O presidente Donald Trump tentou uma abordagem revolucionária com relação à Coreia do Norte: apostou que seu talento e charme como negociador, em um encontro com Kim Jong-un, lograriam o que nenhum presidente ou diplomata americano ousou tentar nos 65 anos desde que um armistício inquieto vigora na península Coreana.
Foi uma tentativa ousada e inovadora, e valia a pena fazê-la: combinar os objetivos de um tratado de paz e de uma erradicação do arsenal nuclear norte-coreano, que já se tornou substancial.
O fato de que a tentativa tenha fracassado na quinta-feira antes de avançar muito, porém, mostra como os dois homens envolvidos se compreendiam mal e como sua retórica e suas demandas agressivas ecoavam, em Washington e Pyongyang.
Trump abordou o norte-coreano como se ele fosse um empresário imobiliário rival barganhando o preço de um ativo —e presumiu que, no final, Kim estaria disposto a ceder em troca da promessa de futura prosperidade.
Por isso, começou com ameaças de "fogo e fúria", depois passou a recorrer a iniciativas apresentadas de surpresa e por fim passou a lisonjear sem motivo um dos ditadores mais brutais do planeta.
Mas já estava se tornando claro para Trump e sua equipe que as técnicas imobiliárias não se se aplicariam com facilidade a negociações sobre armas nucleares.
Kim precisa de dinheiro, investimento e tecnologia, com certeza. Porém, mais que isso, precisa convencer a elite norte-coreana de que não abriu mão da única forma de segurança que está sob seu controle exclusivo —o patrimônio nuclear de seu pai e avô.
Outras complicações impediram que as negociações avançassem o bastante, como o fato de que, em ambas as capitais, havia forças fortemente interessadas em um fracasso.
Os criadores das forças nucleares e de mísseis da Coreia do Norte são a verdadeira elite do país, celebrados como heróis que permitem aos norte-coreanos resistir aos EUA. O fim de seu arsenal seria uma perda de status e influência.
Quando Trump enviou um de seus assessores a Singapura, uma semana atrás, para uma reunião previamente agendada, os norte-coreanos não compareceram. Na semana passada, eles deixaram até mesmo de atender o telefone.
A Coreia do Norte também tem suas queixas. Depois que Trump aceitou a oferta de Kim de uma reunião, ele substituiu seu assessor de Segurança Nacional por John Bolton, que poucos meses antes havia publicado o ensaio "Os Argumentos Legais para Atacar Primeiro a Coreia do Norte".
Nada disso significa que as iniciativas em relação à Coreia do Norte estejam completamente mortas.
O problema maior é que os EUA e a Coreia do Norte jamais se entenderam quanto a qual deveria ser o objetivo da negociação. Trump, Bolton e o secretário de Estado, Mike Pompeo, tinham uma visão: o que eles chamavam de "desnuclearização completa, verificável e irreversível".
Mas era uma posição unilateral —jamais mencionaram a possibilidade de que os EUA também tivessem de ceder.
Kim também usou a palavra "desnuclearização", mas o que parecia estar propondo era mais parecido com um acordo de controle de armas.
Ele estaria disposto a abrir mão de parte de seu arsenal, mas apenas se os Estados Unidos retirassem seus soldados da Coreia do Sul e abrissem mão gradualmente de sua capacidade de ameaçar a Coreia do Norte.
Trump, é claro, falava sobre o abandono de todas as armas de uma vez —antes de admitir, nos últimos dias, que talvez estivesse disposto a tentar uma abordagem mais gradual.
Mas isso provavelmente veio tarde demais.
Idas e vindas entre EUA e Coreia do Norte
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