Não podemos só dar energia ao Brasil, diz candidato à Presidência paraguaia

Em entrevista, oposicionista Efraín Alegre diz que quer negociar produção de de Itaipu

Efraín Alegre, candidato à Presidência do Paraguai, durante a entrevista
Efraín Alegre, candidato à Presidência do Paraguai, durante a entrevista - Norberto Duarte/AFP
 
Diego Zerbato
Assunção

Em sua segunda corrida presidencial no Paraguai, o ex-deputado liberal Efraín Alegre coloca a mudança na tarifa de energia como seu principal diferencial para tentar vencer o colorado Mario Abdo Benítez, candidato do presidente Horacio Cartes.

À Folha nesta quinta-feira (19), último dia de campanha no país, o opositor disse que a intenção é reforçar a infraestrutura para ter maior poder de barganha com Brasil e Argentina em relação às produções das usinas hidrelétricas de Itaipu e Yacyretá. Ele também critica o atual presidente, dono da maior indústria de tabaco paraguaia.

Apesar do tom bélico em relação aos vizinhos maiores, ele defende a cooperação como a única forma de combater o tráfico de drogas, o contrabando e o crime organizado na fronteira.

 

Folha – A partir dos debates, dos discursos e dos programas de campanha, pôde-se verificar que o senhor inclinou-se mais à direita, comparando com sua coalizão, enquanto seu adversário, Mario Abdo Benítez, guinou para o centro. Dessa forma suas propostas em alguns momentos aparecem mais próximas…

Efraín Alegre – Não, não por favor. Muito pelo contrário. Eles dizem que a energia no Paraguai é barata, eles dizem que é cara e que vamos reduzir as tarifas. Eles querem continuar a vender energia ao Brasil e à Argentina, nós dizemos que vamos usar nossa energia. Nós dissemos que temos que trabalhar pela saúde básica gratuita, e eles dizem que não podem. Eles dizem que vão mandar os jovens ao quartel, e nós vamos mandar aos colégios e às universidades.

Como o senhor vê a negociação com Brasil e Argentina pela energia das usinas de Itaipu e Yacyretá?

Em primeiro lugar temos que ser capazes de usar nossa energia, porque se não concordamos com os dois, bom, trazemos a energia e usamos nós. Mas para isso precisamos ter a opção de trazer, porque se não tivermos não adianta negociar. A única alternativa que temos é ceder ou vender.

Mas para isso é preciso infraestrutura, que falta no Paraguai. Como o senhor planeja conseguir recursos para conseguir com que essa energia fique aqui?

Temos os recursos para isso. E, por isso, somos muito diferentes ao continuísmo, eles reivindicam uma política entreguista. Nunca construíram a infraestrutura porque sua visão é simplesmente dar ao Brasil e à Argentina. Não que não existam os recursos. Com os US$ 140 milhões (R$ 474 milhões) dos fundos sociais de Itaipu e Yacyretá podemos fazer toda a infraestrutura que precisamos.

Nos últimos anos muitos empresários brasileiros vieram para cá devido à crise e começaram a investir, principalmente na área industrial. O que o senhor propõe para atrair mais investidores?

Precisamos ser mais competitivos no que diz respeito à pressão tributária, recursos humanos e o preço da energia. Podemos dar como incentivos a energia barata, em troca de que se instalem e gerem empregos no Paraguai. Para isso também é muito importante ter segurança jurídica, por isso defendo a reforma judicial.

Ao comentar o combate ao crime organizado em seu programa de governo, o senhor não detalha como faria isso, em áreas como o tráfico de drogas, por exemplo. As quadrilhas brasileiras começam a entrar na região de fronteira. Como o senhor pretende enfrentar essa questão?

Em relação ao tráfico de drogas e ao contrabando de cigarros, é preciso vontade política, um presidente que não esteja comprometido com essas questões e esses negócios. Nós também precisamos investir e redesenhar nossas forças de segurança. Hoje nossas Forças Armadas não têm capacidade operacional, não por culpa deles, mas por culpa do governo que as debilitaram gradualmente e sem equipamentos modernos. E precisamos chegar a acordos com o Brasil e a Argentina. Precisamos de um acordo comum para controlar a fronteira e para dividir o investimento para a segurança que precisamos todos nós.

O candidato a vice de sua chapa, Leo Rubin, da Frente Guasú, disse nesta semana que a Venezuela não tem uma ditadura, mas uma crise institucional. O Partido Liberal, no governo de Federico Franco, foi quem começou essa política contrária a Caracas. Como o senhor vê a situação no país?

Primeiro, o Partido Liberal lutou historicamente contra qualquer abuso, violação de direitos humanos, tirania ou ditadura. Nisso com [o líder venezuelano, Nicolás] Maduro nunca nos entendemos nem vamos nos entender. Segundo, o governo que incorporou Maduro ao Mercosul foi o de Cartes, então não se preocupe com o que diga o vice-presidente, mas com o que fez esse governo. Nós nos opomos. E, terceiro, a política externa é controlada pelo presidente.

Embora Cartes tenha reconhecido a entrada da Venezuela no Mercosul, a Chancelaria paraguaia foi uma das mais ativas contra Maduro, antes inclusive de países maiores como Brasil e Argentina…

Esse é o modelo de Cartes. Eles são especialistas em criarem problemas para dizer depois que vão solucionar.

Alguns candidatos presidenciais brasileiros defendem o fortalecimento da fronteira, sugerindo inclusive barreiras físicas. Se eleito, como o senhor negociaria com um presidente como esse?

Isso não me parece que responda à política de integração, mas até seria bom para os paraguaios em alguns aspectos. Se colocássemos uma muralha contra o crime organizado que o Brasil exporta, pelo menos no aspecto de segurança seria muito bom.

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