Descrição de chapéu Venezuela

UE faz mais por venezuelanos do que latinos, diz ex-presidente boliviano

Aliado da oposição a Nicolás Maduro, Jorge Quiroga diz que países precisam aplicar sanções

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De terno azul marinho e gravata vermelha, Jorge Quiroga aparece falando e gesticula com a mão direita; à sua frente sai uma placa com seu nome e a inscrição "Estado Plurinacional da Bolívia" em inglês; atrás, painel azul com o símbolo da Concordia, organização não governamental
O ex-presidente da Bolívia Jorge Quiroga participa de evento em Nova York em setembro passado - Bryan Bedder - 19.set.17/Getty Images for Concordia Summit/AFP
Lima

Para o ex-presidente boliviano Jorge "Tuto" Quiroga, que governou seu país em 2001 e 2002 e hoje apoia a oposição venezuelana, "a União Europeia está fazendo mais pressão para enfrentar a crise na Venezuela do que os latino-americanos, e isso deveria mudar".

Em entrevista à Folha, em Lima, Quiroga, 57, explicou o documento que os opositores à ditadura de Nicolás Maduro entregaram à Cúpula das Américas para debate entre os líderes presentes.

Trata-se de um conjunto de propostas consensuais entre ele e líderes da oposição venezuelana como Antonio Ledezma, David Smolansky e Julio Borges, presentes em Lima, e María Corina Machado e Leopoldo López, impedidos de deixar a Venezuela.

 

Folha - O que é o documento?

Jorge Quiroga - São três pacotes [na proposta entregue]. O primeiro inclui sanções e bloqueios de bens não apenas de funcionários do governo de Maduro, mas também de seus familiares, amigos e laranjas. Há ainda a expulsão de familiares que estejam usufruindo dos bens desses funcionários, como filhos estudando em universidades em outros países. Também incluímos aí cortar relações diplomáticas e tirar todos os embaixadores que estão na Venezuela antes de 20 de maio.

Por que antes das eleições? Alguns países já disseram que não as vão reconhecer.

Imagine que estamos na Medellín dos anos 1980 e eu fico sabendo que Pablo Escobar manda matar você no dia 10. Você acha correto que eu te diga: 'veja, no dia 11 vou dizer que fui contra?' As coisas têm de ser feitas agora, antes que a tragédia aconteça.

E o segundo pacote?

Seria relacionado à questão humanitária. É necessária uma intervenção, quer Maduro esteja de acordo com ela ou não, por meio de um órgão como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha ou outro, respaldado por organismos internacionais. Abrir um corredor humanitário e levar comida e remédios.

A Venezuela passou de exportador de petróleo a exportador de sarampo. Isso não pode ocorrer com outras doenças. Precisamos parar isso.

Ainda neste pacote, está a questão migratória, que tem de ser mais bem organizada.

Nossa proposta é algo como o TPS oferecido pelos EUA a habitantes de países centro-americanos depois das tragédias naturais na região [Temporary Protected Status, que não garante a permanência definitiva mas protege da extradição e reserva direitos].

O TPS seria concedido a refugiados venezuelanos por vários países, latino-americanos e europeus, e incluiriam um esquema para que os refugiados pudessem se matricular em escolas e universidades equivalentes às que frequentavam, bem como serem inseridos no mercado de trabalho. Teria de ser um compromisso internacional.

Seguramente o Brasil e a Colômbia teriam de receber mais refugiados, porque estão mais perto, mas sugerimos um TPS amplo, que inclua quem puder ajudar, seja de que continente for.

Chegamos ao terceiro ponto.

É pedir uma atuação mais efetiva da OEA e de outros organismos internacionais e fazer com que a denúncia que está sendo preparada para o Tribunal Penal Internacional seja levada adiante por um ou mais Estados. A denúncia está praticamente pronta, mas um ou mais Estados têm de apresentá-la formalmente.

Aqui também cabe repensar a questão do petróleo. Há um mito de que impor sanção ao petróleo seria prejudicial ao povo venezuelano. Isso é mentira. O petróleo já foi roubado por esse governo. E os lucros estão sendo desviados pela cleptocracia, não vão para a população.

O sr. acha que a União Europeia está adiante da América Latina em tomar medidas?

Sim, até os suíços, os mais neutros do mundo, estão pedindo sanções. Estamos atrás, e isso deveria mudar. Temos de colocar em andamento um plano de isolamento internacional já, e não esperar as eleições, que, ninguém tem a menor dúvida, vão resultar no endurecimento da ditadura.

Como vê a tentativa de Evo Morales de tentar um quarto mandato na Bolívia?

É absurdo. Ele está usando a cláusula da Convenção Interamericana de Direitos Humanos que diz que qualquer cidadão pode se candidatar à Presidência. Estamos trabalhando para que a Justiça e os organismos internacionais impeçam. Isso já foi usado na América Central, e não duvido que Rafael Correa tente [no Equador]. Os órgãos internacionais têm de estar atentos.

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