Centro judeu é alvo de tentativa de incêndio e pichações pró-palestinos no RS

Prédio em Pelotas teve vidros e azulejos quebrados; local já havia sido atacado há duas semanas

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Parede de prédio de muro branco na parte alta e lilás abaixo das janelas, cujas esquadrias são decoradas com a estrela de Davi; na parte lilás, a seguinte expressão em tinta preta: "A Intifada é internacional"
Fachada do Centro Israelita de Pelotas aparece pichada com mensagens pró-palestina no mesmo dia em que foi alvo de princípio de incêndio - Hélio Freitag Jr./ Diário da Manhã/Folhapress
Porto Alegre

O Centro Israelita de Pelotas, a 270 km de Porto Alegre, amanheceu com pichações e sinais de incêndio, nesta quinta-feira (17). Nas paredes estavam dizeres como “Palestina Livre” e “pacto de paz é um fracasso”.

O prédio, que também abriga a sinagoga da cidade, teve vidros e azulejos quebrados, a lateral e a porta de ferro da entrada atingidas parcialmente pelo fogo. 

O Centro Israelita registrou um boletim de ocorrência. A ação está sendo investigada pela Polícia Civil, em Pelotas. Esse foi o quinto ato de vandalismo no local desde novembro do ano passado.

O primeiro deles envolveu tentativa de incêndio ao prédio que a entidade ocupa há cerca de 90 anos. A última ação ocorreu há duas semanas, quando a sede foi pichada com as mesmas frases e “Lula livre”. 

O conselheiro do Centro, Simon Albert, 82, diz que a caligrafia das pichações indica que elas podem ter sido feitas pelo mesmo autor. Como a região não possui câmeras de segurança, a identificação dos responsáveis se tornou mais difícil. Ele diz que, como toda a cidade tem pichações do gênero, era questão de tempo até algo acontecer na sede do CIP. 

“Com fogo [nesta madrugada] a coisa ficou mais complicada. É perigoso, nosso prédio é um prédio antigo. O volume de gasolina deve ter sido pequeno, mas poderia ter pegado prédios antigos, próximos ao nosso. A casa ao lado é um [imóvel] residencial”, diz ele. 

Segundo Albert, em Pelotas as religiões sempre conviveram bem. Ele conta que um de seus filhos trabalha para a empresa de um palestino na cidade e ele mesmo faz parte de um grupo de caridade ligado à Igreja Católica. O número de judeus na cidade é pequeno, cerca de 80 pessoas. 

“Acho que é obra de um grupo de radicais, sensibilizados pela questão do Oriente Médio, mas são idiotas. Radicais de um lado ou de outro são idiotas. Não acredito que quem fez isso tenha contato com a comunidade palestina daqui. Foi uma coisa mais política, não por questões religiosas”, afirma. 

O Rio Grande do Sul possui uma comunidade de cerca de 11 mil judeus, segundo a Federação Israelita gaúcha. É a terceira maior do país, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro.

Para o presidente da entidade, Zalmir Chwartzmann, 67, o ato desta semana teve conotação de um atentado terrorista, por ter sido realizado em um local de oração, a sinagoga da cidade. 

“O conflito do Oriente Médio terá que ser resolvido no Oriente Médio. A comunidade judaica brasileira tem se pautado, desde sempre, por não aceitar e entender que é errado importar o conflito para o Brasil", diz ele.

"A forma que a gente pode ajudar é mostrando que é possível conviver em paz e respeitar as diferenças. Certamente, com esse tipo de atitude, essas pessoas não contribuem em nada e só permitem que o ódio aflore”.

Na terça (15), a comunidade palestina lembrou o “Nakba”, o êxodo forçado em massa de palestinos para criação do Estado de Israel, em 1948. Em árabe, a palavra significa “catástrofe”. 

Um dia antes, mais de 50 palestinos foram mortos pelo Exército israelense em protestos contra transferência da embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém.

No Rio Grande do Sul, a comunidade palestina conta com cerca de 30 mil pessoas. Uma das maiores do país. Em Pelotas, são apenas 200. O presidente da Federação Árabe Palestina no Brasil, Elayyan Aladdin, 40, se disse “surpreso” com a notícia do ataque. 

“Nós condenamos essa prática e qualquer tipo de violência, isso é profanação de local sagrado. Nunca houve por parte da nossa comunidade esse tipo de crime", disse.

"Porém, é algo que tem se tornado recorrente em todo o mundo, quando Israel comete crimes bárbaros, para procurar desviar a atenção. O que importa é o que está acontecendo no território de Gaza, a resposta criminosa de Israel e o assassinato de crianças”. 

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