Abbas enfrenta críticas após discurso considerado antissemita

Israel, EUA, ONU e UE condenam fala de líder palestino de que judeus provocaram Holocausto

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O presidente palestino, Mahmoud Abbas, em reunião em Ramallah, na Cisjordânia - Mohamad Torokman - 30.abr.2018/Reuters
São Paulo e Jerusalém | Reuters

 Declarações do presidente palestino, Mahmoud Abbas, sobre as causas do antissemitismo na Europa foram criticadas nesta quarta-feira (2) pela ONU, pela União Europeia, pelos EUA e por Israel, que as consideraram antissemitas.

Em um discurso diante do Conselho Nacional Palestino na segunda-feira (30 de abril), Abbas disse que foi a função social da usura (empréstimo de dinheiro com juros) realizada por judeus o que causou animosidade contra eles na Europa.

Abbas também retratou a criação de Israel como um projeto colonial europeu, dizendo que "a história nos diz que não há base para uma pátria judaica".

Judeus europeus sofreram massacres "a cada 10 ou 15 anos em algum país desde o século 11 até o Holocausto", disse Abbas. 

Citando o que disse ser livros de autores judeus, ele acrescentou: "Eles dizem que o ódio contra judeus não era por causa de sua religião, mas por causa de sua função social. A questão que se espalhou contra os judeus pela Europa não foi por causa de sua religião, mas por causa da usura e dos bancos." 

O coordenador especial da ONU para o processo de paz no Oriente Médio, Nickolai Mladenov, disse que Abbas proferiu "alguns dos insultos antissemitas mais condenáveis". 

"Líderes têm obrigação de confrontar o antissemitismo em todos os lugares e sempre, e não perpetuar as teorias da conspiração que o fomentam", afirmou Mladenov em nota. "Negar a conexão histórica e religiosa do povo judeu à terra e a seus lugares sagrados em Jerusalém contrasta com a realidade." 

"Abu Mazen alcançou o fundo do poço ao atribuir a causa de massacres do povo judeu a seu 'comportamento social'", afirmou o embaixador de Israel nos EUA, David Friedman, referindo-se a Abbas por seu apelido. "Para todos aqueles que pensam que Israel é a razão pela qual não temos paz, pensem novamente."

O enviado especial do presidente Donald Trump para negociações internacionais, Jason Greenblatt, também reagiu às declarações, chamando-as de "muito angustiantes e terrivelmente desanimadoras". 

A retórica reflete a atual escalada de tensões entre palestinos e israelenses e entre palestinos e o governo Trump. As relações com os EUA azedaram desde que Trump decidiu reconhecer Jerusalém como a capital de Israel no ano passado.

Em nota, o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, disse que a fala de Abbas foi "o ápice da ignorância" e que o líder palestino "estava novamente recitando os piores slogans antissemitas". 

"Para que, uma vez um negador do Holocausto, sempre um negador do Holocausto", escreveu Netanyahu em uma rede social. "Peço que a comunidade internacional condene o grave antissemitismo de Abu Mazen, que deveria há muito tempo ter desaparecido deste mundo."

A União Europeia disse em comunicado que o discurso "continha declarações inaceitáveis sobre as origens do Holocausto e a legitimidade de Israel". 

O comunicado disse ainda que "tal retórica só vai valer nas mãos daqueles que não querem uma solução de dois Estados, algo que o presidente Abbas repetidamente advogou". 

"O antissemitismo é uma ameaça não apenas para os judeus, mas é uma ameaça fundamental para as nossas sociedades abertas e liberais", disse ainda. 

Organizações judaicas se somaram às críticas. "O discurso de Abbas em Ramallah foram as palavras clássicas de um antissemita", disseram Marvin Hier e Abraham Cooper, do Simon Wiesenthal Center, nos EUA.

No Brasil, o presidente da Conib, Fernando Lottenberg, também condenou a fala de Mahmoud Abbas.

“A recente afirmação do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, de que os próprios judeus seriam os responsáveis pelo Holocausto, reflete mais uma vez sua insistência em um posicionamento abertamente antissemita. No final de sua longa carreira, Abbas retoma teses anteriormente defendidas e demonstra seu fracasso em combater posições insustentáveis, de incitação ao ódio e de racismo dentro da Autoridade Palestina”, afirmou Lottenberg.

O governo Abbas não respondeu às críticas. O negociador chefe palestino, Saeb Erekat, disse que as palavras de Abbas haviam sido distorcidas e que ele havia citado a opinião de alguns historiadores.

"O presidente não negou os massacres aos quais os judeus foram submetidos, incluindo o Holocausto", disse Erekat em nota publicada pela agência palestina Wafa. "O presidente Abbas ressaltou frequentemente seu respeito pela religião judaica, e que nosso problema é com quem ocupa nossa terra."

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