Descrição de chapéu Coreia do Norte

Centro de teste nuclear norte-coreano começou a ser fechado, indicam imagens

Satélites apontam que ditador está cumprindo promessa feita em reunião com a Coreia do Sul

Pessoas em Seul (Coreia do Sul) acompanham pela TV lançamento de míssil norte-coreano
Pessoas em Seul (Coreia do Sul) acompanham pela TV lançamento de míssil norte-coreano - Ahn Young-joon - 29.jul.2017/Associated Press
Anna Fifield Adam Taylor
Tóquio | Washington Post

Coreia do Norte pode estar tomando medidas preliminares para fechar seu centro de testes nucleares, segundo novas imagens de satélite que sugerem que Kim Jong Un talvez esteja cumprindo uma das promessas surpreendentes que fez no último mês. 

Ou ele quer que o resto do mundo pense que a está cumprindo, com uma representação para os satélites que passam acima.

As imagens feitas depois da cúpula intercoreana no mês passado mostram uma redução constante do número de prédios em torno do centro conhecido de testes nucleares da Coreia do Norte sob o monte Mantap, na região de Punggye-ri, no norte do país. 

"No mínimo é um gesto de relações-públicas bem-vindo", disse Jeffrey Lewis, chefe do programa de Ásia Oriental no Centro James Martin para Estudos de Não Proliferação em Monterey, na Califórnia (EUA).

"Nas últimas duas semanas, cinco ou seis prédios caíram inexplicavelmente", disse Lewis, citando imagens de satélites comerciais da firma de San Francisco Planet Labs, que têm uma resolução comparável aos mapas do Google. "Algo está claramente acontecendo lá."

Como parte da extraordinária reaproximação atual, a Coreia do Norte prometeu neste mês desmontar o centro de testes, onde ocorreram suas seis detonações nucleares. Mas, assim como tantas coisas relativas à Coreia do Norte, é difícil dizer o quanto é verdade.

Kim fez a promessa durante uma cúpula histórica com o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, que depositou as bases para uma reunião entre Kim e o presidente Donald Trump que ocorrerá no próximo mês

O ditador disse que convidaria especialistas em segurança e jornalistas a seu país para observar o fechamento do local, segundo a Casa Azul, sede da presidência da Coreia do Sul.

Os seis testes nucleares da Coreia do Norte ocorreram no subsolo da montanha em Punggye-ri, com cinco deles no complexo de túneis acessados por uma entrada conhecida como portal norte. Há duas outras entradas para o local, os portais oeste e sul. 

O último teste, em setembro do ano passado, foi tão grande que alguns especialistas questionaram se o monte Mantap estaria sofrendo a "síndrome da montanha cansada" e se tornara inútil.

Mas diversos especialistas nucleares duvidaram dessa teoria, comentando que, mesmo que os túneis que levam ao portal norte ficassem inutilizáveis, as outras duas entradas poderiam estar operacionais.

A escavação de túneis e atividades no portal oeste foram visíveis até 20 de abril, uma semana antes da cúpula entre as duas Coreias, segundo uma análise do 38 North, website dedicado à Coreia do Norte. 

Há núcleos de prédios nos portais, incluindo edifícios administrativos e um centro de comando, assim como prédios menores. Os edifícios grandes e principais continuam lá, mas os menores, mais periféricos, nos portais norte e sul, as entradas para os túneis principais, foram derrubados, segundo Lewis.

Isso pode fazer parte dos preparativos para convidar jornalistas e especialistas para assistir ao fechamento do centro, que, segundo Lewis, poderá ser simples —e reversível—, como bloquear os portais. 

"Fechar o centro de testes é algo que eles podem fazer facilmente. São apenas túneis, por isso eles podem selar as entradas —mas também podem reabri-las", disse Lewis. "E os túneis sempre estarão lá", acrescentou, a menos que a Coreia do Norte exploda todo o local. 

Mas analistas que querem ser otimistas sobre o processo diplomático dizem que declarar o centro acabado e dar alguns passos para fechá-lo confirmaria a teoria deles de que Kim está fazendo um esforço, como a libertação nesta semana de três americanos que estavam detidos na Coreia do Norte. 

Mas os céticos dizem que fechar um centro de testes que pode estar inutilizado é apenas uma medida cosmética. 

Um grupo de cientistas chineses disse no mês passado que acreditam que o centro de testes desmoronou depois do enorme teste em setembro, que causou um terremoto tão grande que os satélites captaram imagens da montanha realmente se movendo.

A Coreia do Norte afirmou ter detonado uma bomba de hidrogênio, que seria exponencialmente mais poderosa que os dispositivos atômicos testados anteriormente, e especialistas dizem que o tamanho do terremoto sugere que foi de fato uma explosão de hidrogênio, ou termonuclear.

Acrescentando-se à teoria de que o centro superou sua validade, uma nova pesquisa de cientistas do Observatório da Terra de Cingapura, na Universidade Técnica Nanyang, afirma ter encontrado evidências de que os danos no monte Mantap foram mais substanciais do que sugerem outras pesquisas.

Em seu estudo, que foi publicado no site da Science nesta quinta-feira (10), eles afirmam que usando imagens de satélites para complementar leituras sismológicas baseadas em terra eles puderam obter uma imagem mais precisa do teste de 3 de setembro. 

Sylvain Barbot, um pesquisador do Observatório da Terra de Cingapura, escreveu em um email que o teste nuclear no ano passado foi tão grande que "pudemos 'senti-lo' do espaço".

A quantidade de abalos que acompanharam a explosão foi tão grave que as medições tradicionais de radares foram imprecisas, de acordo com Barbot, e sua equipe teve de usar técnicas incomuns para compensar alterações significativas na paisagem.

Usando essas técnicas, os pesquisadores puderam calcular a profundidade da detonação nuclear: cerca de 450 metros abaixo do topo do monte Mantap. Os pesquisadores então combinaram essa informação com leituras sismológicas para chegar a uma carga estimada da arma entre 120 quilotons e 304 quilotons.

Esse número seria muito maior do que as estimativas das autoridades dos EUA e da Coreia do Sul. 

Os pesquisadores também encontraram evidências de que uma parte importante do monte Mantap desmoronou depois da explosão, apoiando o estudo chinês. Uma parte "muito grande" da instalação tinha desabado, disse Barbot, "não apenas um ou dois túneis".

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