Vantagem reduzida impõe obstáculos a presidente eleito do Paraguai

Margem do colorado Mario Abdo inferior a apontada por pesquisas o obriga a negociar com oposição

O president eleito do Paraguai, Mario Abdo, comemora vitória, em Assunção - Jorge Saenz/Associated Press
Diego Zerbato
Assunção

Ao pregar a união do país, o presidente eleito do Paraguai, Mario Abdo Benítez, 46, mostrou que não terá as mesmas facilidades do também colorado Horacio Cartes para governar.

“As divisões estéreis acabaram hoje, acabou o debate, agora o povo falou. Eu vou me dedicar a unir a República do Paraguai”, disse, em seu discurso da vitória na noite de domingo (22).

Nesta segunda (23), confirmou-se a expectativa de que Marito não terá maioria no Senado, o que deve se repetir na Câmara de Deputados, cujo resultado deve ser anunciado até o fim da semana.

Para analistas, a composição do Congresso é só o primeiro dos desafios para a governabilidade em um país em que a instabilidade política atingiu todos os governos nos últimos 25 anos.

Sara Mabel Villalba, doutora em processos políticos pela Universidade de Salamanca, considera que um Legislativo mais diverso será positivo. “O Parlamento funcionaria como um contrapeso ao Poder Executivo e ao Poder Judiciário que está partidarizado”, disse.

Segundo ela, isso dificultará a aprovação de medidas mais impopulares, como o crescimento da dívida pública para bancar obras de infraestrutura.

 
Outra questão é a manutenção da união entre os colorados. Uma das chaves é a reação do grupo do atual presidente, que foi eleito para o Senado e a quem seu futuro sucessor criticou nas primárias.

“Marito aglutinou setores do Partido Colorado que têm oposições muito marcadas. Não vejo pontes em comum.”, disse José Sánchez Gómez, pesquisador da Universidade Cornell, dos EUA.

“Supõe-se que Cartes será o primeiro a ser procurado por causa de seus interesses políticos e financeiros. Na campanha Cartes se aproximou mais de Marito que Marito de Cartes.”

Por outro lado, afirma o cientista político, é possível um apoio à nova administração de setores do Partido Liberal. A maioria dos senadores da sigla é ligada a Blas Llano, mais próximo dos colorados que o ex-presidenciável Efraín Alegre.

Isso poderá ajudar, principalmente, na intenção do presidente eleito de fazer uma reforma constitucional para alterar a forma de indicação ao Judiciário e a lei eleitoral.

DIFERENÇA

Sánchez e Villalba atribuem a diferença de 3,7 pontos percentuais entre Marito (46,5%) e Efraín (42,9%) a erros de campanha. Para o primeiro, o colorado foi às urnas mais fraco que Cartes em 2013, enquanto o liberal se fortaleceu em sua segunda tentativa de chegar à Presidência.

Já a segunda considera que o opositor falhou ao não dar uma guinada à esquerda, como sugeria sua aliança com a Frente Guasú, do ex-presidente Fernando Lugo, e ao não atacar o elo do colorado com a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989).

“Ele não soube aproveitar essas diferenças com sua candidatura e isso levou a que perdesse votos e isso pode ser demonstrado pela quantidade de votos brancos e nulos.”

Efraín também foi prejudicado, segundo Villalba, pela demora em formalizar a coalizão com Lugo, selada em fevereiro. “A aliança tinha se formado muito depois de que os candidatos colorados começaram a campanha.”

A cientista política ainda elenca como fator a afetar o processo eleitoral a exibição de pesquisas de boca de urna durante o horário de votação, embora sem os nomes dos candidatos.

Elas repetiam os resultados dos levantamentos anteriores, em que o colorado aparecia com ao menos dez pontos de vantagem para o adversário ---diferença que não se confirmou nas urnas.

Este aspecto foi criticado pela ex-presidente costa-riquenha Laura Chinchilla, chefe da missão de observadores da OEA, em uma de suas ressalvas em uma votação sem incidentes graves.

PARABÉNS

Em uma demonstração de união dos presidentes de direita da América Latina, os primeiros a ligarem para dar parabéns a Marito foram Mauricio Macri (Argentina) e Sebastián Piñera (Chile).

O presidente Michel Temer conversou na manhã desta segunda com o paraguaio. “Disse-lhe que estamos empenhados em continuar trabalhando com os paraguaios para aumentar o comércio e os investimentos, a segurança nas fronteiras e a integração de nossa infraestrutura.”

“Nossos povos estão destinados à integração e, em meu governo, intensificaremos a sólida e frutífera agenda bilateral com o Brasil”, afirmou o paraguaio.

Houve também agradecimentos do colorado a outros líderes, como o boliviano Evo Morales, o equatoriano Lenín Moreno, o colombiano Juan Manuel Santos e o mexicano Enrique Peña Nieto.

Não há informações, porém, se ele recebeu os cumprimentos do mandatário venezuelano, Nicolás Maduro, a quem criticou em entrevista na manhã deste domingo.

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