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Políticos alimentam alta da hostilidade a jornalistas no mundo

Manifestações de ódio não se limitam a ditaduras, diz estudo da ONG Repórteres sem Fronteiras

Homem aparece com fita adesiva preta tapando a boca e carrega um cartaz, com a expressão, em inglês, "Defenda a liberdade de imprensa"; ao fundo, outras pessoas aparecem com cartazes
Manifestante carrega cartaz pela liberdade de imprensa durante protesto em Manila, nas Filipinas - Ted Aljibe - 19.jan.2018/AFP
São Paulo

Cresceu em todo o mundo o ódio contra jornalistas, principalmente graças a atitudes e declarações de políticos e de autoridades em democracias. A conclusão está na edição 2018 do Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa, da ONG Repórteres Sem Fronteiras.

Publicado desde 2002 para avaliar a liberdade de informação em 180 países, o estudo destaca que é cada vez maior o número de chefes de Estado eleitos que veem a imprensa "não como um fundamento da democracia, mas como um adversário contra o qual demonstram aversão".

Esse cenário é agravado pela conduta de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos (em 45º lugar, que caiu duas posições em relação a 2017).

Trata-se, afinal, do "país da Primeira Emenda", menciona a organização, em referência à disposição da Constituição americana em favor da liberdade de imprensa.

"Adepto do 'media bashing' (ataques à mídia) sem escrúpulos", diz o relatório, Trump costuma chamar repórteres de "inimigos do povo". A prática, lembra a RSF, repete expressão usada pelo ditador soviético Josef Stálin (1878-1953).

O texto conclui que "A hostilidade em relação aos meios de comunicação não é mais privilégio de países autoritários, como a Turquia (157º, queda de dois postos) ou o Egito (161º, igual)".

Nesses países, governantes chegaram a acusar de terrorismo jornalistas e veículos críticos às suas gestões.

Outros exemplos negativos citados são Filipinas (133º, menos seis postos), onde o presidente Rodrigo Duterte afirmou que ser jornalista "não protege contra assassinatos", e a Índia (138º, menos dois postos), onde o discurso de ódio contra repórteres é disseminado nas redes sociais.

Também houve agravamentos na Europa. Em Malta (65º, queda de 18 postos), a RSF lembrou o assassinato da repórter Daphne Caruana Galizia após a explosão de seu carro, em outubro de 2017.

Ela participava das investigações internacionais conhecidas como Panama Papers, sobre fraudes fiscais trazidas à tona após o vazamento de registros de um escritório de advocacia panamenho.

Na República Tcheca (34º, menos 11 postos), o presidente Milos Zeman foi a uma entrevista coletiva em 2017 com um fuzil falso no qual se lia "para os jornalistas".

Já na Eslováquia (27º, menos dez postos), o ex-premiê Robert Fico acostumou-se a chamar jornalistas de "prostitutas imundas antieslovacas".

O primeiro lugar no ranking continuou a ser a Noruega, e a última posição segue ocupada pela Coreia do Norte.

Apenas 9% dos 180 países analisados têm situação considerada "boa" em termos de liberdade de imprensa, contra 12% em situação "muito grave".

Na América Latina, o diagnóstico da RSF opõe "uma ligeira melhora" a "persistentes violências, impunidade e medidas autoritárias".

O melhor país da região é a Costa Rica (10º, quatro postos a menos), descrita como possuidora de "exercício relativamente livre da profissão e legislação avançada em matéria de liberdade de imprensa".

Na outra ponta, o pior país da região é Cuba, que segue na 172ª posição graças ao "monopólio quase absoluto sobre a informação" e ao silenciamento de vozes dissidentes.

A queda mais acentuada se deu na Venezuela (143ª posição, seis postos a menos), onde, diz o relatório, imprensa de oposição e correspondentes internacionais são alvos recorrentes da polícia.

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