Descrição de chapéu
israel

Ação de Israel visa tentar limitar expansão do Irã, mas pode acabar em guerra

Risco de escalada na região é grande depois do primeiro ataque direto do Irã contra o país

Cinco tanques de guerra aparecem lado a lado, de frente, em um descampado de cor verde claro; ao fundo, podem-se ver algumas árvores à distância
Tanques de guerra israelenses perfilam em área próxima à fronteira com a Síria nas colinas de Golã - Menahem Kahana/AFP
Igor Gielow
São Paulo

Com o maior ataque a alvos iranianos em território sírio desde o início da guerra civil no país árabe, em 2011, Israel busca estabelecer limites para a expansão militar promovida por Teerã.

Sintomaticamente, o Irã não reagiu imediatamente à destruição de suas instalações na Síria, onde dispõe talvez de 100 mil homens seus e da milícia xiita libanesa Hizbullah em ao menos 14 bases.

O silêncio pode ser visto como a compreensão à ameaça direta feita pelo belicoso ministro da Defesa israelense, Avigdor Lieberman, que prometeu uma "inundação" se "chover" sobre seu país.

O risco de escalada é grande. Os iranianos fizeram um teste aparente na véspera, quando atacaram posições israelenses nas colinas de Golã, território sírio tomado na guerra de 1967. Tendo ocorrido como diz Israel, foi o primeiro ataque direto do Irã contra o país.

O ataque veio após Donald Trump anunciar a saída dos EUA do pacto que visava manter o Irã sem a bomba atômica. A situação piorou, mas já estava longe de ser boa, e um conflito talvez seja inevitável.

Não que ele seja uma proposição simples. Apesar de parecerem perto no mapa, há quase 2.000 km entre as bases aéreas israelenses e Teerã, e nenhum dos dois países tem condições de sustentar uma campanha militar terrestre contra o outro —é preciso ter linhas de suprimento constantes ou uma força expedicionária, implausíveis.

Assim, até aqui as previsões de conflito incluíam apenas os grupos que agem a soldo dos aiatolás, o Hizbullah e o Hamas palestino em Gaza.

Míssil antiaéreo aparece com rastro de cor amarela em um fundo escuro, de céu claro noturno
Imagem mostra míssil antiaéreo disparado pelo Exército sírio em Damasco na madrugada desta quinta-feira (10), quando a cidade foi alvo de ataques do Irã - Sana/AFP

A intervenção ocorrida a partir de 2015 com a Rússia para salvar a ditadura de Bashar al-Assad deu ao Irã a possibilidade de se aproximar das fronteiras israelenses.

Não permite um embate terrestre direto, mas facilita o posicionamento do Hizbullah em uma segunda frente, se é que anos de combate na Síria não exauriram as capacidades mais imediatas do grupo.

Binyamin Netanyahu viu na mera ameaça a oportunidade de reforçar sua questionada liderança e ampliou os ataques a alvos iranianos —talvez buscando gerar discórdia entre aliados, desta vez deixou claro que avisou a Rússia de sua ação e não alvejou Assad.

Os russos sempre fizeram vista grossa aos ataques de Israel a linhas de suprimento do Irã ao Hizbullah pela Síria. Foram cem desses desde 2011.

O tom havia mudado em abril, com críticas de Moscou a ataques contra Assad, mas as horas que Netanyahu passou com Vladimir Putin na Rússia na quarta (9) podem ter acertado ponteiros.

Israel é menor do que o Irã, mas militarmente é mais eficaz. Sua aviação é moderna, centrada nos americanos F-16 e F-15, e logo estará operando F-35 de última geração.

Os iranianos, por sua vez, usam aviões americanos anteriores à revolução de 1979 e alguns poucos russos MiG-29. Teerã tem, contudo, mais de mil mísseis balísticos intermediários a ameaçar Israel.

Já Tel Aviv tem a contenção definitiva: a bomba atômica, talvez 80 ogivas que o governo finge não existirem. É arma dissuasória, claro, mas a política israelense é baseada na premissa de que seus adversários falam sério quando, a exemplo do Irã, pregam a destruição do Estado judeu.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.