Paraguaios escolhem novo presidente em cenário de alianças improváveis

O colorado Mario Abdo Benítez e o liberal Efraín Alegre são os principais candidatos em disputa sem segundo turno

Vendedor passa por pôsteres de dois candidatos à Presidência paraguaia, Efraín Alegre e Mario Abdo Benítez, em Assunção
Vendedor passa por pôsteres de dois candidatos à Presidência paraguaia, Efraín Alegre e Mario Abdo Benítez, em Assunção - Norberto Duarte-20.abr.18/AFP
Diego Zerbato
Assunção

Cerca de 4,2 milhões de paraguaios estão convocados a votar neste domingo (22) para escolher o próximo presidente e o novo Congresso em um cenário político impensável um ano atrás.

Principais candidatos, Mario Abdo Benítez, 46, do Partido Colorado (direita), e Efraín Alegre, 55, do Partido Liberal (centro), eram contra a reeleição e estavam do lado contrário do presidente Horacio Cartes e do ex-presidente Fernando Lugo, hoje seus aliados, respectivamente.

Homônimo do pai, que foi braço direito do ditador Alberto Stroessner (1912-2006), o senador Marito era líder da Colorado Añetete (verdadeiro, em guarani), a ala mais conservadora do partido que governou o Paraguai em 65 dos últimos 70 anos, incluídos os 34 anos de ditadura.

Depois dos protestos contra a reeleição de Cartes, em 31 de março, quando parte do Congresso foi queimada e a polícia matou um militante liberal, ele continuou contra o presidente até dezembro, nas eleições primárias do partido.

Prometendo linha dura contra o crime e a corrupção, melhoras na saúde e na educação e "a defesa da vida e da família", conseguiu superar o ex-ministro Santiago Peña, candidato de Cartes, por sete pontos percentuais de diferença.

Logo após a vitória, parafraseou o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e ironizou o mandatário paraguaio. "A esperança venceu o medo no Paraguai. A soberba foi vencida hoje e sempre."

Não levaria muito para que o discurso de Marito amenizasse. As pazes públicas foram feitas em 4 de fevereiro: "Quero agradecer de coração ao senhor presidente da República por me ajudar e por trabalhar de forma sincera".

O candidato do Partido Colorado, Mario Abdo Benítez, acena em seu último comício eleitoral, na quinta-feira (19)
O candidato do Partido Colorado, Mario Abdo Benítez, acena em seu último comício eleitoral, na quinta-feira (19) - Eitan Abramovich/AFP

Ele assegurava, então, a união do partido e o apoio não só do presidente, mas do empresário. Cartes é dono do grupo homônimo, que inclui investimentos em hotelaria, agropecuária, indústria de bebidas, aviação, tabaco e imprensa.

Para isso, no entanto, omitiu o aliado nas críticas à corrupção e reforçou o discurso de continuidade econômica. Nos demais aspectos, manteve a linha dura, incluindo propostas como o serviço militar obrigatório para filhos de mulheres solteiras para diminuir a criminalidade.

"Vamos usar os quartéis para que as pessoas aprendam como ser mecânico, eletricista, que cantem o hino nacional e que recuperem o orgulho de serem paraguaios."

Na quinta (19), em comício que reuniu cerca de 50 mil pessoas, pregou a união entre os paraguaios --embora minutos antes tenha dito que o Partido Colorado "era a melhor ferramenta do país".

"As pessoas estão cansadas de brigas estéreis. Quem se beneficia disso? O Paraguai precisa construir as pontes e derrubar as muralhas que nos dividiram por muito tempo como paraguaios."

Enquanto Cartes se tornou um dos pilares de Marito, Efraín Alegre tenta pela segunda vez chegar à Presidência, agora com o apoio da Frente Guasú (esquerda), reeditando a aliança de 2008 que quebrou a sequência colorada no poder com Fernando Lugo.

Quatro anos depois, o ex-bispo seria derrubado pelo Congresso em um impeachment que durou 36 horas entre admissão e veredicto. A deposição foi um resultado de uma aliança entre os liberais, do vice Federico Franco, e os colorados.

A energia tornou-se sua principal bandeira: defende a redução das tarifas, a criação de infraestrutura para usar a eletricidade das usinas de Itaipu e Yacyretá em vez de vendê-la a Brasil e Argentina e a renegociação das tarifas.

Também promete a criação do imposto sobre o tabaco, barrado pelos colorados de Cartes no Congresso, para financiar a saúde básica gratuita. E, em oposição ao presidenciável adversário, promete levar os jovens "às universidades, não aos quartéis".

Na campanha, criticou o colorado por sua insistência em reafirmar a identidade partidária. Chegou a desfraldar uma bandeira paraguaia no único debate entre os dois.

"Vamos deixar para trás aqueles que querem nos dividir por cor. Vamos deixar para trás todos aqueles que falam de família e querem nos dividir. Vamos unir os paraguaios e as paraguaias contra a máfia e contra a corrupção", disse, em seu último evento de campanha.

O candidato do Partido Liberal, Efraín Alegre, durante comício na última quinta (19)
O candidato do Partido Liberal, Efraín Alegre, durante comício na última quinta (19) - Jorge Adorno - 19.abr.18/Reuters

Prevê também um imposto progressivo de renda e uma reforma judicial para diminuir a influência política, econômica e do crime organizado nas decisões dos tribunais.

Por outro lado, discordou dos aliados esquerdistas em ao menos dois aspectos. Declarou-se contra a união entre pessoas do mesmo sexo, enquanto em seu programa de governo admitia medidas para dar mais direitos aos homossexuais.

E desautorizou o vice em sua chapa, Leo Rubín, que havia dito que a Venezuela tem uma crise institucional, mas não uma ditadura. "Quem define a política externa é o presidente", disse à Folha na quinta (19).

As últimas pesquisas de opinião indicam que Marito vencerá com ampla margem. Na primeira, do instituto Grau & Associados e do jornal Última Hora, em meados de março, ele aparece com 55,7% dos votos, contra 31,4% do liberal.

Já a First Análisis, em estudo no início do mês passado para o jornal ABC Color, havia apontado vitória do colorado com 53,2% dos votos e 22,2% da aliança liberal.

Os dois institutos erraram, porém, ao não preverem a vitória do próprio Marito na primária colorada e ao subestimarem os 48% que Cartes teria nas eleições de 2013.

A eleição não tem segundo turno. Vence quem consegue o maior número de votos.

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