O ex-presidente mexicano Felipe Calderón, 55, disse à Folha, em Buenos Aires, que Donald Trump tem sido "menos ruim do que se esperava para o México".
Isso porque, afirmou, espera-se para maio um novo Nafta (o tratado de livre-comércio entre os três países da América do Norte), "quando o que ouvimos durante a campanha de Trump era que esse documento seria rasgado".
"Cedemos em alguns pontos, mas ganhamos em outros. Não nos foi tão mal", afirmou.
Neste domingo, seu sucessor, Enrique Peña Nieto, afirmou estar otimista com a renegociação e esperar que o acordo seja modernizado. Na véspera, México e União Europeia assinaram um tratado de livre-comércio após 21 anos de negociação.
Calderón (2006 e 2012), que esteve na capital argentina para um encontro internacional de turismo e livre-comércio, disse estar otimista com a América Latina, mas não tanto em relação a seu país.
Explicou que vê com bons olhos o rumo do liberalismo econômico em que apostaram líderes como o argentino Mauricio Macri e o chileno Sebastián Piñera, "ainda que no caso do Brasil ainda não tenhamos um quadro claro".
"Mas vejo com preocupação o crescimento do protecionismo em outras partes, gerado pelo medo das pessoas com o universo do comércio e do trabalho em transformação."
Essa preocupação envolve as próximas eleições no México, em julho, para as quais o favorito em todas as pesquisas é o esquerdista e nacionalista Andrés Manuel López Obrador, derrotado por Calderón em 2006.
Na ocasião, AMLO não aceitou o resultado e acusou o adversário e seu partido, o PAN, de fraude.
"Um governo nacionalista e protecionista no México neste momento iria contra o resto da região e poderia ser negativo", afirmou. "A América Latina passou por uma fase de protecionismo recente em que a economia não foi mal, mas por causa do boom das commodities. Creio que a saída agora é o livre mercado."
O ex-presidente afirma que AMLO, além de seu discurso protecionista, iria se chocar com Donald Trump, algo desnecessário, a seu ver.
"Quando Trump assumiu [em janeiro de 2017], nossa moeda desvalorizou de imediato, depois voltou ao padrão. Parece que estamos sabendo levar a relação adiante. Ainda que tudo possa mudar com um tuíte às 5h daquele que ocupa a Casa Branca neste momento", disse, rindo.
Calderón não quis comentar mais a campanha mexicana, uma vez que sua mulher, Margarita Zavala, será candidata de forma independente.
Quanto ao recorde de homicídios no país resultante da política de guerra ao narcotráfico iniciada em sua gestão, admitiu preocupação. "Mas já não vejo tanto confronto com forças de segurança", disse.
"A maioria dessas mortes vem da disputa de território entre os cartéis. Isso é o que deveria ser atacado."
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