Freira pede fim de prisões políticas nas Filipinas e agora deve ser expulsa

Australiana Patricia Fox está há mais de 27 anos no país de maioria católica

Rafael Gregorio
São Paulo

O governo das Filipinas cancelou o visto da freira australiana Patricia Fox, 71, abriu um processo contra ela e deu à religiosa um ultimato para que deixe o país em até 30 dias.

A freira australiana Patricia Fox em Manila
A freira australiana Patricia Fox em Manila - Noel Celis - 4.mai.18/AFP

O motivo: foi fotografada em Davao, no sul do país, durante protesto que pedia o fim das prisões políticas. 

Fox segurava um cartaz onde se lia “Libertem todos os presos políticos”. Por causa disso, foi detida por 24 horas, no mês passado, e interrogada pelo Departamento de Imigração.

Desde então, a freira foi classificada como “estrangeira indesejada” pelo presidente Rodrigo Duterte, que a acusa de “envolvimento em atividades político-partidárias”.

A missionária está há mais de 27 anos no país de maioria católica, onde coordena a congregação Notre Dame de Sion, que, entre outras atividades, dá treinamento e suporte a pequenos agricultores.

“É parte da minha missão me posicionar ao lado daqueles cujos direitos humanos são violados”, afirmou à rede australiana ABC TV.

Ela se disse triste com a expulsão, da qual diz ter tomado conhecimento pela imprensa, e declarou que ainda tem esperanças de que o governo reconsidere a decisão.

Acusado de sistemáticas violações a direitos humanos, Duterte ordenou investigação contra a freira por “conduta desordeira”. Ele defendeu a legalidade das ações e chamou a participação dela em atos de “violação de soberania”.

“Você não tem esse direito de nos criticar. Não insulte o meu país”, afirmou.

Em discurso a militares durante o qual chegou a dizer que “o Deus dela não é o meu Deus”, Duterte falou: “Nunca criticamos a Austrália. Por que você não critica seu próprio governo, a forma como lida com refugiados, deixando-os famintos e depois jogando-os em alto-mar?”.

Já o porta-voz do presidente disse que será preciso pedir desculpas à freira por ela ter sido tirada de sua casa à força para depor. “Claramente houve um erro”, disse Harry Roque.

O advogado de Fox, Jobert Pahilga, disse que vai recorrer da decisão de expulsá-la: “Ela não participou de atividade partidária; é uma freira”.

A campanha contra Fox motivou protestos pelo país. O grupo de esquerda Bayan (nação, em português) condenou o ultimato e lembrou os serviços prestados pela freira por quase três décadas.

“O regime de Duterte é paranoico e tem medo de uma religiosa idosa que defende justiça social e direitos humanos para os pobres”, afirmou o líder do Bayan, Renato Reyes.

Desde que assumiu a Presidência, em 2016, Duterte comanda campanha antidrogas que soma acusações de assassinatos por milícias, além de outras violações a direitos humanos e garantias judiciais.

Ele também se tornou notório por declarações estimulando violência contra os críticos de seu governo.

Em 2017, por exemplo, o presidente encorajou policiais a disparar em ativistas de direitos humanos “caso eles obstruam a Justiça”.

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