Descrição de chapéu The New York Times

Zuckerberg se contradiz sobre interferência russa em eleição; veja checagem

CEO do Facebook prestou depoimento ao Senado nesta terça-feira (10) e irá à Câmara na quarta

De terno azul marinho e gravata azul, Zuckerberg aparece de perfil esquerdo, olhando para mesa dos senadores (não aparece na imagem), enquanto fala em um microfone de mesa
O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, presta depoimento ao Senado americano nesta terça-feira (10) - Brendan Smialowski - 10.abr.18/AFP
Sheera Frankel Linda Qiu
The New York Times

Mark Zuckerberg, o executivo-chefe do Facebook, está depondo no Congresso dos EUA nesta terça (10) e quarta-feira (11), respondendo a perguntas sobre o fracasso da rede social em proteger os dados de milhões de usuários e seu papel na interferência russa na eleição presidencial de 2016.

Aqui estão algumas afirmações de Zuckerberg, assim como dos parlamentares, cuja veracidade verificamos.

 

“Nós fizemos mudanças em 2014 que teriam evitado o que aconteceu com a Cambridge Analytica acontecesse hoje.” 

Não exatamente... A Cambridge Analytica, uma firma de dados políticos, usou informação que havia sido coletada de até 87 milhões de usuários do Facebook vários anos atrás para formar perfis psicológicos dos eleitores. O Facebook anunciou mudanças em 2014 para limitar o acesso de novos aplicativos aos dados de seus usuários, mas foi só em 2015 que a companhia aplicou mudanças para afetar todos os apps da plataforma. 

 

Quando perguntado quando o Facebook soube das operações de influência da Rússia na rede social, Zuckerberg disse: “Exatamente na época da eleição de 2016”.

Contraditório O Facebook há muito tempo afirmou que não sabia como agentes russos usaram sua plataforma para influenciar a eleição presidencial até meados de 2017. Enquanto Alex Stamos, diretor de informações do Facebook, advertiu a companhia de que hackers russos podem ter atuado na plataforma em meados de 2016, ele disse que estava procurando brechas na segurança cibernética, e não campanhas de desinformação ligadas às eleições.

Na terça-feira, Zuckerberg citou pela primeira vez 2016 como data em que a empresa identificou novas operações ligadas à eleição. 

 

“Você não pode ter uma conta falsa no Facebook. Seu conteúdo tem de ser autêntico.”

Verdadeiro, mas... O Facebook exige que as pessoas se registrem nas contas com seus verdadeiros nomes. Mas o fato é que contas falsas e páginas falsas persistiram na rede social.

Agentes russos criaram contas no Facebook com identidades falsas antes da eleição presidencial de 2016. E só nesta semana o Facebook removeu uma popular página do Black Lives Matter (Vidas Negras Importam, em inglês) depois que se descobriu que não era autêntica.

 

“A Cambridge Analytica não estava usando nossos serviços em 2015, pelo que sabemos.”

Falso. Ex-funcionários da Cambridge Analytica disseram a “The New York Times” que já usavam o Facebook em 2014. Zuckerberg disse mais tarde que tinha se enganado.

 

“Na verdade, a primeira linha de nossas condições de uso diz que você controla e possui a informação e o conteúdo que você coloca no Facebook.” 

Verdadeiro, mas... Durante a audiência, mostraram a Zuckerberg as condições de uso do app de teste que Alexander Kogan, um acadêmico russo-americano, usou para obter dados de usuários do Facebook.

A letra miúda talvez dissesse aos usuários que seus dados poderiam ser usados para fins comerciais, segundo um rascunho das condições de uso do app que foi revisado pelo “Times”, e que foi mostrada a Zuckerberg pelo senador democrata Richard Blumenthal, de Connecticut.

Em outras palavras, parece que o Facebook talvez não tenha verificado regularmente para garantir que os apps estivessem de acordo com suas regras. 

O texto final das condições de uso do app de Kogan hoje é provavelmente desconhecido. Executivos do Facebook disseram que deletaram o app em dezembro de 2015, depois que descobriram sobre a coleta de dados. 

 

Quando foi perguntado se os usuários do Facebook e seus amigos haviam consentido em compartilhar seus dados com o app de Kogan, Zuckerberg disse: “Acredito que apresentamos essa plataforma de desenvolvedor e explicamos às pessoas como ela funcionava e elas consentiram”.

