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Tecnologia da informação fará ditaduras mais eficientes, diz historiador

Para Yuval Noah Harari, concentração de dados pode manipular população em prol de ditaduras e fascismo

Amanda Nogueira
São Paulo

O maior perigo que a democracia liberal enfrenta é que a revolução na tecnologia da informação fará com que ditaduras sejam mais eficientes do que democracias.

A afirmação foi feita pelo historiador israelense Yuval Noah Harari durante sua apresentação, nesta terça (11), no TED, conferência que acontece em Vancouver, no Canadá, e reúne líderes, pesquisadores e pessoas com propostas de melhorias em diversas áreas de estudos.

Yuval Noah Harari se apresenta por videoconferência no TED, que acontece em Vancouver, no Canadá
Yuval Noah Harari se apresenta por videoconferência no TED, que acontece em Vancouver, no Canadá - TED

Harari, que compareceu ao evento por meio de uma videoconferência, expôs algumas ideias que fundamentam "Homo Deus – Uma Breve História do Amanhã", livro no qual ele arrisca mapear as tendências das tecnologias e suas graves implicações para a humanidade nos próximos séculos.

A fusão da tecnologia da informação com a biotecnologia, diz o escritor, poderia resultar algoritmos que conhecem as pessoas melhor do que elas mesmas. Com essa ferramenta em mãos, um ditador poderia prever decisões e manipular sentimentos da população.

"Ele pode não ser capaz de me prover uma boa assistência médica, mas será capaz de me fazer amá-lo e me fazer odiar a oposição", exemplifica. "Democracia achará difícil sobreviver a essa evolução, porque no fim das contas ela não é baseada na racionalidade humana. É baseada em sentimentos humanos."

Para prevenir a ascensão do fascismo e evitar novas ditaduras, o historiador propõe a engenheiros que encontrem maneiras de impedir que informações fiquem concentradas nas mãos de poucos e se certifiquem de que o processamento de informação distribuído seja tão eficiente quanto o centralizado. "Essa será a principal salvaguarda da democracia", diz.

"Para o resto de nós que não somos engenheiros, a principal questão com a qual nos deparamos é como não permitir que sejamos manipulados por aqueles que controlam a informação", diz Harari.

É preciso, diz, conhecer nossas próprias fraquezas. "O fascismo explora nossa vaidade, é uma sedução, mas se você realmente se conhece você não vai cair nesse tipo de bajulação."

VAZAMENTO DE DADOS

A apresentação de Harari ganha força em um momento em que se discute privacidade e segurança no meio digital após dados de 87 milhões de usuários do Facebook serem violados e direcionados à consultoria de campanhas políticas Cambridge Analytica.

Para o historiador, não há grande diferença entre um governo e uma corporação quando se trata de monopólio de dados. "Se é uma corporação que controla a informação, então esse é o nosso verdadeiro governante", diz.

"Em tempos de crises, as pessoas estão dispostas a correr riscos. As grandes guerras aceleraram o desenvolvimento de tecnologias perigosas e o mesmo pode acontecer no século 21", afirma. 

Harari afirma que, em tese, as pessoas podem se levantar contra uma corporação ou uma ditadura, mas, na prática, é extremamente difícil, pois não saberiam distinguir o seu eu  autêntico do que está sendo manipulado.

"Como um historiador, aprendi a nunca subestimar a estupidez humana. É uma das forças mais poderosas que contornam a história."
 

 
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