Após 15 mortes em protestos, igreja cancela diálogo com governo na Nicarágua

Quarta foi dia de repressão mais violenta desde o início das manifestações contra Daniel Ortega

Grupo de dez manifestantes carregam cruzes pretas de madeira, cada uma delas com uma mochila pendurada e dois cartazes, com o nome da vítima e a cidade de onde ela veio. Entre eles há pessoas com bandeiras da Nicarágua e roupas com as cores do país.
Estudantes universitários levam cruzes em homenagem às pessoas mortas em protestos contra o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, em ato na quarta-feira (30) - Esteban Felix - 30.mai.18/Associated Press
Manágua | AFP, Associated Press e Reuters

Pelo menos 15 pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas desde a manhã de quarta-feira (30) na maior onda de violência nos 40 dias de protestos contra o governo do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega.

A sequência de vítimas, em sua maioria manifestantes atacados pelas forças de segurança e paramilitares aliados ao líder, levou à Igreja Católica a cancelar sua participação nas negociações com o governo nesta quinta (31).

A Conferência Episcopal da Nicarágua considerou as mortes uma agressão sistemática e organizada e anunciou que não voltará à mesa de diálogo para dar fim à crise enquanto “o povo continuar sendo reprimido e assassinado”.

Segundo a polícia, sete pessoas morreram na capital, Manágua, quatro em Estelí, no norte do país, duas em Masaya (sudoeste) e duas em Chinandega (noroeste). Outras 218 ficaram feridas, sendo uma delas com morte cerebral.

O número é superior às 11 mortes apresentadas pelo Centro Nicaraguense de Direitos Humanos. A organização, que é contrária a Ortega, diz que oito foram atingidos por tiros de armas longas usadas pelas forças de segurança.

Porém, o subdiretor da Polícia Nacional, Francisco Díaz, atribui a violência à ação de “grupos de delinquentes que operam usando máscaras”, em alusão aos manifestantes que usam a tática ‘black bloc’ contra os agentes.

A Aliança Cívica por Justiça e Democracia, organizadora dos atos, disse que manterá os protestos de rua, incluindo bloqueios a avenidas. Eles acusam o governo de criminalizar o movimento para justificar a repressão.

“É uma clara violação dos direitos de liberdade de expressão, livre mobilização e responsabilizamos o governo por qualquer ato de repressão”, disse a entidade, que reúne estudantes, empresas e pequenos agricultores.

O Conselho Superior da Empresa Privada reiterou seu pedido pela antecipação da eleição presidencial, que seria em 2021. Em resposta ao empresariado, Ortega disse a apoiadores que a Nicarágua não é propriedade privada.

O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, pediu o fim da repressão. “Pedimos ao Estado que detenha a violência. Só a justiça, a partir da identificação dos mais altos responsáveis desses fatos, deterá a violência.”

Os EUA também condenaram a violência do governo. “Os violadores dos direitos humanos serão responsabilizados pela comunidade internacional”, disse a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert.

A igreja é a mediadora do diálogo entre Ortega e a oposição. A repressão ao movimento, que começou em abril com estudantes e trabalhadores contrários a uma reforma da previdência, revogada por Ortega, já deixou 98 mortos.

Com o aumento da violência, as manifestações receberam o apoio do empresariado e de parte do clero, assim como se somaram pedidos como a saída de Ortega e Murillo do poder —o líder está no comando do país desde 2007.

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