Descrição de chapéu
Coreia do Norte

Sucesso de reunião depende de traduzir 'desnuclearização'

Enquanto Seul e Washington querem erradicação de armas, Pyongyang aposta em congelamento

Kim Jong-un aparece de calça e blazer pretos completamente fechado, enquanto Moon Jae-in veste terno preto com camisa branca e gravata azul royal; o sul-coreano coloca a mão esquerda nas costas do colega, enquanto abre a outra mão; ao fundo, uma obra de arte replicando montanhas em que o azul predomina
Os mandatários da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e da Coreia do Sul, Moon Jae-in, sorriem em encontro na Casa de Paz da vila de Panmunjom, na zona desmilitarizada entre os dois países - AFP

Se os líderes das duas Coreias conseguirem se entender sobre o que significa "desnuclearização", o encontro entre eles nesta sexta (27) poderá ser tido como avanço.

É o que antecipou o governo sul-coreano: "Se o desejo norte-coreano de se desnuclearizar puder ser estipulado e se o acordo a respeito significar a completa desnuclearização da península Coreana, acho que a cúpula será um sucesso", disse Im Jong-seok, o chefe de gabinete do presidente Moon Jae-in.

Como, até a véspera do encontro, cada lado interpretava desnuclearização? Para o Sul (e seus aliados, Japão e EUA), trata-se de um processo amplo, irreversível e verificável no qual o Norte abdicaria de todas as armas nucleares.

Para o Norte, no entanto, a meta sempre foi um acordo que congelaria parcialmente o programa nuclear, comenta para o Financial Times Victor Cha, conselheiro da Casa Branca que negociou com a Coreia do Norte.

Além desse processo parcial, Kim Jong-un, o ditador norte-coreano, quando fala de "desnuclearização da península Coreana", tem em mente também a redução da presença dos EUA na área.

Não é fácil, portanto, o meio-termo. E, mesmo que alcançado, seria apenas um primeiro passo: como diz Im, o tema da desnuclearização envolve mais do que as Coreias, uma maneira elíptica de dizer que passa também, inexoravelmente, pelos EUA. Portanto, passa pelo encontro que Kim terá com o presidente Donald Trump mais adiante.

A desnuclearização afeta o outro grande ponto na agenda —a assinatura de um acordo de paz para sacramentar o fim do conflito de 1953, suspenso em um armistício.

Já houve em outubro de 2007, uma "declaração de paz", assinada entre os então presidentes Kim Jong-il (Norte) e Roh Moo-hyun (Sul). Dizia que "o Sul e o Norte ambos reconhecem a necessidade de encerrar o atual regime de armistício e construir um regime permanente de paz".

Ficou nas palavras, entre outras razões porque a Coreia do Sul sempre condicionou um acordo permanente de paz à desnuclearização do Norte.

Ou seja, já se estava, há 11 anos, lutando com a definição precisa do termo, prova da dificuldade de entendimento.

De lá para cá, o que mudou apenas tornou mais difícil um acordo, até porque o programa nuclear (e balístico) norte-coreano só fez avançar.

Avançou tanto que Kim se dispôs a anunciar, neste ano, uma série de medidas de distensão, abrindo caminho para o encontro com Trump, que é o verdadeiramente decisivo.

O ditador norte-coreano acredita que se apresentará nesse encontro como uma potência nuclear pronta a negociar nessa condição e não como Estado forçado a se desarmar. A cúpula desta sexta vai endossá-lo ou desmenti-lo.

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