Descrição de chapéu Venezuela

Quintuplica total de venezuelanos em escolas de Roraima, e já faltam vagas

Estimativas indicam que estado deve se tornar neste ano o quinto com mais alunos estrangeiros no país

Brasileira exibe cartaz contra xenofobia em Boa Vista, Roraima
Brasileira exibe cartaz contra xenofobia em Boa Vista, Roraima - Mauro Pimentel - 25.fev.18/AFP
Álvaro Fagundes
São Paulo

O aumento de quase 400% em dois anos no total de venezuelanos nas escolas de Roraima fez o espanhol se tornar mais comum nas salas de aulas do estado. Agora, porém, a rede pública já não dá mais conta da demanda e sofre com a falta de vagas.

No ano passado, havia 1.096 estudantes venezuelanos nos colégios municipais e estaduais de Roraima, alta de 377% em relação a 2015, quando a crise econômica do país vizinho ficou ainda mais grave, segundo dados do Inep (instituto de pesquisa ligado ao Ministério da Educação) sobre a educação básica no Brasil. 

Os números de 2017 já chamam atenção, mas são tímidos perto do cenário atual. Só o governo de Roraima estima ter hoje 1.200 alunos da Venezuela --o que significa que o total na rede estadual triplicou em um ano. Admite a superlotação em algumas salas e que nem todos os refugiados conseguiram lugar. "Houve um pouco de tumulto", diz Graciela Ziebert, diretora da Secretaria de Educação.

A falta de recursos para a educação foi um dos motivos que levaram a administração estadual a pedir recentemente ao STF o fechamento temporário da fronteira. O governo de Michel Temer, que já se opôs à medida, tem até meados do mês que vem para se manifestar sobre o pedido.

A gestão Suely Campos (PP), que desde 2016 atrasa salários de servidores e pagamento de fornecedores, diz que nos últimos três anos mais de 50 mil venezuelanos atravessaram a fronteira --equivalente a 10% da população do estado-- e cobra auxílio federal.

Na capital, Boa Vista, que se tornou o principal destino dos imigrantes, o cenário não é muito diferente do vivido pela rede estadual. A prefeitura calcula que hoje há 1.815 venezuelanos nas escolas, mais que o dobro do ano passado.

O município também afirma que está no limite da capacidade (tem 38 mil alunos no total) e diz que pediu ao governo federal 50 salas de aula tipo contêiner para conseguir dar conta da demanda.

A soma desses números seria suficiente para que em 2017 Roraima, a menor população do país, fosse o quinto estado com mais alunos, logo atrás do Rio, em uma lista liderada com folga por São Paulo. 
No ano passado, mesmo com o forte aumento, o estado estava em 14º lugar.

Vale ressalvar que o cálculo não leva em conta as redes privada e federal nem os estrangeiros de outros países. Também fica de fora a cidade fronteiriça de Pacaraima, que até 2015 era o destino favorito dos venezuelanos no estado.

Não há estimativa de quantos estudantes não conseguiram uma vaga para o atual ano letivo em Roraima.

A ONG Fraternidade sem Fronteiras, que trabalha com refugiados venezuelanos, afirma ter conseguido lugar para 75 jovens, mas que outros 20 não obtiveram vaga nas escolas de Boa Vista.

Uma proporção similar acontece na casa de Adriano Goncalvez, 38, que chegou ao estado há dois meses. Dos seus quatro filhos, os mais jovens (de 4, 6 e 14 anos) estão estudando, mas o de 16 anos não teve a mesma sorte.

"Ele é rebelde, mas quer estudar. Preciso de uma instituição que ajude na formação da educação dele", afirma Adriano, que trabalhava como operador de máquinas em seu país de origem e ainda não conseguiu emprego no Brasil.

De acordo com ele, as crianças têm tido dificuldade para se adaptar à cultura brasileira, mas estão sendo bem tratadas na escola em Boa Vista.

Adriano afirma não ter planos de sair do Brasil, já que sua família não vive mais na Venezuela: uma irmã está no Equador e outra foi junto com a mãe para o Panamá.

O governo estadual afirma que espera o primeiro bimestre letivo acabar para criar um programa de capacitação para os professores, já que uma das dificuldades é que os currículos venezuelano e brasileiro têm muitas diferenças.

Ziebert, da Secretaria de Educação, diz que essa é uma nova realidade para alunos e professores e que, apesar do aumento na chegada dos venezuelanos no estado nos últimos anos, o governo não esperava demanda tão grande.

A Prefeitura de Boa Vista afirma que, além dos pedidos de salas de aula para o governo federal, tem realizado projetos sociais para ajudar na adaptação dos jovens ao país.

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