Descrição de chapéu The New York Times

'Pantera Negra' marca volta do cinema à Arábia Saudita

Sucesso de Hollywood foi mostrado em sessão só para convidados em Riad nesta quarta (18)

Sauditas chegam para a primeira sessão de cinema em 35 anos em Riad, na Arábia Saudita
Sauditas chegam para a primeira sessão de cinema em 35 anos em Riad, na Arábia Saudita - Tasneem Alsultan/The New York Times
Tasneem Alsultan Ben Hubbard
Riad | The New York Times

​O público percorreu o tapete vermelho, pegou suas pipocas e refrigerantes e encheu a sala para uma noite de cinema.

É algo comum em qualquer lugar do mundo. Mas na capital da ultraconservadora Arábia Saudita, foi um momento divisor de águas, marcando a abertura de cinemas comerciais pela primeira vez em mais de 30 anos.

A projeção só para convidados do sucesso de Hollywood "Pantera Negra" na quarta-feira (18) faz parte de uma abertura social mais ampla no reino, defendida pelo príncipe herdeiro de 32 anos, Mohammed bin Salman, conhecido pelas iniciais MBS.

Além de tentar reorientar a economia saudita, afastando-a do petróleo, e moderar sua retórica religiosa oficial, o príncipe Mohammed, filho do rei saudita e próximo na linha de sucessão ao trono, tenta tornar mais agradável a vida dos que há muito se queixam de que as estritas regras religiosas tornam o reino um lugar muito entediante.

O príncipe Mohammed tentou modificar isso criando um órgão do governo encarregado de expandir as oportunidades de entretenimento, como shows, exibições de caminhões e óperas. Embora esses eventos tenham alcançado boa frequência, seu número foi limitado. É a abertura de cinemas comerciais em shopping centers que vai realmente afetar a vida de 32 milhões de pessoas.

As autoridades sauditas esperam que expandir as opções de entretenimento não apenas permitirá que os cidadãos se divirtam mais como também ajudará a economia, ao manter no país parte dos milhões de dólares que os sauditas gastam em lazer no exterior. Elas esperam que a criação de um setor de entretenimento nacional também gere empregos muito necessários para os jovens sauditas.

Enquanto empresas internacionais invadiram a Arábia Saudita, assinando acordos para construir e operar cinemas, os filmes para as massas ainda não são uma realidade, como deixou claro o evento de quarta-feira (18).

O cinema em si, no interior de um distrito financeiro ainda muito vazio e só parcialmente construído, foi montado às pressas em um teatro de dois andares que parecia mais adequado à música sinfônica. Dois outros salões no mesmo complexo ainda estão sem poltronas. 

Mas o entusiasmo pelas mudanças era tangível entre as centenas de convidados VIPs, que incluíam ministros de governo, astros das redes sociais e pelo menos uma princesa.

 

"Estamos muito contentes", disse Fouz al-Thiyabi, 35, vice-presidente de uma escola para meninas, que estava com uma amiga. "Eles deviam ter feito isso há muito tempo."

Ela disse que, assim como suas amigas, costumava ir ao cinema no exterior. Muitos sauditas viajam ao vizinho Bahrein ou aos Emirados Árabes Unidos nos fins de semana para ver os últimos filmes. Agora ela espera assisti-los mais perto de casa, disse. 

"Gosto de filmes modernos, de ação", comentou Fouz. Ela não sabia nada sobre "Pantera Negra", mas disse que teria ido qualquer que fosse o filme apresentado. "Não sei nada sobre esse filme. Vim por causa do evento", afirmou.

Alguns observadores comentaram semelhanças entre os acontecimentos recentes na Arábia Saudita e a trama de "Pantera Negra", que conta a história de um príncipe que toma o poder no reino, luta contra um rival ao trono e decide levar seu povo em uma nova direção.

Será que o príncipe Mohammed, que expulsou seu primo para ser o herdeiro do trono e agora tenta transformar a sociedade saudita, se considera semelhante a T'Challa, o herói do filme? 

Adam Aron, o presidente e executivo-chefe da AMC Entertainment, que inaugurou o cinema, disse que levou sua empresa à Arábia Saudita depois que conheceu o príncipe em seu palácio. Mas ele não quis dizer se via semelhanças nas duas histórias. 

"É um ótimo filme, teve grande sucesso de público, e achamos que deixaria todos contentes", disse Aron, que esteve na cidade para a projeção. "Que filme você teria escolhido?"

A AMC pretende abrir pelo menos 40 cinemas em 15 cidades sauditas nos próximos três a cinco anos, segundo ele, e gostaria de abrir mais cem dentro de cinco a dez anos. "Temos uma grande visão e um grande sonho para a Arábia Saudita", disse ele.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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