Alunos relatam pânico ao ouvirem disparos do ataque que matou dez no Texas

Caso aconteceu em Santa Fé, sul do estado, nesta sexta (18)

Oficiais chegam à escola de Santa Fé após ataque a tiros - AP
Silas Martí
Nova York

O dia em que dez pessoas, nove alunos e um professor, foram mortos a tiros numa escola de Santa Fé, um subúrbio nos arredores de Houston, no estado americano do Texas, começou com o som de um alarme de incêndio seguido de disparos e gritos desesperados das vítimas.

Muitos dos estudantes não viram o suposto atirador, um aluno de 17 anos chamado Dimitrios Pagourtzis, já detido pelos policiais, mas se lembram horrorizados dos ruídos da chacina que acontecia ali.

“Ouvi bum, bum, bum, e então saí correndo para me esconder no bosque e ligar para a minha mãe”, disse uma aluna às câmeras de TV. “Ninguém deveria passar por isso, ninguém deveria sentir essa dor.”

Outra aluna, Angelica Martinez, conta que saiu correndo da sala de aula quando ouviu o alarme de incêndio, pensando ser só um ensaio de rotina em casos de fogo no colégio, e então ouviu os primeiros tiros.

“Eu só estava correndo. Parecia que os tiros estavam vindo de dentro da escola”, ela lembra. “Logo que ouvi os disparos, eu liguei para a minha mãe e disse que havia um atirador e estavam tentando tirar todo mundo do prédio.”

Na hora do ataque, que aconteceu por volta das 7h45 desta sexta no horário local –9h45 em Brasília–, dois policiais estavam no colégio e tentaram conter o atirador. Um deles ficou ferido e está agora internado em estado crítico.

Uma aluna que se escondeu no auditório da escola conta que não demorou para entender o que aconteceu. “Ouvi uns barulhos muito altos, não sabia o que eram na hora, mas aí quando ouvi os gritos eu entendi”, disse. “Isso está acontecendo em todos os lugares, então pensei que também poderia acabar ocorrendo aqui.”

O estudante Tyler Turner, que disse ter visto um menino suspeito no corredor, conseguiu sair do colégio e lembra ver também algumas vítimas que fugiram com vida, entre elas uma menina baleada no joelho –outros dez feridos no ataque foram encaminhados para hospitais nos arredores.

Ele conta ainda que alguém acionou o alarme de incêndio quando notou que um garoto estava armado, na tentativa de esvaziar o colégio o mais rápido possível. Outras testemunhas, no entanto, dizem que o próprio atirador ou um cúmplice teria disparado o alarme para alvejar estudantes enquanto saíam das salas.

Mais dois suspeitos de colaborar com o autor do massacre também estão sendo interrogados pela polícia no local.

Bombas caseiras e panelas de pressão, usadas para montar explosivos, foram encontradas na cena do crime e no trailer onde o suspeito vivia –semanas antes do ataque, Dimitrios Pagourtzis postou nas redes sociais imagens de um revólver, uma faca e um lança-chamas sobre a cama, além de uma camiseta estampada com a frase “nascido para matar”.

Segundo o governador do Texas, Greg Abbott, o autor do ataque planejava se matar depois de fazer suas vítimas, mas se entregou aos policiais.  

O suposto atirador, que usou uma espingarda e um revólver de seu pai no ataque, não tinha nenhum antecedente criminal e era conhecido por sua atuação na defesa do time de futebol americano da escola.

Isso explica o choque de muitos dos 1.400 alunos da Santa Fe High School ao descobrir que ele era o suspeito. O episódio também vem no rastro de outra tragédia –o mesmo subúrbio foi um dos mais afetados pelo furacão Harvey, que atingiu o Texas em agosto e setembro de 2017.

“Muitas crianças estavam tendo ataques de pânico, então ficamos num círculo e rezamos por todos”, disse a estudante Grace Johnson, que se escondeu com colegas e um professor no sótão do colégio. “Já tínhamos ensaiado o que fazer em casos de atiradores, por causa de Parkland.”

Ela lembra, no caso, a escola da Flórida alvo de outro atirador, que matou 17 pessoas ali em fevereiro. O ataque em Santa Fe já é o quarto pior dos últimos 20 anos nos EUA realizado em uma escola, engrossando uma lista que só aumenta –16 casos como esse já foram registrados em 2018.

Vários alunos de Parkland usaram as redes sociais para pedirem mais controle na venda de armas e expressarem apoio às vítimas em Santa Fe.

“Escola de Santa Fe, vocês não merecem isso. Vocês merecem paz em toda a vida, não apenas após uma lápide ser colocada sobre a sua cabeça”, disse Emma Gonzales, sobrevivente do ataque na Flórida. “Vocês merecem mais do que pensamentos e preces, e após vocês nos apoiarem em protestos, nós estamos aqui para dar apoio e eco às suas vozes.”

O presidente americano  Donald Trump disse estar “triste e de coração partido” com o ocorrido no Texas. “Isso já vem acontecendo há muito tempo no nosso país, anos demais, décadas demais”, disse.  “Minha administração está determinada a fazer tudo que puder para proteger alunos e escolas e manter armas fora das mãos de quem representa uma ameaça. É um dia triste.” ​

 

Maiores atentados a tiros em escolas  nos EUA desde 1999*

27 mortos
Newtown, Connecticut (2012)"‚
Adam Lanza, 20, ataca escola Sandy Hook; entre os mortos há 20 crianças

17 mortos
Parkland, Flórida (2018)"‚
O ex-aluno Nikolas Cruz, 19, abre fogo dentro de escola de ensino médio e mata alunos e professores

13 mortos
Columbine, Colorado (1999)"‚
Eric Harris, 18, e Dylan Klebold, 17, invadem escola armados com espingardas e armas semiautomáticas e matam colegas e professores

10 mortos
Santa Fe, Texas (2018)"‚
O estudante Dimitrios Pagourtzis, 17, entrou armado na própria escola e matou nove colegas e um professor

9 mortos
Red Lake, Minnesota (2005)"‚
O ex-aluno Jeffrey Weise, 16, mata seu avô e a namorada dele antes de entrar na escola, onde mata sete alunos usando uma pistola e uma espingarda

*Em escolas de ensino infantil, fundamental e médio

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