Empresas europeias devem cancelar bilhões em contratos com o Irã

Aéreas e montadoras tinham negócios bilionários que devem ser atingidos por sanções

Washington e Frankfurt | Associated Press e The New York Times

Grandes empresas, em especial europeias, devem ter negócios de bilhões de dólares cancelados com a decisão dos Estados Unidos de retomar as sanções contra o Irã, após o presidente Donald Trump anunciar a saída de seu país do acordo nuclear.

Ainda há dúvidas sobre o potencial impacto da volta dos bloqueios, já que existe a possibilidade de renegociações e de isenções, dizem especialistas. Mas os EUA prometem punir empresas de outros países que façam negócios com o regime, mesmo que os outros países que fazem parte do acordo nuclear —Reino Unido, França, Alemanha, Rússia e China, além do Irã— tenham afirmado que vão continuar a honrar o pacto.

Autoridades europeias vão buscar formas de proteger os investimentos de empresas europeias no Irã, país de 82 milhões cujas oportunidades de negócios atraíram diversas empresas interessadas em crescer globalmente. As exportações da União Europeia para o Irã cresceram cerca de 30% no ano passado para US$ 12,8 bilhões (cerca de R$ 46 bilhões), mas o país não é um parceiro comercial importante do bloco.

As empresas americanas tinham menos negócios com o país, já que algumas sanções ainda impediam certos contratos, além de haver dificuldades com financiamento devido a sanções financeiras e medo de que o acordo não durasse.

A resposta dos EUA sobre possíveis isenções, até agora, não tem sido encorajadora. "As empresas alemãs que fazem negócios com o Irã têm que cancelá-los imediatamente", disse, por exemplo, o embaixador americano em Berlim, Richard Grenell.

Companhias e países que têm contratos comerciais com o Irã teriam entre 90 e 180 dias para encerrar essas atividades, dependendo do setor e do tipo de produto, segundo o Tesouro dos EUA, e não podem assinar novos contratos.

Desde a assinatura do acordo nuclear com o Irã em 2015, foram principalmente empresas europeias que fizeram negócios ou investimentos no Irã. "As sanções dos EUA praticamente não atingem nenhuma empresa americana, mas atingem empresas europeias", disse Carl Bildt, ex-primeiro-ministro sueco e hoje co-presidente do Conselho Europeu de Relações Exteriores. 

CARROS E AVIÕES

Entre as empresas americanas, a Boeing foi quem assinou os maiores contratos com o Irã. O secretário do Tesouro dos EUA, Steve Mnuchin, disse nesta terça-feira (8) que as licenças existentes da Boeing e de sua rival europeia, a Airbus, para esse tipo de contrato perderiam a validade.

A Airbus assinou um contrato com a estatal iraniana IranAir em 2016 para fornecer cem aviões à aérea, por um preço de tabela de US$ 19 bilhões (cerca de R$ 68 bilhões). Já a Boeing acertou a venda de 80 aviões à IranAir pelo preço de tabela de US$ 17 bilhões (cerca de R$ 61 bilhões), com entrega a partir de 2017, até 2025. A empresa americana também acertou a venda de 30 aeronaves à Aseman Airlines, com preço de tabela de US$ 3 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões).

A Boeing ainda não entregou nenhum avião ao Irã; a empresa afirmou que vai "continuar a seguir a liderança do governo americano".

A Airbus, que também precisa de licença dos EUA porque faz ao menos 10% dos componentes de seus aviões no país, disse que vai obedecer às sanções americanas mas que precisa de tempo para determinar o impacto das novas regras. A fabricante já entregou dois A330-200 e um A321 ao Irã.

As sanções também vão limitar as exportações de petróleo pelo Irã, que hoje é o quinto maior produtor do mundo. Os EUA afirmaram que darão 180 dias para o encerramento dos contratos atuais e que os países têm que fazer "reduções significativas" de suas compras do Irã, mas o Tesouro não deu detalhes do que seriam essas reduções. 

A francesa Total foi a petroleira que mais se movimentou para voltar a fazer negócios com o Irã; a empresa assinou no ano passado um contrato de US$ 5 bilhões (cerca de R$ 18 bilhões) no país. 

A montadora francesa PSA Peugeot Citroën anunciou em 2016 que abriria uma fábrica no Irã para produzir 200 mil carros ao ano; a companhia diz que está estudando os impactos da decisão americana. Já a Renault assinou um contrato para produzir 150 mil veículos ao ano perto de Teerã, em um negócio de US$ 778 milhões (cerca de R$ 2,8 bilhões); a montadora não comentou sobre as sanções.

A Daimler e a Siemens também têm projetos no Irã. Segundo especialistas, porém, o impacto financeiro para as montadoras não deve ser significativo; a decisão de investir no Irã era mais baseada no potencial de crescimento do país.

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