeito de Atlanta dos anos 70 a 90. Tem 86 anos


Levado para um hospital, o líder pró-direitos civis teve sua morte decretada às 19h.

O pastor estava em Memphis em apoio a uma greve de garis, em grande parte negros. Esperado para um discurso em uma igreja pentecostal da cidade, na terça (3), ele resistiu a falar. Estava cansado e com dor de garganta. Chegou a enviar Abernathy em seu lugar, que demoveu o chefe da desistência após ver a multidão que aguardava ali.

No que seria seu último discurso, King citou supostas ameaças contra ele vindas de "alguns de nossos irmãos brancos doentes". Ainda antes de deixar sua Atlanta natal rumo a Memphis, ele também afirmara a parentes que um preço havia sido colocado em sua cabeça.

MILITÂNCIA

Lidera boicote ao sistema segregado de ônibus de Montgomery (Alabama), iniciado em 1955 por Rosa Parks, que se negou a ceder assento a um branco. Ao longo dos anos 60, torna-se decisivo na campanha pelos direitos civis. Em 63, promove marcha a Washington e faz seu mais famoso discurso: "Eu tenho um sonho de que meus filhos um dia viverão em uma nação em que não serão julgados pela cor da pele, mas pelo caráter"

NOBEL

Em 1964, ano em que a lei dos direitos civis é assinada nos EUA, King ganha o Nobel da Paz. Seu pacifismo religioso começa a ser alvo de questionamento de outros militantes que cobravam mudanças mais rápidas

Colaborou EDGAR SILVA

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