Não exatamente. Os usuários do Facebook que baixaram o aplicativo de teste de Kogan consentiram em compartilhar suas informações e as de seus amigos ao concordar com as condições do app. Mas seus amigos não estavam cientes de que suas informações tinham sido compartilhadas e não concederam autorização expressa.

E notas em letra miúda muitas vezes são ignoradas ou mal compreendidas. Várias pessoas que usaram o app disseram ao “Times” que não tinham ciência de que ele coletava seus dados. Estudos e pesquisas mostraram que a maioria das pessoas clica concordando com as condições de uso sem realmente as ler.

 

“A campanha do presidente Obama desenvolveu um app usando a mesma função do Facebook que a Cambridge Analytica para captar informações não apenas de milhões de usuários do Facebook, mas de milhões de seus amigos.” (Chuck Grassley, senador republicano) 

Comparação enganosa. Mais de 1 milhão de pessoas baixaram o app da campanha de Obama em 2012, que obtinha acesso aos dados de apoiadores e seus amigos. Os usuários do Facebook que baixaram o app da campanha de Obama estavam cientes de seus objetivos: apoiar e fazer campanha para um candidato político.

Os que baixaram o app de Kogan, porém, acreditavam estar fazendo um teste pessoal para fins acadêmicos e não sabiam que seus dados seriam usados pela Cambridge Analytica.

 

“Compare isso, por exemplo, com uma área como encontrar propaganda terrorista, no que de fato já tivemos grande sucesso empregando ferramentas de Inteligência Artificial.”

Falta contexto. Quão bem sucedido foi o Facebook em encontrar e eliminar propaganda terrorista de sua plataforma ainda está em discussão. O Facebook e outras empresas de rede social foram criticados pelo Parlamento britânico em um relatório de 2017 por “deixar de retirar conteúdo ilegal quando solicitado a fazê-lo —incluindo material de recrutamento terrorista perigoso, promoção de abuso sexual de crianças e incitação ao ódio racial”. O relatório chamou de vergonhosa a falta de ingerência das empresas.

Na semana passada, o Projeto Contra o Extremismo, uma entidade sem fins lucrativos que combate grupos extremistas, também disse que encontrou contas de alguns extremistas que continuavam ativas no Facebook.

 

“Em maio de 2016, o Gizmodo relatou que o Facebook tinha proposital e rotineiramente suprimido histórias conservadoras das principais notícias.” (Ted Cruz, senador republicano)

Falta contexto. Um ex-funcionário do Facebook disse ao Gizmodo em 2016 que pessoas que trabalhavam na rede social impediram que histórias sobre conferências e candidatos de extrema-direita virassem tendência no Facebook. 

Outros ex-funcionários desmentiram essa sugestão e o Gizmodo disse que era “incapaz de determinar se temas de notícias ou fontes de esquerda foram igualmente suprimidas”. O Facebook negou as afirmações na época, mas o episódio salientou a questão de se a rede social era uma entidade de mídia.

 

“Nós já temos uma ferramenta ‘Baixe suas informações’ que permite que as pessoas vejam e retirem toda a informação que colocaram no Facebook.” 

Não exatamente. Enquanto o Facebook recentemente adotou uma ferramenta que permite que as pessoas baixem dados que a plataforma coletou sobre elas, a ferramenta parece estar incompleta. Algumas pessoas notaram que alguns dados estão ausentes, como uma antiga função do Facebook que permite que você “cutuque” pessoas.

O Facebook hoje permite que os usuários optem por sair de certas categorias de dados, incluindo decidir o que é compartilhado com anunciantes. Mas certos dados básicos sempre serão compartilhados com a companhia, a menos que a conta do Facebook seja permanentemente deletada pelo usuário.

 

“Eu não acredito que algum dia coletamos o conteúdo de telefonemas.”

Verdadeiro, mas... Embora o Facebook não colete o conteúdo de telefonemas, ele vem coletando registros e dados de SMS de dispositivos Android que têm o app Facebook instalado. 

Os usuários de Android que baixaram recentemente os dados que o Facebook armazena sobre eles ficaram surpresos ao saber que a companhia tinha informações sobre todo o seu histórico de ligações, remontando a anos. 

O Facebook explicou recentemente em uma postagem em blog que os usuários podem optar por que o Facebook não colete esses dados. 

Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

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